Thursday, July 16, 2009

Memórias de um Betico (II): Denilson

Foi logo no primeiro jogo em casa. Betis - Depor 1999/2000. Um daqueles zero a zero que não se vai desatar se algo de mágico não acontecer. E aconteceu.
Denilson era, já o escrevi antes, um daqueles tipos perfeitos para se ver numa equipa com a qual se simpatiza. Louco, craque, muitas vezes inconsequente. O tipo de jogador exasperante que, às vezes, nos leva ao céu e a ter que lhe agradacer, envergonhados pela quantidade de vezes que lhe gritámos para passar a bola.
Foi a primeira vez que foi aquele estádio, ainda me ambientava a tanto verde. Chegámos muito tempo antes e o estádio já devia ter umas 15 mil pessoas. Tudo em silêncio, concentrado em não sei o quê, enquanto eu via com estes olhos que a terra há-de comer o Djalminha (lembram-se?) dar dez toques de seguida...com a canela.
As viagens a Sevilha deram-me isto: três anos de imagens de futebol. Do jogo. Tenho a sorte da minha memória as ter guardado todas, como um caderno velho que posso visitar quando quiser. Desse dia tenho várias. Tenho aquele GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLL! vindo do nada, gritado pelos 15 mil, só com jogadores a aquecer, que o senhor atrás de mim me disse ser do Celta contra o Sevilla.
Mas mais que isso, lembro-me de Deni. Da bola a ir ter com ele, dele a pisá-la e deixar um por terra. E depois meter a bola de um lado, ir para o outro e fintar o guarda redes. Penalty.
Fiquei parvo. Que coisa linda, partiu tudo. O meu pai com as mãos na cabeça, eu com um sorriso. Caraças, que coisa tão linda. Aquilo emocionou-me, mexeu com a minha adolescência. Denilson, o brinca na areia, eterno fora da lei, em acção. Os defesas, como que baleados, pelo chão. O estádio rendido.
Depois, porque así es el futbol (toda una frase, tive eu que aprender), Finidi falhou. Zero a zero.
A quantidade de metáforas que eu podia tirar daquele dia. Foi encantador, a todos os níveis. A primeira vez que eu via bola no estrangeiro, a primeira vez que fui betico. Foi o dia em que conheci Denilson, em que me pude render à irreverência e que me pude (quase) borrifar para se o penalty dava golo ou não.
Lembro-me de, no regresso, o meu pai dizer, quase para si: só aquela jogada fez render estes Km todos.

Tenho saudades de ir à bola.

1 Comments:

Blogger falsolento said...

Pois eu não consigo não ir à bola. Ainda há lugares disponíveis na Luz, de certeza.

4:08 AM  

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