Monday, October 31, 2005

Naval - Benfica: Palmas à chuva

O árbitro apitou para o final e, num gesto automático, comecei a bater palmas. Fiquei incrédulo comigo mesmo. Afinal, eu, que sou a pessoa mais crítica do mundo em relação ao Benfica (no fundo, a minha forma de expressão de amor por este clube - além da escrita - é tentar encontrar qualquer defeito para que se possa corrigir) e que passei o tempo todo antes do jogo a dizer que para se ser Campeão é preciso ganhar todos estes jogos dificeis (sem os craques, sem a motivação dos clássicos ou dos jogos europeus, à chuva e com pouco público...), dei por mim a contradizer-me batendo palmas como se de uma goleada se tratasse.
A questão é que este Benfica tem entrega e garra. Sofre um golo e sente-se ferido no orgulho. Tantos anos depois, noto espírito de equipa, união entre os jogadores e comunhão com os adeptos. Este é o meu Benfica. (E antes que me ataquem por eu sempre ter sido - e continuo a ser - um acérrimo Trapatonista, tenho-vos a dizer que a consistência desta defesa tem uma alcunha gravada: "Velha Raposa".)
Já me zanguei com derrotas, com azares, com faltas de entrega, com bolas ao poste... Mas sábado não consegui. Porque ali estava o meu Benfica, no sentido em que senti que não podia exigir mais aos rapazes.


Já não ia à bola desde o Dragão - este ano vai ser complicado, leitores... - e não há nada como uma chuvada para "animar a malta". À "velha maneira", num estádio sem grandes condições (os do euro 2004 dão sempre aquela sensação que vem cá os Bulls e não uma equipa de bola), os que verdadeiramente amam isto estavam lá a gastar a garganta.
Haverá maior prova de amor do que abdicar de um sábado à noite (nem que com intervalo para ver a bola na TV) para fazer kms só para cantar pelo nosso clube à chuva? Que se lixem os poemas, as declarações, o Romeu e a Julieta e todas as tretas hollywoodescas. Amar é isto.
Força Benfica!

Monday, October 17, 2005

tripeiros - Benfica: Dia inesquecível

Tenho uma memória bastante razoável, e para o Benfica, posso dizê-lo (quem compartilha comigo a bancada que assine por baixo para eu não passar por convencido...), sou quase enciclopédico em relação às coisas que vi. E se há coisa que já reparei é que tenho flashes, pequenas fotos de vários jogos que se repetem sempre que penso nesses mesmos jogos.
A fotografia de 15 de Outubro de 2005 vai morrer comigo. Estava mesmo junto à faixa, na primeira linha e no primeiro golo o Nuno Gomes vem ter connosco. E com o braço esticado e a cara toda a gritar golo (aquela imagem de marca com a boca toda aberta, os olhos semi-cerrados e os músculos da cara todos no grito: GOOOOOOOOOOOOOOOLOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!) leio nos lábios do nosso 21, enquanto apontava para a braçadeira: "`TÁ AQUI! `TÁ AQUI! TENHAM CALMA QUE `TÁ AQUI!"
Não sei escrever o que senti nesta "fotografia". A sério, não consigo. Não há prosa para o que senti. Respirei outra vez e voltei a gritar com mais força : "GOOOOOOOLLOOOOO!!!! TOMAAAA!! GOOOOOLOOO!!" Foram segundos loucos. Não pode haver mais poesia, mais extâse que marcar daquela maneira num estádio que nos fugia.
Nunca fui grande fã do Nuno Gomes, não tenho problemas em admiti-lo (o adepto_fanático bem me avisou para a grande época que ele ia fazer... ;) Já agora: http://estadiodaluz.blogspot.com Visitem e disfrutem.) e sempre o vi como um ponta de lança sem aquela confiança ilimitada que eu quero que um 9 do Benfica tenha. Mas desde sábado que dou (sem qualquer dor...) o braço a torcer. Foste grande, Nuno. Obrigado por isso.
O segundo golo foi quase um prolongar do primeiro. Foi como se o festejo ainda não tivesse acabado. Não tenho uma "fotografia" tão nítida desse golo (mas tenho uma ferida muito palpável no joelho à pala do mosh...) , apesar de o ter sentido também grandiosamente. Agora, a imagem do meu punho cerrado à frente da minha cara, a sentir nas minhas costas o pessoal todo a cair para também se chegar mais perto dos jogadores, vai estar sempre na minha cabeça e irá, decerto, interromper muitas vezes os meus pensamentos em aulas, no caminho para casa, em qualquer lado...
Seguiram-se 25 minutos ou 30 de vingança. Foi muito tempo a vê-los a rir. Foi gritar, com todas as letrinhas: "Estamos aqui. Existimos e somos maiores. Existimos, fomos Campeões na vossa cidade e vamos atormentar-vos para sempre." Não me venham com o "desprezo sabe melhor". Quem lá esteve, quem saboreou as caras deles, quem vingou num jogo 14 anos de seca (mas sobretudo os 10 anos, lembrando que está a começar outro ciclo, aquele que é a norma do futebol portugês: Nós.) sabe que assim é muito melhor. Ou não fossem as rivalidades a coisa mais linda desta vida.
Foram sorrisos eternos os que vi no final do jogo. Troquei abraços com os meus e ri-me com eles. Matáramos o borrego e era tempo de saboreá-lo e bem temperado.

A viagem de regresso foi das coisas mais surreais da minha vida. Reparem, eu estive 28 dias a comer sandes e a viajar de comboio, portanto era a pessoa mais apta para o que se seguiu, mas mesmo assim... Foi surreal.
10 - 10!! - horas do Porto a Lisboa, com paragens em empreendimentos turísticos tão requintados como a Amieira (diga?) ou as Caldas. A chegada a St Apolónia com as pessoas todas a olharem para o relógio e com ar de espanto também será sempre outra foto para recordar.
As histórias, as aventuras e as gargalhadas dessas 10 horas ficam para mim e para os que fizeram a viagem comigo. Porque há piadas que não vale a pena partilhar, dado que só quem as vive é que se ri.
É como a fotografia do Nuno Gomes a apontar para o escudo de Campeão que vai ficar para mim e para quem lá esteve.
Para sempre.

Thursday, October 13, 2005

Tive saudades tuas, Benfica.

Estive 28 dias a curtir. Berlim, Praga, Cracóvia, Bratislava... Foi demais. Foram copos, filosofia, loucura e às vezes (nos passeios pelas cidades fantásticas (que saudades de Sarajevo...) ) saudades. Sobretudo tuas, Benfica.
Caíu o mito em Old Trafford. Perdemos comigo fora. Começo a crónica pedindo-vos desculpa. A culpa foi minha que decidi ir para os copos no dia do jogo (eu, que nunca bebo quando o Benfica joga) portanto uma superstição deve ter anulado a outra.
Vi o Benfica - Lille em Berlim, num restaurante português, com o Miccoli a fazer com que Berlim tenha acordado com o meu berro.
Benfica - Leiria em Praga, no passeio pelo Castelo à escuridão, à procura de mais um bar...
Penafiel - Benfica nas montanhas Tatra (fronteira entre a Polónia e a Eslováquia), sem rede no telemóvel, e a alegria de ver o resultado na net. Grande Nuno!
Manchester - Benfica e a choradeira em Budapeste. Não aguentei. Já tinha saudades a mais de ti, Benfica. A mensagem do meu Pai, a comunicar o 2-1 fez-me chorar. Sem ver o jogo, sem ver os golos, sem ter o ambiente, senti-te ao longe Benfica, senti quão injusto foi. E deixei as lágrimas malandras cairem.
Benfica - Vitória em Sarajevo, no meio da cidade cujas colinas à noite se iluminam. Grazie Simão.

Perguntar-se-ão se as crónicas agora vão ficar telegráficas. Não. Segue-se a verdadeira história de Benfiquismo da viagem:
Estávamos no comboio para Belgrado. Já tínhamos para aí sete horas de viagem nesse dia nas pernas e estávamos estoirados. Adormeci mal entrei no comboio. Passado um bocado acordo com a D. a falar com um australiano, também ele um "independent traveller"´, que até já tinha ido a Belgrado. Começámos a falar com ele sobre Belgrado, sobre o que devíamos e não ver e de mais viagens.
O discurso dele foi este: "I`ve been in Lisbon. I was there two days in last May. Quite a nice city with a strange night. The streets were full of people dressed in red, singing: "SLB, SLB, SLB... Glorious! SLB! Glorious SLB!" I couldnt take that song out of my head."
"22nd May?" perguntei. "Exactly!" respondeu o australiano, com ar espantado.

E de repente, voltei a 22 de Maio. Voltei ao golo da AAC e às lágrimas que me caíram quando cantei "Campeões!" pela primeira vez. Os arrepios e a loucura. A vida que finalmente fez sentido. Longe de casa, num comboio para Belgrado, um australiano que nem gostava de futebol levou-me ao dia mais feliz da minha vida outra vez.
Lembrei-me do Ricardo Rocha a cair no chão no apito final com os braços para o ar. E a cara do D. e do T. E as minhas lágrimas, teimosas e estúpidas que não caíam. E o telefonema do meu Pai e aquela felicidade toda que transbordava, exigindo com juros um pagamento de anos e anos.
Quando dei por mim, estava com a cabeça encostada ao vidro do comboio, como se do lado de lá fossem 21.30 do dia 22 de Maio de 2005, no Estádio do Bessa. Na minha cabeça, ressonante, vibrante e cantado por mim e pelos meus, ecoava o "GLORIOSO!" do "Glorioso SLB".
E aí, a não sei quantos km de casa, apercebi-me que tinha saudades tuas, Benfica.

"Excuse me?" interrompeu-me o australiano.
"Yes?"
"What were you thinking?"
"That you were in Lisbon in the happiest day of 6 million lifes."