Sunday, February 22, 2009

lagartos - Benfica: ensaio sobre a tesão (ou a falta dela)

No outro dia estava a ver o Daniel Negreanu, grande jogador de poker, a dizer que havia momentos do jogo em que ele entrava in the zone. A mítica expressão que Michael Jordan representava na perfeição. Being in the zone era um estado transcendente. Um estado onde a concentração do atleta/equipa é tão forte que é uma concentração relaxada, onde tudo é fácil, onde tudo vai correr bem. Um género de força mental que, segundo Michael Jordan, fazia o cesto maior.
O que me custa no Benfica é que eu já não peço este estado de graça (desaparecido desde a noite de 14 de Maio de 1994). Eu já só pedia concentração competitiva, garra, querer. A que se viu no Dragão foi um bom exemplo, mas faltou-lhe killer instinct. Mas, sendo sério, quantos jogos nesta época se apresentou o Benfica como no Dragão? 4, 5 no máximo? E nos últimos anos?
O problema é que ao Benfica falta tesão a jogar. Tesão, porra. Uma palavra barata, para ser dita em conversas brejeiras. O Benfica é mole, é fraco psicologicamente, deixa-se abater. O Benfica comporta-se como uma equipa mimada a quem tudo tem de correr de feição (marcar primeiro e depois jogar em contra-ataque, esperar por um lance de bola parada..). Como se fossemos uns meninos ricos com o rei na barriga, a achar que tudo nos vai cair do céu.
Custa-me, aflige-me, envergonha-me até à ponta dos pés que o meu Benfica, o das camisolas berrantes, o que se canta nas bancadas que "nosso destino é o de vencer" não dê tudo num jogo como de ontem. Num jogo vital para a conquista do título, num jogo que independentemente disso vale o coração dos seus adeptos, o Benfica voltou a claudicar, a deixar-se ir sem lutar, como o menino que não quer brincar mais quando a brincadeira lhe começa a ser chata.
O Benfica não tem (mas devia, porra) que ganhar os derbies todos. Mas tem de meter o pé. Tem de lutar, tem de sangrar. Os jogadores têm de dar o que têm e o que não têm e se isso não chegar (o que pode acontecer), têm de chorar de impotência em campo, distribuir porrada, o que for.
Este Benfica é tão fraco emocionalmente que nem mau génio tem para mostrar que está chateado. Ao menos que fossemos o puto mimado que derruba o tabuleiro quando está a perder, sei lá. Mas não, a equipa baixa a cabeça e olha para o relógio para ver quanto falta para tudo aquilo acabar, com uma lágrima no canto do olho. Faz-me impressão que a equipa não tenha um olhar vivo, não tenha alma, não tenha nada. Não têm prazer nenhum, não desfrutam de jogar com a camisola mais linda do mundo, não a honram, não têm brio, nada.
Ao Benfica falta tesão, falta orgulho, falta jogar de cabeça levantada, sem complexos, sem medos. E isso não é uma coisa intermitente, cultiva-se, ganha-se.
Ontem percebi que estamos muito longe de estar in the zone. Tive vergonha que fosse aquele bando de meninos a vestir a camisola do meu clube.

Sunday, February 15, 2009

andrades - Benfica: e que tal esquecermos os últimos 15 anos?

Sábado à noite. Jantamos vários Benfiquistas e um lagarto e bebem-se cervejas e pessimismo. Amanhã vamos ao porto. Vamos perder. Sim, por 2 ou 3. Ou 3 ou 4. É sempre a mesma merda. Vamos ser roubados. Este ano nem é preciso. Não jogamos um caralho. O Hulk é grande jogador. O Aimar não corre e o Di Maria devia ser vendido por 10 euros.
Há anos que a coisa é assim. Vamos para lá por baixo. A cabeça a olhar para os pés, um olhar de cães abandonados à sua sorte. Antes do jogo chegámos a temer - imagine-se - a chuva. Quando chove lá, perdemos sempre. Como se ir ao Porto fosse uma descida aos infernos, uma má tarde a passar, uma sina que invariavelmente acaba mal para nós.
A culpa é nossa, que caímos no truque. Há anos que nos deixamos papar pela ascendência deles. Preferimos (mea culpa) gozar os vizinhos do lado, com o seu ar inofensivo de aristocratas sem fortuna que ainda acham que a monarquia está no poder. E não percebemos que para sair deste ciclo temos de ser ratos, temos de nos unir. Até podemos ir com a cabeça baixa e um ar de coitadinhos, mas o olhar deve ser vivo e acutilante.
É como se cada vez que fossemos lá, tivéssemos que viver a merda - a grande merda - que têm sido os últimos 15 anos futebolísticos. Como se fosse uma sessão de psicanalista onde temos de ir confessar os nossos pecados, chorar porque a culpa é do Damásio, do Vale e do Artur Jorge. Como se tivéssemos que ir perder, cumprir o que está escrito, o que nestes 15 anos se decidiu. Vamos sem meter o pé. É sábado à noite e eles já estão a ganhar.
Precisamos de, ao fim destes anos todos, andar para a frente. Para viver sem esperança, bastam os aristocratas dementes. Para viver com uma esperança idiota e impossível de realizar, também bastam eles. Temos de ser espertos, temos de ser valentes. Temos de deixar de querer ir ao Porto dar 3 e ao mesmo tempo achar que vamos levar 3.
Quando, a ganhar 0-1, atacávamos devagar e Aimar parou a bola, altivo e insolente em pleno Dragão, pensei que podíamos virar a história. Podíamos todos levantar a cabeça e começar a berrar. Erro meu. Temos de ser mais espertos. A questão é que Aimar pisou a bola altivo porque desconhece os últimos 15 anos. Porque não os viveu. Se Aimar os tivesse vivido como nós, os Benfiquistas de sábado à noite, chutava a bola para a bancada e fugia lá para trás à espera que o jogo acabasse.
Estou farto de ir lá a pensar nos últimos 15 anos. Estou farto de estar sempre em depressão antes de lá irmos. Estou farto de pesadelos como o da época passada e de só ter o Mantorras para me fazer gritar um golo como se não houvesse amanhã.
Quero que o meu Benfica (e eu, como doente) possamos esquecer o inferno que os últimos anos têm sido. E isso faz-se pisando a bola num ataque quando se está a ganhar. Bola ao lado, nas calmas, fazê-los correr. Cabeça levantada, olhá-los nos olhos: estamos aqui.
E quando isso acontecer regularmente podemos deixar de pagar o psicanalista. Podemos deixar de alternar entre as depressões e as fases maníacas. E podemos voltar a ganhar.

PS: como devem ter reparado, este blog tem andado muito por baixo. A culpa não é só da falta de tempo, é da minha relação com o Benfica. Um arrufo de namorados que não me dá força para ir ao Estádio. Eu sei, a culpa é minha. Eu sei, é nesta altura que lá devemos ir. Mas também eu tenho as minhas contas de psicanálise. O meu muito obrigado a quem, pacientemente, me chateia todos os dias para voltar a escrever aqui.