Wednesday, August 30, 2006

Lógica

Premissa número 1: A FIFA penaliza clubes que recorrem a tribunais civis.
Premissa número 2: Os tribunais civis fazem valer (pelo menos, supostamente...) as leis que vigoram nas constituições.

Conclusão: a FIFA penaliza clubes que tentem que seja a lei constitucional a vigorar o futebol.

(lógica independente daquilo que eu penso sobre o Caso Mateus)


Donde se tira que o que a FIFA quer é - através da força, do medo e da chantagem pura e dura - ultrapassar o poder dos próprios estados. E em vez da indignação, há a preocupação de cada clube de não ser prejudicado. Os que mandam e os que se calam, a velha dança a dois. E os que se calam somos nós, adeptos. A malta gosta é de música...

Tuesday, August 29, 2006

The Kop





São quatro da manhã e venho arrepiado. Não vou conseguir dormir, tenho de vir escrever. Acabei de ver o documentário "The Story of The Kop", que comprei por 50 pences numa feira de domingo, onde se vendia por preços ridículos coisas que as pessoas já não queriam. Saíu-me a sorte grande.

O The Kop recebe o nome devido à batalha de Spion Kop (vejam a foto do post antes deste), na África do Sul, onde morre todo um regimento de habitantes de Liverpool. O clube presta-lhes a homenagem e em 1906 nasce essa bancada onde toda a gente está em pé. E a cantar.

Desde as canções dos Beatles (e ver a bancada toda a cantar she loves you, yeah, yeah, yeah... é mais que arrepiante) à lendária You`ll Never Walk Alone, passando por jogos míticos (como a reviravolta de 0-2 para 3-2 contra os eternos rivais do Everton em 1970. O terceiro golo é capaz de ser um dos grandes responsáveis por eu ter que escrever isto tão tarde e a más horas: o público canta Liverpool! Liverpool! para a bancada calada visitante. Os braços no ar e as bandeiras e estamos em 1970. A bancada ferve em fé. Depois, abafando a voz do comentador, começamos a ouvir aquele walk on! walk on! longo e cantado lá do fundo. Não há berros desafinados na canção, não há ninguém a trocar-se. A bancada entra em êxtase. E no and you`ll never walk...há a paragem de respiração. A bola na área e o público em bicos de pés. 3-2. E vindo de há 36 anos atrás, um imenso YEEEEEEEEEEEESSSSSSSSSSSSS!!! entrou na sala, arrepiou-me e lembrou-me porque é que este jogo é mágico, mágico, mágico...)


O documentário conta verdadeiros contos de fadas. Como o do jogador do Norwich que admite a um do Liverpool que odeia lá ir. Do pedido de apoio de Paisley que faz com que um péssimo início de campeonato acabe com o mesmo no bolso, até ao 3-2 em casa ao Saint Ettiéne, que dá a passagem à meia final da Taça dos Campeões Europeus com uma descrição maravilhosa do 3º golo, segundo um adepto que estava no The Kop. O grande final, o último jogo do The Kop, em 1994, é uma delícia imprescendível para quem vive o mundo das bancadas. Desde as velhas glórias com o cachecol aberto a cantar o YNWA(que haviam sido Kopites, como Johnson, que dizia saber tão exactamente onde estava o seu irmão no The Kop, que lhe acenava quando entrava em campo) ao agradecimento final From all the players: thank you, we will never walk alone.

50 pences por um vídeo histórico. Vemos pessoas na bancada vazia a contarem as suas histórias, a falarem do seu sítio na bancada (e todos nós sabemos que isso é tão único como o sítio onde se começa a namorar, o sítio onde nos sentávamos na primária..) e das suas memórias. Naquele último jogo, olha-se para os olhos das pessoas e vê-se que se tentava absorver tudo e festejar a imensa festa daquela bancada onde o sentido de humor e a lealdade imperavam.

Acho que há sítios que não podiam ir abaixo. Há coisas que estão acima das regras (e o The Kop sucumbe face a regras de segurança, mas nem isso me faz recuar). Há homens e mulheres a quem se deve tanto que se permitem todas as asneiras, há dias que são tão especiais que não há nada que os estrague and so on nos lugares comuns.

O que me apetece dizer - mas não encontro palavras que não façam isto parecer uma lamechice pegada - é que sítios como o The Kop, onde a proximidade física torna o mar de cachecóis mais impressionante, fazem-me sentir que faço mesmo parte de alguma coisa superior por fazer parte da tribo da bola. Irrita-me o lado religioso disto, mas é isso mesmo que sinto. O The Kop fez-me sentir que também eu, na minha loucura pelo jogo, nunca caminharei sozinho.

Walk on.

Liverpool - West Ham: eu já cantei a You`ll Never Walk Alone


Vi o Liverpool - West Ham, ri-me com os cânticos dos hammers e vi uma faixa a dizer Ultras como podem ver na foto.


Depois conto as direcções em que andei.

Thursday, August 17, 2006

Austria Viena - Benfica: escrever sobre nada

Não sei muito bem o que diga sobre o jogo. Já abri esta janela várias vezes, mas logo a fecho porque não há abordagem possível.
Ninguém se desmarca. Não há táctica - losango, 4x2x3x1, o que quiserem - que resista quando os jogadores não se mexem. Está toda a gente parada à espera da bola, com movimentos para o lado ao bom género matraquilhos. Golaço na única jogada em que a malta se mexeu. Agora é esperar que os outros sejam tão tenrinhos como mostraram.

Leiam o http://curva.blogspot.com O rapaz veste outras cores, mas escreve com muita pinta. Apercebi-me que voltou e em grande forma.
Eu, por cá, ando sem ideias. Pareço o Benfica.

Sunday, August 06, 2006

À Panenka

O futebol é, de facto, uma coisa maravilhosa. Futebol de rua, nos campos do agora veraneante liceu. Um futebol de rua com pinta, porque basta saltar o muro e as balizas têm redes. Cinco contra cinco no velho sistema de "bota fora" ao fim de dois golos ou dez minutos.
O jogo começa, preparações físicas débeis, um ou outro rodriguinho para impressionar mas ao fim dos tais dez minutos não houve golos e lá vamos nós para os penalties. Três para cada equipa. 2-2 e o jogador da outra equipa acerta com estrondo na barra.
Queres marcar? - perguntam-me. (Já agora, refira-se que costumo ir ter ao liceu sozinho, e jogo em qualquer equipa, portanto acho que a pergunta foi um género de cortesia daquele desconhecido - que as sucessivas tardes de futebol tornaram conhecido.)
Posso tentar.
E enquanto ajeitava a bola (que teimava em não ficar segura na marca de penalty), comecei a pensar em para que lado atirar. Afinal, num penalty de futebol de cinco, basta atirar a bola com força para a baliza que o guarda redes nunca defende. Depois pensei o gajo até pode não a defender, a bola pode é bater nele. e lembrei-me que o pobre coitado, apesar de ter equipamento de guarda redes, sentia-se mesmo na linha de pelotão de fuzilamento e atirava-se aleatoriamente para um lado. Ocorreu-me marcar à Panenka. Não estás propriamente na final do Mundial...
Corro para a bola com bastante balanço e no último instante, sem olhar para o guarda redes, piquei-a devagarinho para o meio da baliza. O gajo mexeu-se mesmo para a direita e a bola entrou com requintes de malvadez. A plateia delirou e riu-se.
O extraordinário é que fiquei mesmo feliz. Como se estivesse de facto na Final do Campeonato do Mundo e pudesse mostrar aquele penalty aos meus netos. A vaidade foi tanta que até me envergonhei. O futebol tem mesmo a capcidade de nos fazer crer que o mundo se discute dentro daquelas quatro linhas e faz-nos acreditar em super-heróis como quando éramos pequeninos. E o futebol de rua, com a lealdade que o outro já não tem, permite essa suprema magia: os heróis podemos ser nós.
Até me envergonho de me orgulhar tanto, mas foi mesmo um penalty muito bem marcado.


(Entretanto, este blog fez dois anos e ninguém deu por isso. Nem eu.)

Wednesday, August 02, 2006

Pré - época

Houston, we have a problem.


(Ainda me tentei enganar e imaginar que uma carga física excessiva (que traria coisas boas ao longo da época) estivesse a provocar os últimos desaires. Ontem percebi que isso foi um paradigma do chamado wishful thinking.)