Wednesday, March 10, 2010

Companheira

Cresci a ver futebol com o meu Pai. Desde pequenino que foi ele o meu companheiro de bola, e é dele que herdo o meu pessimismo, o meu defensivismo. Foi ele que me explicou os sistemas tácticos básicos, foi ele que me mostrou o Valdo, o Paneira, o Rui Costa. O futebol no rádio velhinho, ligado a altos berros na sala e as equipas de Subbuteo que faziam campeonatos com vencedor antecipado.
Depois veio o TP. Farense convicto, torcia pelo Benfica na questão do vencedor do campeonato. Jogámos à bola juntos a infância inteira e foi com ele que partilhei a facada no coração que foi aquele Verão de 1993. Foi meu colega de carteira durante 9 anos seguidos e "jogávamos de olhos fechados". Hoje, quando o encontro, mesmo separados durante anos, falamos como se não nos víssemos há 5 minutos. E falamos, sobretudo, de futebol. E ainda hoje, talvez fruto de termos feito a formação futebolística juntos, temos opiniões similares. E e muito por ele, pela quantidade de vezes que fomos juntos ao S. Luís, que ainda hoje sigo os resultados do SC Farense.
Seguiram-se o D. e o F. O D. partilhou comigo as viagens a Sevilha para ver o Betis. 3 anos de viagens a falar, sem parar, de futebol. Foi a primeira pessoa com quem falei depois da saída do JVP e temos um Benfiquismo já de tal maneira telepático que, no passado domingo, deu-se o seguinte episódio: o D. foi ver o Paços para uma bancada acima da minha, mas com a possibilidade de nos vermos (percebemo-lo na 2ª parte). Trocámos uma ou duas mensagens, mas houve dois episódios em que sorri por dentro: primeiro, quando o Saviola saiu, olhei para cima e vi aquilo que já adivinhara: o D. foi o primeiro da bancada a levantar-se. Se nunca pudemos gostar do Simão pelo seu passado, se desconfiámos do Miccoli por tantas lesões, com Saviola concordámos imediatamente e partilhamos a veneração por aquele 1,68m de inteligência futebolística. E assim que vi o "30" no marcador sabia que o D. se ia levantar. O segundo foi no terceiro golo. No meio de tanta gente aos saltos, dos cachecóis no ar, olhámos ao mesmo tempo um para o outro, com uma bancada de distância com um ar: "Já está!".
Com o F. falo quase todos os dias do Benfica. Sempre falei, sempre troquei mensagens, e apesar de tantas diferenças que temos (desde o facto de ele ser gordo e eu magro, ele de direita e eu de esquerda), partilhamos de tal forma o amor pelo Benfica que precisamos, quase doentiamente, de falar sobre isso, de saber o que o outro pensa, de respeitar superstições, de querer saber que onze o outro punha a jogar. Estivemos a noite de 13 de Maio de 2005 inteira a conversar. Um dia depois, com o Benfica com o Campeonato no bolso, nem me lembro se falámos ou não. Mas sei que ele estava tão feliz como eu.
Tive vários companheiros de bola. Desde a malta da bancada, até ao R., o Benfiquista silencioso. Até que chego a ti, Catarina.
És a primeira companheira de bola que não é do Glorioso. Mais estranho, odeias o Glorioso. O que às vezes me faz olhar para ti como uma ET. Pedes falta quando claramente não é, não vês os penalties mais óbvios e refilas com árbitros, que era uma coisa que eu não acreditava ser possível, sendo tu do teu clube.
Mas, além de todas as coisas que partilhamos, és a minha nova companheira de bola. É engraçado que apesar do mundo que nos separa - eu defendo o Bem, tu o Mal - temos éne parecenças. A maneira como és a primeira a criticar os teus, o olhar perdido com que ficas quando perdes. A maneira como pedes para os adversários do Benfica não jogarem abertos (não é preciso pedires, isso nunca aconteceu) e como estás sempre a chorar das exibições de um tosco qualquer contra o teu clube (que, nos meus olhos, é o tipo que, ao contrário dos outros, não está a tentar marcar golos na própria).
Eu sempre fui um snob a ver bola. Recuso-me a discutir futebol com quem não sabe (e sim, quem estabele esses critérios sou eu). E contigo isso não acontece. Quero saber o que achas (foste tu que me mostraste que cada bola que vai à baliza do fóculporto é golo), o que é que pensas, o que é que dizes. E, por muito surreal que pareça, não é só para "conhecer o inimigo". Tens mais estádios no bolso do que eu, tens mais bola ao vivo do que eu e se nunca partilhámos o clube - excepto quando ceportém joga - partilhamos, e muito, a paixão pelo jogo.
Não tenho escrito neste blog e acho difícil vir a reabilitá-lo. Não sei se esta é a última página no diário, mas se é, que seja para ti.

9 Comments:

Anonymous JCL said...

Desilusao total dedicar o suposto ultimo post do diario ao inimigo. Terminas o teu blog da pior maneira possivel. A unica maneira que jamais podia imaginar ser possivel. Amigos(as, amigos(as), BENFICA à parte. O BENFICA é a nossa religião, por isso dediquemo-los aos nossos!

4:44 PM  
Blogger G. Viana said...

que comentário infeliz oh JCL.. o amor não escolhe cores ou clube..

finalmente escolheste uma mulher como deve ser.. :D

Uma mulher com Raça.. :D

5:16 PM  
Blogger G. Viana said...

já agora, sou leitor atento do teu blog, e sinceramente não acertamos em nada..

tu és lampião, eu sou tripeiro.. tu és betico, eu sou sevillista.. tu és farense, eu sou Lusitanista (Lusitano Futebol Clube).. só na paixão pelo futebol, e na vida ultra.. :D

abraço.

5:19 PM  
Blogger NM. said...

life is a bitch , then you die !


que final dramatico ! adorei !

n sabia é que ela tinha mais jogos que tu ahahahah

4:04 AM  
Anonymous JCL said...

G.Viana, não percebeste nada do que eu disse. Deve ser da cor desse teu clube de merda...

4:05 PM  
Anonymous Anonymous said...

espero que não seja o último post do blog.


cumps

6:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

eu tambem espero que não seja o ultimo post do blog, era uma pena acabares com isto.

3:34 PM  
Anonymous Shop Fencing said...

Like your ideas here, really creative writing. Thanks.

6:35 PM  
Anonymous Paul said...

Didn't enjoy it much but after finishing it occurred to me that it wasn't so hard really and to push myself I needed a completely different challenge.

6:23 AM  

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