Monday, January 31, 2005

Moreirense - Benfica: "A Bola"

Dado que a minha vida académica não me deixou ir a Guimarães (mais um argumento para eu voltar a pensar na mudança do título deste blog para “Diário de um Adepto”), a crónica do jogo de sábado será sobre outro acontecimento de sábado: os 60 anos d`”A Bola”.
Hoje não compro jornais desportivos. Não só por poder lê-los online, mas porque a minha confiança nos jornalistas é quase nula. Mas a minha relação com “A Bola” é diferente.
Aprendi a ler com este jornal. Lembro-me de que me levantava mais cedo aos fins de semana e lá ia eu ao quiosque perto de minha casa comprar “A Bola” ainda no formato antigo e voltava a lê-la (imaginem um miúdo a ler “A Bola” em formato antigo…) sem olhar para a estrada e a correr o risco de ser atropelado na única rua que tinha que atravessar. “A Bola” só saía aos fins de semana, segunda e quinta (porque as jornadas europeias eram só às quartas) e nesses dias adorava ficar a ler aquilo com o meu Pai, e passava horas a chatear o coitado para ele me explicar o que é que “esta palavra“queria dizer.
Lembro-me bastante bem de quando saiu a primeira edição a cores e de quando o formato mudou. Se a primeira mudança não me chateou muito, a segunda foi um tiro no coração. Eu adorava aquele jornal enorme que sempre tinha sido maior do que eu. Lembro-me de o ler no chão porque era a única maneira de não o amarfanhar todo. Mal percebi eu que essa mudança foi só mais uma na caminhada para o podre futebol moderno dos dias de hoje.
E assim como cresci com o Benfica, lembro-me de crescer com “A Bola” que ia comprar religiosamente para dar ao meu Pai enquanto ele ainda dormia (aos fins de semana) ou para quando ele estivesse a voltar do trabalho. Foi n` ”A Bola” que eu li que o Paulo Sousa tinha saído para os lagartos e foi “A Bola” que eu comprei depois de darmos meia dúzia em Alvalade.
Lembro-me muito bem de usar “A Bola” para quando jogava Subutteo saber os onzes titulares de todas as equipas.
Quando no sábado, me levantei mais cedo e fui para o café estudar, tive um “flash”e comprei o velho jornal. Nem sabia que fazia 60 anos. Li a (fabulosa) entrevista a José Mourinho e apercebi-me que se há recordação que eu tenho do Futebol Paixão (como tão bem descreve o G. na zine dos Diabos) é este jornal. São as crónicas do Duda Guenes e o “Barba e Cabelo”. Tenho é pena que este veículo anti-fascista pré-25 de Abril não seja agora também um veículo anti-Futebol Moderno. Até porque os seus fundadores são mitos do Futebol português, e a bola que está atrás do “A” de “A Bola” é hoje, para nós, Adeptos, um símbolo contra o futebol moderno.

Friday, January 28, 2005

Benfica - lagartos: Sou do Benfica e isso me envaidece!...

"Epá não acredito. Dois derbies em 20 dias... Não... Não! Tudo menos isto! Aqueles cabrões só cantam a ganhar... Amanhã vou ser tão massacrado. E aquele Paíto que nunca há-de ser ninguém na vida a marcar aquele golo... Que merda." - Todos os meus pensamentos eram isto. A vida, depois daquele do 2-3 lagarto pareceu-me um inferno. Não era possível. Não podia ser verdade. O derby mais espectacular, o derby que ia ser mais lembrado nos próximos 5 anos não podia ser deles. Não. Não no nosso estádio, não na nossa casa...
Um puto atrás de mim (que não falha um jogo em casa e passa a vida a cantar, frenético e cheio de Benfiquismo...) diz: "E se cantássemos pelo Fehér? Marcávamos de certeza."
No megafone, começou o "Miki Fehéeer!" Ainda nem tínhamos acabado de bater as palmas a compasso e o Simão enche o pé. Toma. Lá para dentro.
"GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLOOOOOOOOOOOOOO!!!! TOMA CARALHO! TOMA! TOMEM SEUS FILHOS DA PUTA!!!"
A Luz ia vindo abaixo. Eu ainda olhei para o miúdo com ar incrédulo, abracei-o e disse-lhe: "És o maior!!" Olhámos para o lado e as cabeças dos lagartos pareciam querer explodir. Já não bastava a boca dos Calipos (Ahahahaha!!!), agora isto. Naquele momento, tive a certeza absoluta que íamos ganhar. Não podia ser de outra maneira. O Mundo só fazia sentido assim. Um jogo daqueles só podia acabar connosco a ganhar. Porque nós somos o Benfica e eles são o sporting. Porque nestes momentos, em que o derbies são mais empolgantes, em que parece que o destino do Universo se vai decidir ali (e a emoção deste jogo foi tão grande que parecia que todas as nossas vidas futuras se decidiriam ali...), é obrigatório o Benfica ganhar. É natural. É o rumo natural da coisa. Porque nós somos o Benfica e eles são o sporting. Porque eles nasceram para pensar que aquilo já estava no papo e nós nascemos para lhes fazer que não. Porque a nossa existência (sobretudo em derbies que mais parecem finais do campeonato do Mundo) há-se sempre oprimir a deles.
Este derby foi simbólico. Porque foi o mais emotivo, porque entrou para a história do futebol português, porque teve golos, expulsões, reviravoltas, tudo. Ganhar este derby era ganhar O derby. Daí que nos tenha sabido tão bem. Daí o festejo prolongado, os gritos de vitória (quando só passámos uma eliminatória na Taça....). Porque por muito que alguém se recorde deste jogo como "empolgante", "emocionante", nós vamos sempre recordá-lo como o derby fantástico que nós ganhámos quando os lagartos já cantavam vitória. Este foi um super derby, e representativo da magia desta rivalidade porque o Benfica ganhou.
Perguntaram-me (inocentes...) amigos meus, se o sporting tivesse ganho se eu estava satisfeito com o jogo. Obviamente que não. Antes ganhar 1-0 com um golo de merda a perder um derby tão espectacular como aqueles. Mas melhor, melhor, é ganhá-los assim.

Quando o Miguel Garcia falhou o penalty nem festejei tanto como no terceiro golo. Era a sequência natural do milagre que aquele miúdo protagonizou. Tchau sporting. Obrigado rapazes por terem lutado. Oxalá fosse sempre assim.

Cheguei a casa e parecia que não tinha feito o caminho a pé. Parecia que tinha voad0, de tão feliz que estava. A felicidade era imensa. De vez em quando deixava escapar uma gargalhada ao rever o golo do Simão. Tão lindo....
Sou do Benfica e isso me envaidece.....

Sunday, January 23, 2005

Benfica - Beira Mar: 100 anos merecem mais.

100 anos de história merecem mais respeito.
100 anos de história obrigam a empenho todos os treinos, todos os jogos.
100 anos de história exigem que se honre a vénia que se faz ao público todos os jogos.
100 anos de história convidam à raça e ao orgulho em ser Benfiquista.
100 anos de história vivemo-los nós, os adeptos Benfiquistas, todos os dias.
Não os gozem, não brinquem com eles, não tentem vê-los (ou jogá-los) como se fossem de uma camisola qualquer.


Saturday, January 22, 2005

O Futebol é de 1 a 11

Li hoje no Record mais uma crónica do Sr. João Gobern. O Sr. João Gobern é um jornalista que tem, no fim das suas crónicas, uma agradável parte: coloca excertos de livros de futebol. Ora a parte agradável é mesmo esta: não é ele que escreve esta parte. Mas como não há bela sem senão, o sr. Gobern usa estes bons excertos como armas de moralidade de arremesso e, num rasgo de vaidade (deve imaginar que foi ele que escreveu os ditos excertos), dedica-os a alguém do futebol português.
Hoje o Sr.Gobern dedica novamente um excerto às claques portuguesas. Um excerto moralista, obviamente. Fala de claques que não se insultam, etc. Mal sabe eu que a parte que mais gostei foi do facto das bandeiras serem feitas pela claque. Mas adiante. O Sr.Gobern, do alto do seu estatuto de cronista, com direito de opinião, mas sem o dever da resposta (porque as três vezes que já escrevi para aquele jornal não mereceram contra-resposta), lá mandou, de fininho, a célebre boca: "As claques portuguesas só insultam e dizem palavrões."

Há tempos tive neste blog a muito boa publicidade do blog Velho Estilo (http://velhoestilo.blogspot.com). É um excelente blog, feito por alguém que sabe disto e que tem como palavra de ordem "Não ao Futebol Moderno!". Na minha modesta opinião, esta sim, é a grande luta das claques. É a palavra de ordem em Itália e tem que ser em Portugal. Para calarmos os Goberns e Cartaxanas e mostrarmos que o Futebol é dos Adeptos.
Ora, neste blog, há dias, estava um óptimo post, lembrando o Futebol quando este era de 1 a 11. O blog Velho Estilo nunca terá a "tiragem" da crónica do Sr. Gobern, mas ao menos é mais útil. Porque eu acho mais grave o Futebol estar vendido a interesses políticos e económicos do que as claques se insultarem (e quando os adeptos deixarem de se insultar, o futebol será mesmo uma NBA qualquer...).

Dedicado ao blog Velho Estilo (pelas boas razões) e ao Sr. João Gobern, deixo este excerto do livro "Cuentos de Futbol", em que um treinador de uma equipa das distritais distribui as camisolas aos jogadores. De 1 a 11, claro está.
"O número 1, Sebas. Sebas, não te troco porque os guarda-redes são fixos - uma mania que nós, treinadores, temos. Só te peço que não metas dentro as que vão fora. O 2, Cordón. A centrar lá em cima e a dar porrada cá em baixo. Cuidado com os cartões! 3, Idiaquez. Esta titularidade é como se tivesse saído a lotaria! Vamos ver se não acabo o jogo a chamar-te Idiotez. Já nem sei se és canhoto ou se é o pé esquerdo que é pior que o direito...
4, Galler. Mostra autoridade! Por isso é que és o capitão! Se se tem que falar com o árbitro vais tu e nada de palavras feias! Porque nós somos uma equipa de cavalheiros, não somos como estes merdas que se houvesse justiça no Mundo jogavam no meio do lixo, com as moscas e os ratos. E nada de florzitas! Se há merda é chutar para a frente e toca a subir! Eles que se lembrem que há foras de jogo e que o ladrão do fiscal de linha fique com dores no braço!"

Wednesday, January 19, 2005

Benfica - Boavista: Domingos felizes

Os derbies jogam-se a toda hora, durante toda a vida. Não são só os 90 minutos de jogo, são a nossa existência inteira.
Antes do jogo tive o prazer de ver, com mais uma centena de Benfiquistas, o Nacional - lagartos, numa TV num dos corredores da Catedral da Luz. Entre incentivos aos madeirenses e palavras de ordem anti-verdes, assitimos ao 3º golo do Nacional. Foi um momento puramente cómico, porque um Benfiquista, munido daqueles rádios velhinhos, festejou o golo antes que a imagem no canal-codificado-que-estraga-o-futebol aparecesse.
Imaginem a nossa euforia, sabendo já que os lagartos iam levar um golo, e ainda tendo o prazer visual por disfrutar.
Porque os derbies se jogam toda a vida e a toda a hora, naquele momento ganhámo-lo bem.
(Disse Berlusconi - na sua única tirada de jeito a vida inteira - "Os meus domingos de infância eram mais felizes quando o Milan ganhava e o Inter perdia." Os derbies jogam-se em todo o lado, a todo o momento...)

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O jogo foi perfeito. 4 golos à equipa que joga o pior futebol de sempre, com direito ao regresso de Pedro Mantorras e tudo.
O estádio a aderir à festa, os jogadores a mostrarem que estavam unidos, as coisas a sairem todas bem. Valeu mesmo a pena. Saímos todos dali bem-dispostos, felizes por sermos Benfiquistas e tão grandes.

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Sou um irrecuperável. Há uma semana andava a questionar tudo. A política de contratações, a táctica e atitude em alvalade, etc.
Bastaram 4 golos, um dia de festa e sentir aquela empatia Benfiquista para voltar a acreditar e a achar que o Mundo pode ser perfeito (leia-se: podemos ser Campeões).
Sou irrecuperável. Gosto demasiado disto para ter o espírito crítico sempre em alta. Estes domingos felizes cegam-me demais para conseguir analisar as coisas friamente. Aliás, "friamente" é uma palavra que não existe no vocabulário da maneira que eu encaro o Benfiquismo.

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Lutemos por mais domingos felizes como este.
E Pluribus Unum!

Tuesday, January 11, 2005

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O apito final dá-se e sinto aquela sensação de vazio, de negação. Parece que me arrancaram um orgão. Ver a bicharada toda a festejar fez-me sentir uma noção de irrealidade (semelhante à que tive quando os ditos bichos foram campeões 18 longos e saborosos anos depois):
- Perder aqui? Mas isso não vai contra as leis do Universo? Não há uma lei que obriga a que os lagartos percam sempre connosco cá? Eles a gozar connosco? O quê?
Depois a facada nas costas: a percepção que segunda-feira os íamos ter que aturar. A imagem dos sorrisos deles, eles à nossa frente no campeonato. Demasiado mau, estava em negação absoluta.
Mas aos poucos, regressa-me um sorriso enorme. A sério. Acordei domingo a rir-me, orgulhoso de ser Benfiquista. Recuperei a pouco e pouco, os pormenores da noite anterior que ainda agora, enquanto escrevo isto, me dão um gozo infantil.
O complexo de inferioridade deles (há que ver as caras deles quando chegamos ao estádio para sentir isto), o idiota "Fdp SLB", cântico deles e dos tripeiros (por acaso, às vezes penso que é a música cuja patente será mais discutida entre $uper e duxxi), a facilidade com que eles começavam a estrabuchar quando cantávamos "Geovanni! Geovanni!", lembrando-lhes que habitual é eles serem humilhados.
Perder um derby dói, é amargo e corrosivo, mas ao mesmo tempo fortifica-nos. Amo a maneira como eles invejam o nome BENFICA e o nosso emblema. Tremo de gozo cada vez que os vejo a ficarem nervosos, quando lhes explico, muito calmo, que o Liedson estava fora de jogo no segundo golo (só tem UM jogador à frente dele - o Petit - e consequentemente está fora de jogo.) e que mais uma vez (como o ano passado, quando o Silva se atirou para o chão...) foram beneficiados (já para não falar da expulsão do Alcides, em que o Liedson tinha que ver o segundo amarelo por se atirar para o chão...).
Enfim, resta-nos sempre esta lírica consolação, de eles darem os títulos todos deles das modalidades amadoras (aquelas coisas em que eles são bons: natação sincronizada, etc) para ter os nossos títulos.

Com o Boavista, espero que todos aqueles que tiveram o privilégio de ter bilhetes mais baratos estejam lá (ler com entoação bastante irónica e quiçá agressiva).

Abraços aos Benfiquistas e aos amigos da Curva Sud romana, também eles a braços com essa angústia que é perder com alguém de um clube pior que o nosso.

Thursday, January 06, 2005

Derby

Neste curto espaço de tempo, três capitais europeias vão parar - repito, parar - para ver os seus derbies. Roma, Lisboa e Madrid vão esquecer-se de tudo.
Eu, como Benfiquista, tenho uma relação muito especial com o nosso derby. Cresci a detestar os lagartos. Odeio aquela atitude politicamente correcta: "Temos é de ser do Benfica e cagar neles, bla, bla, bla." Não me lixem. Falava há dias com um amigo que é um louco por música, que me dizia: "Na música também é assim. É impossível alguém dizer que gosta de RadioHead e Ágata. O adorar uma coisa implica necessariamente odiar a outra." Para mim, ser do Benfica implica necessariamente odiar os lagartos (e tripeiros, mas isso agora não vem ao caso).
Portanto, este jogo é diferente. Acho que não há um derby que não me tenha marcado. Ganhar aos verdes (apesar de comum) é algo que eu não consigo deixar de apreciar. Perder é algo que eu não consigo deixar de temer. A questão da vizinhança, do território, de enfrentá-los no dia a seguir, tudo isso é um ritual bi-anual imenso e transcendente. Somos rivais até morrer.
Um episódio que define bastante bem o que é um derby é o seguinte: há três anos, fui a Sevilha ver o Derby local. No Manuel Ruiz de Lopera, um derby das mesmas cores do de Lisboa (apesar daqui eu ter uma predilecção pelos de verde) que, asseguro-vos, tem uma rivalidade transcendente. Lembro-me perfeitamente da entrada para o aquecimento dos sevillistas ter uma assobiadela ensurdecedora brutal e de como cada jogada era altamente vivida. Mas o que me lembro melhor foi de no ínicio do jogo o público começar a cantar o "Quem não salta é sevillista". O velho ao meu lado, dos seus 70 anos, levanta-se devagar, apoia-se em mim e diz-me, de forma sábia: "Antes morrer aqui de enfarte do que ser sevillista". E num esforço enorme, deu pequenos saltos a acompanhar o estádio naquele cântico de rivalidade gigante.
O derby é isto. É darmos tudo para que podermos esmagá-los. E rezar para que não seja ao contrário.
Roma, Madrid e Lisboa. Três capitais europeias com os seus cidadãos suspensos pelas artes mágicas da bola. É que a vida nestas três cidades, nos próximos meses (até ao próximo derby), vai-se reger pelo que acontecer em 90 minutos.