Monday, December 07, 2009

Benfica - Académica: obrigado, Saviola (e dois apontamentos)

Sou doente. Assumida e orgulhosamente doente. Antes da bola, do espectáculo,antes de ver sequer dois passes rasteiros seguidos de pé para pé ao primeiro toque, eu quero que o Benfica ganhe. Um a zero, com a mão, fora de jogo depois de empurrar violentamente o defesa adversário contra o guarda redes, fazendo com que o segundo tenha uma hemorragia interna. Portanto, como já expliquei várias vezes, ver o Benfica é um sofrimento atroz, mesmo que esteja 4-0 a dois minutos do fim com três jogadores a mais. Porque eu só quero que aquilo acabe e que o Benfica ganhe.
Daí que ontem, no meio daquele diluvio, quando Javier Saviola picou a bola e se fez um silêncio sepulcral na Luz, senti que algo tinha mudado em mim. É que, normalmente, assim que ele inclinasse o corpo para trás e metesse o pé debaixo da bola, eu ia insultá-lo. Porque aquela não é a solução mais eficaz, a que mais vezes dá golo. E eu, dali, quero golo. Não quero rodriguinhos nem bonitos. Quero golo, porra. Quero golo e que o Jesus comece logo a pensar em tirar o Aimar porque a época é muito longa. Mas não. Fiquei feliz. E quando a bola entrou mais feliz fiquei. Porra, que coisa linda, que classe, que arrepio. Ainda hoje, a trabalhar, arrepiei-me sozinho a ver a bola entrar outra vez. Que coisa genial.
E isto é errado, porra. Eu, louco convicto, não posso embarcar nestas euforias desmedidas, nestas parvoices de festejar chapéus como se valessem mais que um golo de ressalto. Tenho de manter o criticismo e a obsessão, porque sinto que se me deixo levar me posso vir a sentir culpado se as coisas não correrem bem. Acho que acredito mesmo nisto: que sou a voz da razão do Benfica e que, por isso, não posso descansar e tenho que estar sempre atento.
Agradeço muito ao Saviola pela honra de ter visto um jogador do Benfica fazer aquilo. E ainda me arrepio ao pensar. Mas ontem foram só mais três pontos e a viagem é longa.


1º apontamento: adoro ver os verdes assim, a afogarem-se num oceano de esterco. Como muito bem foi escrito no Tertúlia Benfiquista, os lagartos têm uma existência relativa. Existem em relação a nós. Paulo Bento verbalizou aquilo que toda a gente sabe e que toda a gente soube. E o que me dá gozo é que esta crise deles tem um só culpado: nós. Quando Saviola ontem fez aquele chapéu, milhares e milhares de verde que torciam pela AAC na esperança da 5ª ou 6ª alegria da época ficaram com um nó no estômago. Como lidar com aquilo? Não há fora de jogo para pedir, não há culpa do guarda redes, não há ressalto, só classe. E 41 mil pessoas no estádio no meio de um diluvio porque jogava o Benfica, o maior de Portugal. Como lidar com isso? A crise dos verdes é o nosso bem estar, não é o facto da equipa de futebol deles ser deprimente.

2º apontamento: tenho uma nova casa. O blog será um choque para os leitores do costume (excepto para os que me são próximos e que já sabiam o que casa gasta). Espero que gostem.