Monday, May 30, 2005

Benfica - Setúbal: Eternamente insatisfeitos.

Costumo perguntar-me muitas vezes coisas que nem parecem de um maluquinho. Pergunto-me porque é que se festeja tanto um campeonato, quando há um todos os anos. (a resposta a esta é óbvia: porque um campeonato é um campeonato e ponto. E quem não perceber esta quje páre de ler já aqui.) ? Mas esta nem é uma pergunta difícil. A pergunta difícil é: Há limite de satisfação para um adepto? Haverá uma altura da vida do nosso clube em que dizemos: "Ok, a glória é imensa e já me satisfaz. Podemos perder que eu já não me chateio."?
Óbvio (e tristemente) que não é o caso do Benfica (oxalá um dia isso me possa acontecer), mas se o nosso clube ganhar tudo...Pró ano queremos mais? Aprendi este domingo, da única e má maneira que se aprende, que não há limites para nós, os doentes.
Se o Benfica ganhar tudo 6 anos consecutivamente e ao 7º perder como perdemos ontem com o Setúbal, eu fico chateado na mesma. E como nem é o caso, mais chateado fiquei.
Apesar do meu ateísmo (mais de quinhentas vezes sublinhado nos textos deste blog), dou por mim a fazer sempre oferendas aos Deuses do Futebol ("eu até dou a Taça se formos Campeões" e coisas desse estilo). Ontem percebi que sou demasiado Benfiquista para não trair esses Deuses. Eles deram-me o Campeonato e eu quis a Taça que num momento de desespero sou capaz de ter oferecido (os mais supersticiosos dirão que afinal, a culpa é toda minha). Não aguentei.
É incrível. Sou Campeão, os maiores rivais não ganham nada (espero que já tenham explicado ao Douala que o Campeonato já acabou e que não há 2ª mão em Moscovo....) e mesmo assim não consigo jantar porque perdemos uma Taça.
Ontem aprendi que nós, os doentes, os que amam mesmo os seus clubes, nunca ficaremos satisfeitos. Nunca. E apesar de, conscientemente, ver que há nesta frase um espectro de sofrimento que vai durar praticamente para a vida, não consigo deixar de ficar com vojntade que chegue dia 14 de Agosto para lutar pela conquista de um troféu e ficar um pouco mais perto da glória eterna (à qual nunca se chega...) . E no dia em que lá tocarmos, tudo ruirá com uma derrota num derby ou uma Taça Amizade que perdemos para o Cucujães.
Quero tudo para o meu clube. Porque o amo e porque é um sofrimento insuportável não o ver vencer.


(Agora, sem futebol e em exames, vai ser difícil arranjar motivo para escrever cá. Mas eu hei-de arranjar solução. Obrigado a todos os que cá passam.)

Monday, May 23, 2005

Boavista - Benfica: CAMPEÕES!

Começo a escrever e tenho que parar logo. Tremem-me os dedos. São seis da tarde de dia segunda feira e sinto que ainda estou no Bessa. Ainda estou noutra dimensão. Não caibo em mim de contente. Já canto "Campeões, Campeões, Nós somos Campeões...!" inconscientemente, tal é a loucura. Respiro fundo para ordenar as ideias e não escrever BENFICA CAMPEÃO e fazer copy + paste 1500 vezes. Apetece-me fazer isso. Mas vou tentar ordenar a coisa. Sinto perfeitamente que estou sem condições mínimas para escrever esta crónica: estou cansado da festa, com umas olheiras brutais, dói-me o corpo da quantidade de vezes que saltei, vibrei, dos abraços aos amigos, estou rouco de cantar e festejar, tenho o telemóvel a tocar de cinco em cinco minutos com pessoas a darem-me os parabéns (e ainda tenho uma lista enorme de Benfiquistas com quero falar...)... Mas esta é a crónica que eu mais quero escrever. Nem que seja a fazer o dito copy+paste


22 de Maio de 2005, Estádio do Bessa. 21 horas e pouco. Golo da Académica. Festejos loucos. O Álvaro a saltar. O banco e as bancadas todas de pé. Um segundo para piscar os olhos com força e materializarmos no nosso cérebro o que estava a acontecer. Depois desse segundo, todos em sintonia e em uníssono:

"CAMPEÕES, CAMPEÕES, NÓS SOMOS CAMPEÕES!!..."

Corre-me um arrepio indescritivel. Senti-me vulnerável, sentimental, lamechas e frágil (situação que eu antevira e para a qual avisara os meus colegas de bancada). Comecei a tremer. A deixar de sentir que controlava o meu corpo e o meu cérebro. Tudo isto enquanto continuava a cantar... "CAMPEÕES, CAMPEÕES, NÓS SOMOS CAMPEÕES!!..."

Ao fechar e abrir os olhos uma e outra vez como se me beliscasse. Epá, confesso: comecei a chorar. Não me aguentei. O Andrea, nosso amigo da Curva Romana, com uma câmara de filmar, apanhou o meu momento. O mítico Grupo Poncha (eheh) afagou-me a cabeça (apesar de também chorarem emocianadíssimas...). Não me aguentei. Não parei de cantar "CAMPEÕES, CAMPEÕES...", mas as lágrimas, teimosas, persistentes, e incrivelmente sinceras vingaram-se dos 11 anos. Abracei-me ao D. e ao T., que lado a lado, tinham sorrisos maiores que o Mundo inteiro. Foi como nos filmes. Foi como nos sonhos. Com a banda sonora de sonho (não consigo deixar de ouvir o Bessa a cantar "...NÓS SOMOS CAMPEÕES!...", abracei-me a todos. Ao G. (fiel leitor e comentador deste blog), ao J. (sem lágrimas, mas quase...), ao RC (a destilar orgulho Benfiquista...)... Foi literalmente um sonho. Como comentei com o T. na viagem para Lisboa, entrámos noutra dimensão.
E naqueles curtos momentos (se calhar um quarto de hora, não faço a mais pequena ideia) de festejo no Bessa, com a euforia Benfiquista toda, com a noção perfeita que a partir daquele momento, nada seria igual no dia 22 de Maio de 2005, enquanto as lágrimas continuavam a verter, vi tudo.
Imaginei o meu Pai com a alma cheia (mil obrigados por me teres feito Benfiquista...) e depois, novamente como um filme, comecei a ver estes 11 anos. Lembrei-me do 3-6, dessa mágica noite de 14 de Maio (de 1994), da festa que fiz quando ouvi o Benfica a dar 0-3 ao Gil, pela rádio. Depois estes anos pesados (mas que passaram! Que acabaram!!): vi a derrota em Vigo. Vi as derrotas nas antas e os olhares furiosamente anti-vermelhos dos azuis e verdes. Vi os meus amigos lagartos e tripeiros a gozarem comigo, a desejarem todos a vitória boavisteira. Vi o Fehér. Vi a Taça. Vi as noites de loucura em que, apesar de nada ganharmos, eu e os meus amigos cantávamos o Glorioso SLB em plenos pulmões.
Lembrei-me de quando o Trap foi anunciado. Estava em época de exames e todas as manhãs a S. ia-me buscar ao mesmo sítio para irmos estudar. Todas as manhãs encontrava o RC(para quem não se lembra, o gajo que foi comingo a Itália) e além de discutirmos a viagem a Itália que faríamos em Setembro, o Europeu (da maneira indiferente que os que amam só e só os seus clubes fazem), comentámos - felizes - a vinda do Trap para a Luz. "É um dos grandes", concordámos. O D. mandou-me uma mensagem a dizer "É um dos teus." sabendo ele o que eu aprecio os treinadores italianos e os seus esquemas horrivelmente defensivos e fiquei com uma fé brutal que era este ano e que não nos ia fugir.
Vi o meu Benfiquismo todo naqueles momento. À minha volta só se viam choros, abraços, telefonemas, gritos, sorrisos, champanhe na bancada, saltos, cachecóis e bandeiras ao vento. A sensação foi indescritível. Continuava a tremer. As lágrimas continuavam a fabricar-se e a subsituitem-se umas às outras. Com os jogadores em festa, não parávamos de cantar "NINGÚEM PÁRA O BENFICA!", "GLORIOSO SLB!" e o inevitável e infinitas vezes repetido... "Campeões!".
22 de Maio de 2005. Estádio do Bessa. Talvez 21.30, não faço ideia. Completamente derretido (parecia uma menina...), beijei o emblema da minha camisola e tive a certeza fulgurante que sou Benfiquista e que isso me envaidece...
E apercebi-me de uma coisa incrivel: Já não precisávamos de cantar "Nós só queremos Benfica Campeão". O Benfica É CAMPEÃO. E, fatalmente, tive que conter mais umas lágrimas.

Nem as 3 horas de viagem me cortaram a euforia. Na viagem continuei a viver noutra dimensão (na que ainda estou...) e a sentir-me bebâdo sem ter tocado em alcool. Na Luz vi éne amigos, que apesar de não serem companheiros de bancada, são Benfiquistas e também eles estavam emocionadíssimos. Abraçámo-nos todos, gritámos todos, saltámos todos. Sucediam-se os cânticos, os berros, as buzinas, as cenas surreias (pessoal em cima dos carros, cães dentro do Estádio da Luz....)...
Os jogadores chegam, a invasão (normal e esperada) dá-se... Tudo sempre em festa. Fui para casa nem sei a que horas. Ainda liguei a televisão para ver as imagens do País todo. Sucediam-se as mensagens (mesmo de madrugada...) e os telefonemas.
Fui-me deitar como a pessoa mais feliz do Mundo. E nem a percepção imediata que milhões sentiam o mesmo do que eu diminuiu a sensação. Só aumentou.
"CAMPEÕES", pensei. E nem me lembro se cheguei a adormecer.


São dez para as sete de 23 de Maio de 2005. Recebi 7 telefonemas e 3 mensagens enquanto escrevia esta crónica. Não faço ideia se saiu a melhor (como prometi ao meu amigo G.). Mas garanto-vos que foi a que mais gozo me deu escrever. Até porque ainda me sinto noutra dimensão e qualquer palavra sobre o assunto Benfica Campeão me soa a um poema digno de livro.

Um abraço a todos nós, Campeões. E que eu possa escrever muitas mais crónicas como esta.

Domingo, vamos todos apoiar os Campeões, rumo à Dobradinha!


NUNCA ENCONTROU RIVAL NESTE NOSSO PORTUGAL...

Tuesday, May 17, 2005

Benfica - lagartos: tanta coisa para escrever...

Tudo começou em Penafiel.
Não fui por um acontecimento festivo do meu curso. Eu sei que parece uma desculpa justificação estúpida, mas quatro dias de copos, praia e festas antes de uma época de exames do pior pareceram-me um oásis.
Como é óbvio, a derrota no sábado fez-me sentir um desespero suicida. Já não bastava o golo do rapaz que falhou o penalty na Luze ouvir os lagartos todos a cantar, agora isto. Infernizaram-me a cabeça. Amigos e colegas de bancada trocaram mensagens também em tons cinzentos. Mas depois de dias de meditação, a coisa passou.
E passou mesmo. Mesmo com a vitória verde ao Guimarães, fiquei com uma confiança crescente. Calei-me a semana inteira. Não me arrancaram palavra sobre o jogo. Fui tão metódico e meticuloso neste comportamento que o pessoal até pensou que eu estivesse doente. Pais e amigos preocupadíssimos: "Como estás para sábado?"
"Não quero falar sobre isso." ou "Confiante e cauteloso" respondia sempre. E calava-me e ficava a meditar.

Na quarta feira já não podia com os nervos dentro de mim. A hipótese de perder este título, ainda para mais em casa, com os eternos rivais, era um pesadelo que eu seria incapaz de suportar. E como os homens das cavernas quando viam um eclipse, também eu - um feroz ateu - me tive que virar para as minhas superstições e fantasias. Minuciosamente, pensei nas roupas que levei a alvalade o ano passado (penúltima jornada), no cachecol que levei ao dragão (da mesma maneira que quebrámos o enguiço de não perder lá, quebraríamos o de não ganhar aos verdes na Luz) e pedi aos colegas de bancada para não pintar e ajudar no tifo e frases, porque também não o fiz antes de alvalade o ano passado....e este ano na Taça). Não tendo maneira de controlar o que se passaria em campo, virei-me para as minhas pequenas coisas.

Os dias anteriores foram de retiro e pouco sono. Impossível dormir. Cheguei a estudar de madrugada para conseguir adormecer. Ao longo da semana, em crescendo, fui sendo consumido pelo jogo, pelos palpites, cheguei a desenhar numa aula as tácticas das equipas e ver em que zonas tínhamos superioridade e coisas desse estilo. Sonhei com mil golos nossos. Recusei-me a pensar em qualquer lance deles. Na verdade, agora que penso nisso, nunca os imaginei com a bola no nosso meio campo.
Depois foi o texto que li no blog Terceiro Anel. Senti que aquilo foi escrito por alguém como eu. A fé triplicou. Vamos ganhar, pressenti. Mas mantive-me em silêncio.
Quando acordei dia 14 de Maio, parecia que tinha sido fumado. Estava absolutamente esgotado pelos nervos. Só queria um golito que fosse. Só queria que eles não festejassem no meu estádio. Quando dei por mim, mesmo não sendo religioso, já parecia uma beata a prometer tudo aos deuses do futebol.
Na viagem para o jogo, o meu Pai, conhecendo que o meu silêncio não era senão o expoente máximo do meu sofrimento disse-me, como se de Jesus Cristo se tratasse: "1-0 aos 80."
Ainda hoje, apesar da consicência estatística que todos nós tínhamos um palpite e que consequentemente, alguém havia de acertar, estou pasmado com o feito adivinho dele.

Foi das minhas piores prestações a apoiar o meu clube. Perguntei-me 1000 vezes como é que há quem consiga cantar pelo clube sem a mínima pausa ou hesitação num jogo daqueles.
"Alcool" concluí das mil. Só pode ser isso. Senão estavam todos como eu.

Chegam por telemóvel os golos azuis. Merda. Temos mesmo que ganhar.

"PASSA A BOLA NUNO GOMES! PASSA! ......... PASSA NUNO ASSIS! BOA, CARALHO! CHUTA SIMÃO! CHUTA! CHUTA! GOOOOO....AAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!"

Agarrei-me ao D. Gritei todos os palavrões que sei. Todos. Lamento aos que dizem que vulgariza o meu discurso. Mas naquele momento a minha vida estava em jogo e, sem aquele golo, sem qualquer sentido.

Com o aproximar do fim,um silêncio imenso estava a invadir-me. Até que chegou o primeiro sinal dos céus: Os lagartos começaram a cantar. "É nestas alturas" pensei, "que os costumamos calar."
Pensei na conversa que tivera com o F., um NN, no dia antes, em que concluíramos que os jogos com os lagartos eram sempre a mesma coisa. Numa analogia com um combate, estaríamos quietos toda a luta e no momento final damos-lhes sempre um pontapé nos tomates que os fazem cair sobre o tapete, sem tempo para se levantarem. Bendita premonição.

No momento do golo, um rapaz benzeu-se e, talvez pelos meus olhos de sofrimento, como se estivesse estado em guerra aqueles 83 minutos, dedicou-me a sua - também ela bendita - premonição:"É golo". E foi.

O que se passou a seguir foram 3 segundos que me pareceram 3 anos. A minha colocação no estádio não me dá noção de profundidade para a outra baliza. O pessoal todo à minha frente também não ajudava. Estive 3 segundinhos (que me pareceram eternos) à procura do árbitro, até que ali estava ele, de careca reluzente, a apontar para o meio campo.
Foi a loucura. Foi o Céu. A Luz veio abaixo. O F. tinha razão. O meu Pai tinha razão. As minhas superstições, o texto do terceiro anel, tudo foi de encontro ao destino. Naquele momento, a minha vida pareceu ter atingido um nirvana em que tudo, mas mesmo tudo, estava bem. Aqueles últimos 10/15 minutos com TODA a gente de pé foram um sonho. Já nem 12 jogadores éramos, éramos 60 mil mais 11. O final do jogo foi alívio. De Penafiel até ao Estádio da Luz, às 21.46 (marcava o meu relógio) valeu a pena.


Ainda não ganhámos nada. Temos o resto do país todo contra nós no domingo. Muita atenção. Silêncio, confiança e cautela. E que depois de domingo eu possa, como prometi ao meu amigo G., escrever a página mais linda e que todos nós queremos neste diário. Ainda há tanta coisa para escrever.
Vamos a eles, Rapazes!

Monday, May 02, 2005

Benfica - Belenenses: A minha camisola

No sábado, devido a uma promoção dos experts de marketing do meu clube para escoarem o stock de camisolas que já não vão ser usadas para o ano, comprei a "maglia" do centenário do meu clube.
Sinceramente, nunca tive uma obsessão muito grande com camisas de futebol. Sempre gostei mais de cachecóis. Até porque a minha relação com ter uma camisola do meu clube sempre foi algo de terrivelmente forte. Quando era pequeno e ia jogar à bola com os meus amigos, uma camisola do Benfica (pronto, ok, de outros clubes às vezes também dava confusão, mas as do Benfica davam sempre mais) era sempre uma complicação muito grande. Raramente levava a minha para jogar. Jogar com uma camisa do Benfica era, para mim, uma responsabilidade muito grande. Sabia que perder o jogo com aquela camisola vestida implicava semanas de gozo que eu não ia conseguir suportar.
O grande problema para as futeboladas de rua não foi só a responsabilidade de jogar com a camisola do nosso clube. O problema surgiu quando começámos a ser objectores de consciência de jogar contra jogadores com a camisola do nosso coração. Como impedir que um jogador (nem que seja um miúdo de 10 anos, mas caraças, nós até nos tratávamos pelos nomes dos jogadores quando jogávamos! (Eu era o Paneira, já agora) ) com a camisola do Benfica de marcar um golo? Como partir para cima dele e tentar fazer-lhe uma cueca? Impossível. Daí que as camisolas dos clubes tenham desaparecido das futeboladas de rua.

No sábado voltei a ter uma e senti-me um miúdo outra vez. Como se fosse a única pessoa com aquela camisola. É incrível, mas senti-me mesmo especial e feliz. Como se pudesse voltar a jogar futeboladas de rua e sentir-me no Estádio da Luz outra vez.


Já agora, a última camisola do Benfica que tive, foi no último ano em que fomos campeões....