Descobri um blog do ceportém com piada. É verdade. Li várias vezes os textos para confirmar se não estaria doente, mas é mesmo oficial: há um blog de lagartos com piada. Chama-se Mãos ao Ar e podem chegar lá por
aqui. Mas, como qualquer blog de lagartos, o tema é inevitável: o Sport Lisboa e Benfica.
Os rapazes têm, de facto, muita piada (e digo-o sem ironias). Mas são do ceportém, coitados. E isso é algo que não se pode perdoar.
O GR1904 (o blog dele está
aqui) vai ficar chateado por eu dedicar um post aos adversários, mas eu não resisto. O meu anti - ceporténguismo existe e tenho orgulho nele.
O ceportém dá-me asco. É uma coisa visceral, que vem de dentro e é impossível controlar. O ceportém é como o dantas, cheira mal da boca e inocula concubinos (lagartinhos loiros e de olhos azuis). Tenho nojo aquilo. Deliro quando perdem. Nem sequer consigo ter pena daquele ar de sofrimento, que me faz sempre lembrar o coyote quando não apanha o outro pássaro rápido.
Foi o meu pai que me incutiu este ódio todo, porque jogava basket na Académica de Moçambique e rivalizava com o ceportém local (que, pelos vistos, tinha vários genes em comum com o da metrópole, pois perdia várias finais). O meu progenitor não consegue ver um jogo de petanca com lagartos sem torcer pelo adversário (e nem interessa se o mesmo cometeu crimes contra os Direitos Humanos. É um adversário do ceportém e estamos com ele.) e passou-me isso. Desde pequenino que cresci a torcer contra os verdes e o facto de ter nascido numa terra onde os azuis são tão raros como as taças europeias do ceportém, fez-me aprimorar este espírito anti - verdes.
O ceportém foi, é e será sempre o anti - clímax. O ceportém é mesmo, a meu ver, um clube impotente. O clube que nunca conseguirá ter orgasmos. No
mãos ao ar, os autores parecem mesmo aqueles gajos em meia idade que se dedicam a coleccionar comboios e coisas assim. E como tal, dedicam-se a escrever sobre o Benfica (o que não é lá muito terapêutico).
Mas não fosse já isto estranho, os rapazes têm o desplante de maldizer acerca da história europeia do Benfica. E foi aqui que a minha paciência se esgotou e resolvi responder:
A primeira vez que me lembro de me ter de concentrar para torcer contra eles lá fora foi no ceportém - Inter nas meias finais da Taça Uefa (quando digo Taça Uefa pensamos todos no mesmo, não pensamos?). Foi genial. Oceano, esse cérebro do meio campo (que teve a melhor assistência da sua carreira para Poborsky no célebre chapéu do Euro 96. Está
aqui.) falhou várias vezes isoalado à frente de Zenga, confiante que o 0-0 em casa é sempre um bom resultado. Não foi. A velha raposa e o trio alemão aliviaram-nos e o ceportém via a sua grande prestação europeia falhar.
Felizmente, o ceportém é pouco dado a estas coisas (a única competição europeia que ganhou já acabou - porventura pela vergonha de ter um clube daqueles na história) e foram poucos os sustos europeus que tive com o clube da cor do ranho.
Divertimentos, esses, foram incontáveis. Como esquecer a mágica prestação do Costinha em Salzburgo? Ou a expulsão do Dani e os 4-0 em Viena?
Não podemos esquecer, claro, as fantásticas prestações na competição europeia máxima. Depois de um 3-0 ao Mónaco em casa (com o relvado num estado deplorável por causa dos fungos. Perdão, foram os U2. OS fungos foram depois. Os parasitas ainda lá estão, mas nos camarotes.) que lhes deu automaticamente não um, mas cinco títulos de campeões europeus (porque dada a raridade, as vitórias em alvalade para a europa dão automaticamente títulos. Por exemplo, o golo do Caneira ao Inter - claramente sem querer - deu outros 5 títulos de campeões europeus e duas taças europeias porque o Moutinho tirou fotografias ao colo do Vieira no fim do jogo), o ceportém lançou-se numa campanha fantástica que só colossos como o Lierse foram capazes de parar.
Houve ainda a fantástica jornada de um empate caseiro contra o Real Madrid (onde ainda por cima jogava aquele fulano que os odeia e que festeja os golos contra eles como eu... Como é que ele se chama? Ai... Ah! Figo! É isso, é o Figo.) que não deu direito a título europeu, mas a acesso a duas finais. Porém, Schmeichel e seus amigos foram os primeiros a sentir a ameaça dos russos(que para os lagartos são feios e muito maus, como aparecem no MacGyver) e depois de 3-1 em Moscovo, tiveram mesmo muito azar (não há outra razão!) e levaram 0-3 no inviolável estádio de alvalade. Ah, grande ceportém.
Apesar de ser sempre um prazer recordar a forma simples como equipas como o Viking ganharam aos verdes, há um fim de tarde que nunca, nunca, nunca, é demais recordar: 18 de Maio de 2005.
Nesse dia, o ceportém ia finalmente jogar uma final europeia (depois dos 53 títulos europeus que a vitória ao Mónaco tinha significado) e logo em casa. Contra uns russos quaisquer, que cheiravam mal e que até tinham eliminado o Benfica (o mesmo Benfica que quatro dias antes lhes tinha tirado o campeonato, se bem que Douala e Peseiro - a matemática nunca foi o forte deles - ainda acreditavam). Pfff, estava no papo. Nenhum clube do mundo consegue perder duas competições em quatro dias. É impossível não ganharem, e ainda por cima em casa e estávamos a falar de uma equipa que, segundo as conversas de café no Picoas Plaza, era a melhor do mundo.
Rogério - Picanha marca primeiro e alvalade rejubila. As betas fazem um "ai, que chique!", a Juve Leo tem o bom senso de não invadir o relvado e o Dias da Cunha dança dentro da camisa de forças. Afinal, nem todas as esperanças europeias leoninas estavam depositadas numa putativa presença da Maria José Valério na Eurovisão (com o Clímaco a comentar, claro). 1-0 ao intervalo. Já ganhámos - pensaram eles.
Em minha casa, três Benfiquistas com barretes russos e camisas do Glorioso estão preocupados, mas confiantes. É o cenário perfeito para os lagartos perderem. Estar a ganhar ao intervalo de uma final da Taça Uefa em casa é uma coisa o mesmo que não ter sexo há meses, sair com a Isabel Figueira e ela implorar para ir para a cama connosco. Só um impotente recusaria.
Peseiro, provando o seu Benfiquismo puro, não reforça o meio campo nem aposta no contra ataque. Eu acredito que o insconsciente do homem jogou muito a nosso favor nesse dia. E, como por magia, o ceportém brilhou. Aquela estrelinha que sempre os fez um clube "diferente" (como eles dizem) cintilou. 1-1. 1-2. A vodka, em minha casa, começa a rodar. Mas eis senão quando, há um momento que define toda a história daquele clube: a jogar em casa uma final da Uefa, Rogério - Picanha consegue atirar ao poste uma bola que estava centímetros da baliza. Cerca de 20 segundos depois, no contra ataque, surge o 1-3 para explosão de alegria Benfiquista e russa. Contou-me um amigo que na bola do Rogério, amigos lagartos que viam o jogo no Rossio num ecrã gigante, festejaram como se tivesse entrado e festejavam o golo no chão. O meu amigo, Benfiquista, continuava de pé e disse-lhes que a bola não tinha entrado. Mas os outros não acreditaram e, no chão e em lágrimas, gritavam:
Toma lampião! Toma! Vamos ganhar esta merda! Ceportéééééém! Eu pagava do meu bolso para ver a cara deles quando se levantaram.
O jogo acaba, a Taça Uefa vai para o CSKA, Liedson continua Levezinho de Títulos, mas Douala ainda acredita virar a final em Moscovo, apesar dos 3 golos sofridos em casa. Assim se escreveu uma bela página de história.
Finalizo a minha provocação ao
mãos ao ar, lembrando ao Sancho Urraco, que quando escreve " sabes qual foi o primeiro clube português a participar na taça dos campeões? O Sporting, por convite. É que só os clubes prestigiados eram convidados a participar naquela competição. Estas informações são gratuitas, dou-as de borla - aproveita." (
aqui.), há outra informação a acrescentar - e também lha dou gratuita:
O Ceportém foi a primeira equipa de sempre a ser eliminada da Taça dos Campeões Europeus, usando o seu único atributo (a supracitada impotência) para entrar na história das competições europeias. O site da Uefa mostra-nos que o Partizan de Belgrado foi o pioneiro de uma longa história à qual o último lugar no grupo este ano acrescenta só mais uam linha. Está
aqui.Mãos ao ar!