Vitória - Benfica / Benfica - Liverpool: muito mais que 90 minutos (ou a analogia com as relações humanas)
É difícil escrever sobre estes dois jogos num só post. De sábado antes de almoço (partida para Guimarães) até ontem à noite, dediquei-me praticamente só ao meu clube.
E desde então tenho andado a pensar no quão diferentes somos na dedicação a um clube e na diferença que existe nessa relação para as relações humanas.
Chovia muito em Guimarães, e nem a boa disposição da viagem me tirou do espírito o mau presságio (eu não disse nada na viagem porque já tenho fama de ave de mau agoiro e quando digo que vai correr mal, normalmente corre mesmo). Chovia mesmo muito.
11 homens perdidos em campo (especialmente na primeira parte) e um jogo que parecia auto-intitular-se "Crónica de uma morte anunciada". Mesmo com os erros de arbitragem, há que dizer que perdemos e perdemos bem. Há uma bola em que o Nuno Gomes demora mais tempo a chutar do que o defesa do Vitória - que estava bem longe - a chegar lá de carrinho. A diferença estava no querer, no acreditar. E eles acreditaram muito mais que nós.
E nós, mesmo gelados pelo frio, pela má exibição, pela chuva... Cantávamos. Poucos, mas cantávamos.
E não há ninguém, mas mesmo ninguém, que diga - com orgulho e sem choros - "Amo-te" quando o outro/a termina a relação ou lance outra disussão estúpida. Mas nós não. Nós continuámos a cantar, a levantar o cachecol, a acreditar.
A dedicação nos momentos difíceis é uma raridade nas relações humanas. No Mundo Ultra, é a génese de tudo.
Depois saímos, tivémos uns"imbróglios" cá fora, que me vou abster de comentar porque durante os dois dias de pinturas para o Liverpool ouvi as mesmas histórias 500 vezes e já quase que pedia que fosse numa língua diferente (e como a maioria dos meus leitores também lá esteve, não vamos repetir as mesmas piadas, boa?). Jantámos, rimos muito, cantámos no carro como se tivéssemos ganho e seguiu-se um "Velho Estilo Quiz Tour" (o T. e eu já somos dois doentes reconhecidos, mas o N. revelou-se uma agradável surpresa, com bom domínio dos mercados orientais e africano ("Quem era o guarda redes titular dos Camarões no Itália 90?"), entre muitas gargalhadas e muitos "EIX! POIS ERA! ESSE FOI AQUELE GAJO QUE...".
Nas relações humanas, após as discussões - ou derrotas - guardam-se remorsos, que depois se atiram à cara quando a coisa volta a correr mal. Nós, os que amamos o nosso clube, a seguir a uma derrota, cantamos mais. E a seguir a outra, mais ainda.
Depois fomos pintar. Dois dias de tintas, do lençol, de música a tocar naquela rádio, de mais perguntas estilo Trivial Pursuit ("Quem eram os três estrangeiros do Padova em 94/95?" Esta foi demente, porque quatro pessoas no pavilhão (onde me incluo) chegaram lá.) e de dedicação ao Benfica.
Quem é que pinta uma prenda dois dias depois de ser traído?
Luz, a meio da semana. Há magia naquele estádio nestes dias. O pano sobe e vemos o trabalho de dois dias subir e descer em menos de um minuto. Mas ninguém sequer pensa no assunto, queremos é ganhar.
Ao contrário do que se passa nas relações, não queremos saber se temos ou não na razão naquele ponto ou quem é que esteve mal quando aquilo aconteceu. Só queremos que a coisa bem ao clube, trocamos todas as nossas coreografias por golos.
Petit. Luisão. E o salto que eu dei. E tudo vale mesmo a pena se a alma é Benfiquista.
Não, estes itálicos não são dedicados a nenhuma rapariga, são só o resultado de várias discussões mentais comigo mesmo.
Quem não anda nisto acha-nos doentes, acha que quem faz isto por um clube não é capaz de ser assim para alguém. Mentira, somos. Mas os amores humanos são isso mesmo, humanos. Finitos, trágicos. José Luís Pacheco (posso estar a enganar-me no nome) diz que "as únicas histórias de amor felizes são as que ainda não terminaram".
No futebol, a relação é inevitavelmente feliz. É que mesmo que a glória nos possa fugir, momentos como o golo do Luisão são infinitos.
E desde então tenho andado a pensar no quão diferentes somos na dedicação a um clube e na diferença que existe nessa relação para as relações humanas.
Chovia muito em Guimarães, e nem a boa disposição da viagem me tirou do espírito o mau presságio (eu não disse nada na viagem porque já tenho fama de ave de mau agoiro e quando digo que vai correr mal, normalmente corre mesmo). Chovia mesmo muito.
11 homens perdidos em campo (especialmente na primeira parte) e um jogo que parecia auto-intitular-se "Crónica de uma morte anunciada". Mesmo com os erros de arbitragem, há que dizer que perdemos e perdemos bem. Há uma bola em que o Nuno Gomes demora mais tempo a chutar do que o defesa do Vitória - que estava bem longe - a chegar lá de carrinho. A diferença estava no querer, no acreditar. E eles acreditaram muito mais que nós.
E nós, mesmo gelados pelo frio, pela má exibição, pela chuva... Cantávamos. Poucos, mas cantávamos.
E não há ninguém, mas mesmo ninguém, que diga - com orgulho e sem choros - "Amo-te" quando o outro/a termina a relação ou lance outra disussão estúpida. Mas nós não. Nós continuámos a cantar, a levantar o cachecol, a acreditar.
A dedicação nos momentos difíceis é uma raridade nas relações humanas. No Mundo Ultra, é a génese de tudo.
Depois saímos, tivémos uns"imbróglios" cá fora, que me vou abster de comentar porque durante os dois dias de pinturas para o Liverpool ouvi as mesmas histórias 500 vezes e já quase que pedia que fosse numa língua diferente (e como a maioria dos meus leitores também lá esteve, não vamos repetir as mesmas piadas, boa?). Jantámos, rimos muito, cantámos no carro como se tivéssemos ganho e seguiu-se um "Velho Estilo Quiz Tour" (o T. e eu já somos dois doentes reconhecidos, mas o N. revelou-se uma agradável surpresa, com bom domínio dos mercados orientais e africano ("Quem era o guarda redes titular dos Camarões no Itália 90?"), entre muitas gargalhadas e muitos "EIX! POIS ERA! ESSE FOI AQUELE GAJO QUE...".
Nas relações humanas, após as discussões - ou derrotas - guardam-se remorsos, que depois se atiram à cara quando a coisa volta a correr mal. Nós, os que amamos o nosso clube, a seguir a uma derrota, cantamos mais. E a seguir a outra, mais ainda.
Depois fomos pintar. Dois dias de tintas, do lençol, de música a tocar naquela rádio, de mais perguntas estilo Trivial Pursuit ("Quem eram os três estrangeiros do Padova em 94/95?" Esta foi demente, porque quatro pessoas no pavilhão (onde me incluo) chegaram lá.) e de dedicação ao Benfica.
Quem é que pinta uma prenda dois dias depois de ser traído?
Luz, a meio da semana. Há magia naquele estádio nestes dias. O pano sobe e vemos o trabalho de dois dias subir e descer em menos de um minuto. Mas ninguém sequer pensa no assunto, queremos é ganhar.
Ao contrário do que se passa nas relações, não queremos saber se temos ou não na razão naquele ponto ou quem é que esteve mal quando aquilo aconteceu. Só queremos que a coisa bem ao clube, trocamos todas as nossas coreografias por golos.
Petit. Luisão. E o salto que eu dei. E tudo vale mesmo a pena se a alma é Benfiquista.
Não, estes itálicos não são dedicados a nenhuma rapariga, são só o resultado de várias discussões mentais comigo mesmo.
Quem não anda nisto acha-nos doentes, acha que quem faz isto por um clube não é capaz de ser assim para alguém. Mentira, somos. Mas os amores humanos são isso mesmo, humanos. Finitos, trágicos. José Luís Pacheco (posso estar a enganar-me no nome) diz que "as únicas histórias de amor felizes são as que ainda não terminaram".
No futebol, a relação é inevitavelmente feliz. É que mesmo que a glória nos possa fugir, momentos como o golo do Luisão são infinitos.