Sunday, November 26, 2006

O mau aluno

É confrangedor ver o Benfica a jogar. É impossível disfarçar que ainda ninguém percebeu muito bem o que é que é para fazer, quando e como. Em casa, pela coincidência de terem sido adversários mais fracos e por ser a Luz, a coisa vai-se disfarçando com o Miccoli como artista de quem já temos saudades e com o Katsouranis como assassino silencioso.
Fora somos sempre comidos. A equipa entra já com vergonha, a ver se os 90 minutos passam depressa e se ficam todos mal na fotografia sem ninguém se afundar por aí além. Perde-se a bola à mínima de pressão e se se vislumbra momento ou jogo decisivo (daqueles em que se vê quem pode ir lá e quem não pode) é o descalabro.
O Benfica parece-me aquele aluno que quando tem que responder não pára de gaguejar e que lá vai dizendo umas coisas. É óbvio que não há estudo, que não faz os trabalhos de casa e que ou a coisa muda ou não se faz o curso (ou campeonato).
Não ando contente, não.

Monday, November 20, 2006

Movimentos II: Pirlo

Pirlo nunca percebeu porque é que aquela gente corre tanto. Porque é que há gente que se esfola, que faz correrias desnecessárias e, heresia das heresias, porque é que há médios que insistem em levar a bola até aos pés dos avançados. Há médios que, entre a azelhice e o paternalismo, insistem em entregar a bola quase no pé do avançado, sendo mais um obstáculo a linhas de passe, arranques, remates, tudo.
Pirlo é um tipo calmo que acha que é a bola que deve correr. Para quê furar um muro se há um buraco no mesmo onde a bola cabe? Para quê ir lá à frente entregar a bola "ao domicílio" quando se pode entregá-la daqui? Pirlo é um jogador de espaços (ocupa-os e encontra-os) e chega a ser difícil imaginá-lo num lance de choque. É o médio clássico que joga de pantufas, o último dos intelectuais.
Num campo cheio de trânsito, de médios que têm que correr por dois e onde encontrar espaço para estar já é difícil (espaços para movimentos, nem se fala), Pirlo é um homem "old school", que decidiu que não se deve ir de carro nem de transportes públicos. Manda-se a bola entre essa gente toda (a assistência para o golo de Grosso, nas meias do Mundial) e é muito mais rápido.

Friday, November 17, 2006

Movimentos I: Kaká

Para Kaká o movimento é sempre em frente. Kaká parece não se esquecer do fundamento mais básico disto: é marcar golos e não sofrer. Pediram-lhe para cumprir a primeira parte e Kaká, como se tivesse algo mais importante para fazer do que aquilo, cumpre-o da forma mais rápida.
Kaká é um predestinado que, porventura, nem percebe a admiração que temos por ele. Parece tudo fácil, tudo rápido. Kaká é prático e simples. É para marcar golos? Então a resposta é correr para a baliza. Ora, se para uns tal é uma missão impossível com as muralhas defensivas que se montam, para o drible curto e a potência física de Kaká o caso muda de figura. Se há muita gente à frente, chuta-se. Se não há ninguém corre-se até ao golo (vide Brasil - Argentina em Londres).
Há movimentos e movimentos. Mas para Kaká tal nem sequer faz sentido quando há um caminho masi rápido e mais curto. O que Kaká não entende, é que aquela via é só dele. Os outros têm mesmo que ir por estradas secundárias.

Sunday, November 12, 2006

Valência - Roma




Velho Estilo e Grupo Manks presentes em Valência, junto aos Ultras romanos.


Foi mais um jogo "para a colecção". Mais uma cidade e mais um estádio.
E os Ultras romanos, que mesmo não cantando por aí além, são o espelho de que nós vivemos numa realidade muito, muito distante. Num jogo com confrontos com a polícia, numa curva onde a tensão é quase palpável e quase, quase insuportável, os líderes de cada grupo estão sempre a reunir-se. A discutir. A tentar chegar a uma solução melhor para todos (e todos inclui todos os que pensam que forma diferente).
Porque há dias em que nem é preciso eles cantarem mais alto para mostrarem que estão à nossa frente.

Saturday, November 11, 2006

Coisas que eu detesto neste Benfica II

A incapacidade do Nuno Gomes ganhar uma bola dividida.

Friday, November 03, 2006

Coisas que eu detesto neste Benfica I

A maneira como o Quim nunca agarra a bola num cruzamento.


(sim, a minha senilidade obriga-me a escrever este confessionário)

Thursday, November 02, 2006

Benfica - Celtic: Estado terminal

Chego a casa e pergunta-me: "Quanto ficou?"
"Ganhámos três zero." - e deito-me no sofá como se não tivesse nada a ver com a pergunta. Mudo os canais da televisão sem procurar os golos.
"Mas jogaram bem? E o Manchester?"
"Não jogámos nada de especial. Perderam 1-0, está tudo em aberto para nós."
"Isso é bom, não é?"
"Yup." - e levanto-me para procurar um CD para a ouvir.
Não, não estava particularmente chateado. Nem me aconteceu nada extra-futebol que justificasse tanta placidez. Acontece que, como a pessoa com quem tive este diálogo me disse, eu sou um toxicodependente em fase terminal.
O Benfica, avidamente consumido por mim, precisa de impossíveis para me fazer disparar de alegria. Como uma droga da qual abusámos e que já não dá prazer. Para mim, que sou um crítico apertado, o Benfica nunca joga bem, o Nuno Gomes nunca será bom - mesmo com dois golos no Dragão - e torna-se claro que só velhas guardas italianas se podem sentar no banco. Tudo o resto é sempre insuficiente, mau e não chega. O Benfica só me faz sorrir quando vence um rival ou quando é perfeito a toda a linha. Tudo o resto não é mais que a obrigação do Benfica. Sou como um pai detestável, que mesmo que o filho tire 19,8 pergunta para onde foram as outras duas décimas.
Não é que isto me dê menos prazer, nada disso. É a incapacidade orgânica de sentir prazer. Com a insuportável certeza que, além disso, não posso deixar isto. Como um drogado que ressaca e que só quer a droga por alívio.
A nós, os drogados, resta-nos o sofrimento. O Benfica, concluí ontem, é isso. É um sofrer constante, todos os fins de semana e noites europeias. Como um filho que dá problemas em casa.
Quando o Benfica marcou o 2º ao Celtic, senti-me imediatamente aliviado (porque apesar de 2-0 aos 20 minutos não garantir obrigatoriamente a vitória, conheço tudo do Benfica e o suficiente do Celtic para saber que esta já não foge) e com a sensação de missão cumprida. Já cá vim sofrer e a minha angústia já vai ser aliviada. Foi como comprar mais uma dose e aperceber-me que era um bom produto.
Sou um condenado. Resta-me continuar este sofrimento constante até uma alegria a sério, daquelas que só ocorrem poucas vezes por ano. Mas entretanto, não há como fugir. Este fim de semana há mais.
"Mas não devias estar contente, aos saltos?"
"Sim. E não percebo porque é que não estou."


"Choose life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a big fucking television, choose washing machines, cars, compact disk players and electrical tin openers...choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on the couch, watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarassment to the selfish, fucked-up brats you spawned to replace yourself. Choose your future. Choose life. But why would I want to do a thing lke that? I chose not to choose life. I chose something else. And the reasons? There are no reasons. Who needs reasons when you've got heroin?"
Irvine Welsh
TRAINSPOTTING (1996)

"Heroin: imagine the best orgasm you have ever had and
multiply it by a thousand and you're still nowhere near it"

'Mark Renton' in TRAINSPOTTING