Wednesday, February 22, 2006

Vitória - Benfica / Benfica - Liverpool: muito mais que 90 minutos (ou a analogia com as relações humanas)

É difícil escrever sobre estes dois jogos num só post. De sábado antes de almoço (partida para Guimarães) até ontem à noite, dediquei-me praticamente só ao meu clube.
E desde então tenho andado a pensar no quão diferentes somos na dedicação a um clube e na diferença que existe nessa relação para as relações humanas.

Chovia muito em Guimarães, e nem a boa disposição da viagem me tirou do espírito o mau presságio (eu não disse nada na viagem porque já tenho fama de ave de mau agoiro e quando digo que vai correr mal, normalmente corre mesmo). Chovia mesmo muito.
11 homens perdidos em campo (especialmente na primeira parte) e um jogo que parecia auto-intitular-se "Crónica de uma morte anunciada". Mesmo com os erros de arbitragem, há que dizer que perdemos e perdemos bem. Há uma bola em que o Nuno Gomes demora mais tempo a chutar do que o defesa do Vitória - que estava bem longe - a chegar lá de carrinho. A diferença estava no querer, no acreditar. E eles acreditaram muito mais que nós.
E nós, mesmo gelados pelo frio, pela má exibição, pela chuva... Cantávamos. Poucos, mas cantávamos.
E não há ninguém, mas mesmo ninguém, que diga - com orgulho e sem choros - "Amo-te" quando o outro/a termina a relação ou lance outra disussão estúpida. Mas nós não. Nós continuámos a cantar, a levantar o cachecol, a acreditar.

A dedicação nos momentos difíceis é uma raridade nas relações humanas. No Mundo Ultra, é a génese de tudo.

Depois saímos, tivémos uns"imbróglios" cá fora, que me vou abster de comentar porque durante os dois dias de pinturas para o Liverpool ouvi as mesmas histórias 500 vezes e já quase que pedia que fosse numa língua diferente (e como a maioria dos meus leitores também lá esteve, não vamos repetir as mesmas piadas, boa?). Jantámos, rimos muito, cantámos no carro como se tivéssemos ganho e seguiu-se um "Velho Estilo Quiz Tour" (o T. e eu já somos dois doentes reconhecidos, mas o N. revelou-se uma agradável surpresa, com bom domínio dos mercados orientais e africano ("Quem era o guarda redes titular dos Camarões no Itália 90?"), entre muitas gargalhadas e muitos "EIX! POIS ERA! ESSE FOI AQUELE GAJO QUE...".

Nas relações humanas, após as discussões - ou derrotas - guardam-se remorsos, que depois se atiram à cara quando a coisa volta a correr mal. Nós, os que amamos o nosso clube, a seguir a uma derrota, cantamos mais. E a seguir a outra, mais ainda.

Depois fomos pintar. Dois dias de tintas, do lençol, de música a tocar naquela rádio, de mais perguntas estilo Trivial Pursuit ("Quem eram os três estrangeiros do Padova em 94/95?" Esta foi demente, porque quatro pessoas no pavilhão (onde me incluo) chegaram lá.) e de dedicação ao Benfica.

Quem é que pinta uma prenda dois dias depois de ser traído?

Luz, a meio da semana. Há magia naquele estádio nestes dias. O pano sobe e vemos o trabalho de dois dias subir e descer em menos de um minuto. Mas ninguém sequer pensa no assunto, queremos é ganhar.

Ao contrário do que se passa nas relações, não queremos saber se temos ou não na razão naquele ponto ou quem é que esteve mal quando aquilo aconteceu. Só queremos que a coisa bem ao clube, trocamos todas as nossas coreografias por golos.

Petit. Luisão. E o salto que eu dei. E tudo vale mesmo a pena se a alma é Benfiquista.

Não, estes itálicos não são dedicados a nenhuma rapariga, são só o resultado de várias discussões mentais comigo mesmo.
Quem não anda nisto acha-nos doentes, acha que quem faz isto por um clube não é capaz de ser assim para alguém. Mentira, somos. Mas os amores humanos são isso mesmo, humanos. Finitos, trágicos. José Luís Pacheco (posso estar a enganar-me no nome) diz que "as únicas histórias de amor felizes são as que ainda não terminaram".
No futebol, a relação é inevitavelmente feliz. É que mesmo que a glória nos possa fugir, momentos como o golo do Luisão são infinitos.

Thursday, February 16, 2006

Benfica - Penafiel: heróis de BD

Não me apetece escrever sobre o Benfica – Penafiel e pronto.
Aliás, acabo de descobrir que este é o post 100 deste “Diário” (hummm… Diário não é um sítio onde se escreve todos os dias… Curioso…) e como tal resolvi celebrá-lo de maneira diferente.

Agora que tenho tido tempo livre, tenho-me entretido a vencer a minha inépcia informática e entretive-me a sacar da net golos de jogos que me marcaram. Inevitavelmente, a equipa das épocas de 92/93 e 93/94 teve destaque. A maldita Lei Bosman chegou em 1995 (salvo erro) e como tal o futebol tal como eu o conhecia morreu aí.
Até 94 as coisas – reparem que eu era novíssimo e provavelmente a minha memória está algo deturpada – pareciam-me diferentes. As equipas portuguesas eram temidas nos sorteios europeus, os três estrangeiros eram sabidos de cor e salteado (o que eu me distraía nas aulas a pensar “Mozer, Kulkov, Yuran, Aílton, Scharwtz… Epá, dois têm que sair!” e o alívio que foi chegar a casa e o meu Pai explicar-me que o Isaías já não contava como estrangeiro) e os campeonatos eram praticamente decididos nos clássicos (este factor não abona muito a favor da competitividade do campeonato, eu sei, mas a nostalgia está a tomar conta de mim). Os estádios estavam cheios (ou menos vazios. Isto de recordar faz sempre com que vejamos tudo cor de rosa) e não havia sporttv.
Desde então tudo mudou. Mas o que quero não falar das diferenças entre o antes e o depois de 95. Quero é falar dessa equipa, a de 92 – 94.
O futebol é maravilhoso porque nos faz sonhar. Já devemos ter todos idade para não passarmos o dia a imaginarmo-nos jogar no Estádio da Luz com uma multidão a cantar por nós, mas apesar disso, há um sentimento de identificação óbvio com os nossos heróis. A questão é que desde essa altura que eu não me sinto tão próximo dos jogadores da minha equipa. (Talvez o espírito do Luisão seja o mais próximo desses tempos.)
É que aquela equipa, para mim, era uma equipa de heróis de banda – desenhada. Eu sei que isto parece estúpido e talvez um bocadinho rebuscado, mas passo a explicar. Quando aquela equipa jogava à bola eu entusiasmava-me tanto como quando lia o Batman ou o Astérix. Eu (que tinha 10 anos na altura, facto importante) gostava de ter os engenhos e a força do Batman ou a poção mágica do Astérix, mas mais ainda gostava de ser duro como o Mozer, elegante como o Rui Costa, venenoso como o Paneira ou (e só mesmo um post 100 para me fazer escrever isto, mas cá vai…) mágico como o JVP (O DO 3-6, O DO PASSE PARA O 4º GOLO EM LEVERKUSEN,…NÃO O LAGARTO! E QUE ESTAS MAIÚSCULAS EVITEM QUALQUER BOCA!).
Aquela equipa fazia-me sonhar mais que os heróis de BD. Eu delirava, eu saltava, eu emocionava-me mesmo a vê-los jogar. E depois tinham uma série de semelhanças com esses heróis: tinham um misto de tragédia (tanto da por culpa própria (os super heróis têm sempre um assunto mal resolvido….) como o empate com o porto em 92/93 na 30º jornada seguida daquela derrota em Aveiro, como por factores alheios como em Parma onde uma exibição de entrega e sofrimento foi cortada ao meio por aquele árbitro.), de magia (vinte minutos no Bessa com menos um e com Paulo Sousa à baliza) e de glória (a Taça em 92/93, o Campeonato em 93/94).
Mas mais que isso, e sublinho isto porque é aqui que encontro grandes semelhanças com as BD e filmes que via-a quando era pequenino (confesso que ainda me rendo de vez em quando ao prazer de uma boa banda desenhada), é que aquela equipa tinha uma capacidade única de se empolgar nos grandes momentos e, mais, quando tudo parecia perdido. É um cliché a luta entre o cavaleiro bom e o cavaleiro mau no cimo da torre, os dois a lutarem pela princesa, etc, etc. O que é que acontece sempre? Quando o cavaleiro bom está mesmo quase a perder, com a espada encostada à garganta, há uma reviravolta (normalmente um truque que alguém tinha ensinado ao cavaleiro bom) e o bem vence outra vez.
Com aquele Benfica era assim. Quando tudo parecia perdido em Leverkusen, aquele JVP inventa um passe de morte e Kulkov fez o 4º golo.
E em alvalade, à chuva, no inicio da lenda “14 de Maio”, quando todos diziam que o Benfica tinha uma média de idades muito alta para um jogo naquelas condições, quando os rivais estavam empolgados e provavelmente com o melhor plantel da sua história, quando a equipa se viu duas vezes em desvantagem (a espada encostada à garganta no cimo da torre…), deu-se a noite mais mágica que eu me lembro. O Bem venceu o Mal, tal como nas histórias que eu lia e relia.
Aquele Benfica era assim, fazia sonhar. Eu via os jogos à espera de qualquer coisa diferente, como se fosse mais um episódio de uma série de aventuras. E havia heróis com poderes fabulosos (como o jogo que o Rui Costa fez na Luz contra o Parma – chorei quando o vi, no Verão passado, na RTP Memória – ou aquela cabeçada plena de inteligência do Aílton em Guimarães). Porra, eu amei mesmo aquela equipa. Fazia-me sonhar, sabem o que isso é? Uma pessoa ir para a rua ou para a escola cheia de orgulho porque os nossos (e eram mesmo nossos!) tinham ganho.
Talvez daqui a uns anos pense o mesmo dos golos do Simão no derby da Taça ou do Luisão no outro 14 de Maio. Mas acho difícil, não é a mesma coisa.
Aquela equipa era de outro Mundo. E para quem não acredita, façam como eu e tentem ver como aquela equipa tratava a bola. Aquilo nem na banda desenhada.

Friday, February 10, 2006

Benfica - Nacional: Aventura no metro

Eis o tipo de episódios que me acontecem...

São quase 19 da tarde e estou em casa do H. (grande amigo mas com muito pouco interesse nas lides futebolísticas), que é pertíssimo de um estádio que tem uns azulejos muito coloridos e onde até já se jogou uma final da UEFA, a trabalhar para a revista da faculdade (brevemente colocarei aqui um texto sobre claques que escrevi para a mesma publicação) quando, com a ajuda do Livescore, digo ao H.: "Olha, parece que aqueles gajos vãoa prolongamento, vou por-me a andar para não os apanhar no metro."
Ainda ficamos uns 5, 10 minutos a ultimar pormenores de formatação quando ouço um grunhido geral (tal é a parca distância da casa do H. aquele estádio). "Bom, marcaram logo a abrir o prolongamento. É melhor ir-me embora."
Qual não é o meu espanto quando, chegado ao metro do Campo Grande, tenho uma multidão de lagartos à minha volta. Bem, entrei em parafuso. O cachecol vermelho estava no bolso do casaco, mas o que me apoquentava não era isso, era estar no meio deles. Comecei a ficar enojadíssimo. Pensei mil vezes no quão úteis são os sectores visitantes e o mau que seria ver um derby no meio deles. O meu asco estava a ficar incontrolável. Rodeado por todos os lados, só se viam cachecóis verdes, horríveis e nojentos. E depois estavam lá as figuras "lagartas" todas: as betas de argolas e cachecóis lagartos-fashion, os betos de camisinha e cachecol do directivo, os velhos com ar de Dias Ferreira (tal e qual como o descrito no "Diário de um Adepto Benfiquista"), as mulheres todas com um ar de Maria José Valério cruzada com uma figura qualquer do jet-set... Era horrível, foi um pesadelo. Neste momento, quando penso num mau sítio do Mundo para se estar, penso no Campo Grande, aquela hora.
Depois de comprar o bilhete do metro (ao retirar as moedas caíu-me o cartão de sócio do Benfica, mas ninguém viu), lá me dirigi para o metro e entrei na carruagem que me parecia ter menos verde (uns 10, 15 lá dentro, portanto). Enquanto eles falavam animadamente sobre a grande vitória deles, eu continuava com um ar de quem tinha acabado de vomitar (ou de quem estava a prestes a fazê-lo, vai dar ao mesmo). Nisto, vendo o meu ar mal disposto, um daqueles lagartos estilo Pedro Granger, com ar muito certinho, cachecol do ceportém à babete, com o emblema de fora, cachecol esse muito limpinho com ar de quem não sai muitas vezes à rua, mete-se comigo: "Você não está muito contente."
"Isto não me está a acontecer." - pensei. Um gajo com cerca de 30 anos, estereotipadamente lagarto, a tratar-me por você. Mas eis que resolvi entrar no jogo:
"Sabe... Desde a final da UEFA que não tenho alegrias em alvalade." (o que não é mentira, exceptuando as vitória do Nacional na última jornada e os percalços deles este ano. Mas "alegrias" na verdadeira concepção da palavra, não tenho tido.)
"Sério?" - e aqui apercebi-me que podia fazer uma grande peça de teatro e por a carruagem mal-disposta.
"Sim. Nunca andei com cachecol nem nada. Tenho pesadelos com essa semana. Fico a imgainar vezes sem conta a bola do Rogério a fazer o 2-2."
Nisto, já estão mais dois lagartos a olhar para nós. "Pois é... Essa bola...", "Essa semana foi horrível...", "Os lampiões todos a festejar...". E eu sempre a picá-los. "Bem, o Benfica foi mais consistente, mereceu ganhar o Campeonato." Eles com ar de nojo: "Não jogavam nada!!!", "Se o Liedson não tem levado o amarelo com o Guimarães!..." E eu continuei: "Mas o que não me sai da cabeça é aquela bola do Rogério..." e eles já estremeciam com ar deprimido.
A viagem continua até ao Marquês e os lagartos vão-se indo embora. O "Pedro Granger", que se calhar até era gay e aí era mesmo o lagarto típico, continua a zucrinar-me a cabeça: "Jogámos muito bem na Luz." E aqui eu comecei mesmo a ficar nervoso. Como se o meu corpo começasse a disparar anti-corpos contra a parte de mim que se estava a fazer lagarta. Estava prestes a explodir, mas a maioria verde no metro e o facto de já ter falado da final da UEFA não aconselhava isso.
"Há um penalty roubado que era o 2-0 deles.", deixei escapar. E só mesmo um anjinho é que não via logo que eu tinha "BENFIQUISTA" escrito na testa. Ele faz um ar estranho, mas insiste: "Mas jogámos muito bem." e tive que dizer, muito muito baixinho, "sim.". E pronto, já estava a pensar em suícidio e no que é que o meu Pai diria se me tivesse ouvido.
Saio no Marquês e o Granger sempre a chatear-me e sai comigo. E o derby para aqui e o derby para ali e eu já com vontade de chorar e a pensar "Porque é que eu não me limitei a dizer que não gostava de bola?". Mas eis que chegado ao sentido que dá para o Estádio da Luz, fiz rapidamente a curva sem me despedir e interrompendo uma frase que começava novamente com "O nosso ceportém". Intrigado (e se calhar mesmo com vontade de me engatar. Olhando agora friamente para o episódio todo, ele devia mesmo ser gay para querer ser tão meu amigo) perguntou-me "Então, onde é que você vai?" (sempre o "você"....).
Esgotado, nervoso, cheio de raiva por dentro, tirei com muita calma o meu cachecol, pu-lo ao pescoço e dei-lhe sossegadamente o nó. O Granger estava co um ar de quem tinha levado 1-3 na final da UEFA.
Depois - isto é uma enorme má educação e espero que ninguém conhecido tenha visto. Mas se alguém viu espero que compreendam o contexto e como eu já estava nervoso - estendi-lhe o dedo do meio e disse-lhe: "VOU PARA A LUZ VER JOGAR O CAMPEÃO NACIONAL!"
E desci as escadas rolantes a olhar com nojo para ele e a apontar para a manga do meu casaco, lembrando-lhe o escudo de Campeão que ele não tem.

Tuesday, February 07, 2006

UD Leiria - Benfica: Carta aberta ao F.

F. :

Pois é, meu caro, tiveste que ir para Inglaterra. A vida dá voltas e voltas e eis que tiveste essa surpresa tão boa que te deu a volta à vida (espero que não te importes que te escreva aqui). Vou ter (aliás, já tenho) saudades tuas. A malta já sente a tua falta.
Conheci-te no liceu. Tinhas uma tshirt do teu grupo, eu do meu e um intervalo começámosa falar de bola, de claques e do nosso Benfica. Daí a uma amizade a sério, foi um passo. São inúmeras as recordações que tenho tuas, minhas, do T. e do D., sempre com o Benfica paralelamente. Viajámos várias vezes para a Luz juntos, trocámos milhentas mensagens sobre o Benfica (nunca mais me esqueço da tua mensagem de ódio aos azuis depois deles terem ganho a uefa. Foi uma hora de dor em que eu e o D. sentimos a tua falta.) e no meio das bebedeiras, zangas, grandes noites, futebol a potes e cartas acabámos por conseguir tornar-nos amigos a sério.
(Releio o que escrevi até aqui e vejo que estou a ficar um lamechas. Ias-te rir de mim, se não fosses ainda pior que eu.)
Vamos continuar a trocar mensagens e mails e falar sobretudo do Benfica (e da tua novidade, claro), mas tenho que tornar públicos dois episódios contigos que me marcaram. O primeiro foi em casa do T., numa noite de risos contigo, T. e D. Para te provocar, perguntámos-te se nos preferias a nós, teus amigos ou o Benfica. Bem... insultaste-nos do pior. E quem é que nós pensávamos que éramos a comparar-nos ao Glorioso!! "Amigos arranjam-se, BENFICA SÓ HÁ UM!"
O outro foi antes do derby do Luisão o ano passado. Uma noite inteira a conversar sobre o jogo, sobre como estávamos nervosos e como a nossa vida se ia decidir novamente a 14 de Maio. Inesquecível a maneira como saíste de minha casa lá para as 4 da manhã e concordámos: "Somos o Benfica!" E foi essa a mensagem que trocámos após o derby.

No sábado perdemos outra vez, F. A coisa vai mal. Não recebeste a minha mensagem (o relatório deu pendente), mas se entretanto leres isto, dizia: "Chegaste bem? Por aqui isto vai mal... Outra derrota. Mas continuamos a ser o Benfica!"

Um grande abraço, F. Saudades tuas.

Friday, February 03, 2006

O caso Nuno Assis

Bem, eu podia ser aquele adepto que olha para a cara do Nuno Assis, lê as declarações do Bruno Aguiar e diz "Este gajo tem boa cara, é bom miúdo, não fazia uma coisa destas!". Mas a argumentação que vos apresento é a mesma que apresentaria se fosse o Paulo Almeida ou outro jogador do Benfica. (Sim, porque quando o mesmo se passou com o Couto, limitei-me a rir quando o meu Pai me mandou uma mensagem a dizer "Fernandrolona!")

A substância acusada pelo Nuno Assis, a 19-norandrosterona é um metabolito da norandrolona (um esteróide usado para doping). Dada a sua semelhança química com a testosterona, tem efeitos semelhantes benéficos para o desportista de alta competição (aumento de massa muscular, por exemplo. Este efeito leva a considerar a hipótese de dar a norandrolona a doentes enfraquecidos pela SIDA - um exemplo bem mais nobre da substância.), mas sem outros efeitos como o crescimento de pêlos (que seria um tiro no pé nas desportistas que usassem esta substância).

A questão é que esta substância também pode ser produzida pelo nosso corpo. Daí que haja um valor limite de excreção urinária da 19-norandrosterona, a partir do qual se considera que o valor é demasiado alto para a substância ser apenas produzido pelo corpo.

O que se passa é que a ciência é complicada e provou-se em 2000, na Universidade de Aberdeen que a soma dos dois factores: 1. exercício + 2. suplementos dietéticos que contenham creatinina (juntando ainda o facto de qualquer atleta estar desidratado quando faz uma análise o que aumenta a concentração das substâncias) pode fazer com que um teste para a nandrolona seja positivo.

Pergunta óbvia: então como é que se sabe se o jogador se dopou?
Resposta que eu encontrei: a legislação espanhola (não encontrei a portuguesa) prevê que qualquer substância dopante que possa ser produzida pelo organismo, quando acusa positivo, deve levar a que o atleta realize exames complementares (perfil endócrino ou, para os leigos, perfil de produção de hormonas (como a testosterona) ) para se ver se há uma produção anormal ou não. Estes testes safaram Gurpegui, jogador do Athletic de Bilbao, como podem ver no seguinte link: http://elmundodeporte.elmundo.es/elmundodeporte/2004/11/04/futbol/1099581407.html.
Mas também os deve ter realizado Giovanella e mesmo assim levou dois anos.

Quanto a Nuno Assis: a ciência pode saber se o mesmo é inocente ou culpado. Não sei se a legislação portuguesa também permite os exames complementares que a espanhola permite, mas juntando a isso a evidência dos "suplementos", urge que o rapaz possa ter o direito de ser inocente até prova em contrário.

Qualquer dúvida ou correcção (porque eu não percebo assim tanto disto, logo não façam perguntas dificeis), é escrever nos comentários.
Deixo-vos com outro link, donde tirei grande parte da informação apresentada:
http://www.chm.bris.ac.uk/motm/nandrolone/nandj.htm

Prometo - quando estiver de férias - pesquisar mais sobre o assunto.