Friday, December 30, 2005

6 coisas que eu amo num jogo de Futebol

Já não escrevia há algum tempo, por falta de vontade e de tema. Não sabia por onde pegar nos últimos jogos do Benfica para fazer uma crónica sobre algo que verdadeiramente me tocasse. Então estive a ler e reler uma das minhas Bíblias de adepto de futebol: "Febre no Estádio, Diário de um Fanático", uma maravilha do Nick Hornby (aconselho também o "Alta Fidelidade"). E desta vez fiquei preso num dos capítulos finais, sobre as coisas que o autor mais gostava num jogo de futebol. Pego em seis das sete coisas que o autor escolheu (não me lembro da sétima e não tenho o livro aqui!...), e vamos lá escrever, que até já tinha saudades.

1. Golos: Hornby diz que gosta de muitos e que não tem predilecção se é o primeiro ou o último de uma goleada. Refere ainda que gosta dos golos que consumam uma reviravolta.
Confesso que o 4º golo de um 4-0 não me sabe ao mesmo que o primeiro. Mas concordo absoltuamente que não há como festejar um consumar de uma reviravolta. Escolher só um golo é-me impossível, e entre todos os que marcaram a minha vida escolheria:
- O nosso primeiro em Milão (tenho de ver o filme outra vez, T. :) ), apesar do resultado final não ter sido o melhor.
- O do Geovanni em alvalade.
- O do Simão, no derby da Taça contra o ano passado.
Mas se tivesse mesmo que levar só um golo para uma ilha deserta (esta expressão, deliciosa, é do Hornby) hesitava entre o da AAC no dragão, o 3º do JVP no 3-6 (não estava no estádio, tinha só 10 dez anos, mas gritei e dei voltas à casa) e o 4º em Leverkusen (segundo o que o meu Pai me conta - eu não me lembro - parei de respirar).

2. Um árbitro contra: eu não concordo, mas percebo. Um árbitro que nos prejudique (mas que nã0 nos roube completamente o jogo), acaba por ser mais um inimigo e quando as coisas correm bem acaba por ser mais um alvo a quem gritar "Toma!". Eu, pessoalmente, odeio árbitros que apitem contra nós (logo, todos), mas pegando na filosofia do Nick Hornby, gostei da forma como a Luz transformou um árbitro que expulsara mal o M. Fernandes e poupou uma expulsão óbvia a um defesa do Estoril num árbitro capaz de ver aquele penalty sobre o Karadas (o meu barbeiro continua a dizer que o Karadas foi agarrado e é penalty).

3. Público em grande, em especial quando se está a perder e a jogar bem: não há nada como sentir que levamos a equipa para a frente (e aqui não incluo o estar a ganhar, é mesmo levar a equipa para a frente). Escolhas óbvias: o derby do 0-1 do geo em que alvalade estava calada a ver a curva encarnada abafar com aquele arrepiante "FORÇA BENFICA! la la la la la la..." (e escrevo isto a cantar....) enquanto o resultado ia a zero. Nunca mais me esqueço do croata que está lesionado no porto a puxar por nós ou do Álvaro - saudades tuas, homem! - a cerrar os punhos como se estivesse a cantar tamnbém....; ambiente da Luz com o Man United. Indescritível, ao ponto de todos os jornais ingleses falarem do assunto e de um senhor como Sir Alex, com muitos anos de bola e muitos estádios míticos percorridos, ficar impressionado.

4. Penalty falhado pela equipa adversária: é daquelas coisas que sabe mesmo bem. É um momento humilhante para os rivais, que estão já com aquela carinha de quem nos vai gozar e fica com um semblante de quem levou dois golos de seguida.
O do Miguel Garcia para a Taça e o do Adriano no Nacional - Benfica o ano passado. O primeiro por ser o consumar de uma grande noite e o segundo porque assisti ao mesmo....por telefone! Estava num jantar de anos e o meu Pai telefona-me, lixadíssimo, "Penalty para eles."
A mesa, com muitos verdes e azuis à mistura, espera notícias e pergunta-me: "0-2? 1-1?". Eu: Não, penalty para o Nacional." A mesa festeja como se já tivesse sido golo, mas eu mantenho-me calado. "Então? Ainda não foi?" - lá me pergunta uma lagarta. Eu continuo calado e de repente... "FALHOU!" e ri-me desmusaradamente.

5. Expulsão de um membro da equipa adversária: quando o jogo está quentinho e animado é mais um daqueles momentos de ódio colectivo para o público da nossa cor. Quando é um jogador odiado ainda sabe melhor. Escolho com muito amor: Hugo Viana para a Taça e Beto no derby do Luisão. Tive a sensação clara que a Luz, se pudesse, os enforcava ali mesmo.

6. Nick Hornby escolhe para a última coisa preferida um incidente durante o jogo, referindo-se a, por exemplo, uma cena de pancadaria dentro do campo. Eu não acho muita piada porque fico sempre em pânico à espera que os nossos sejam todos expulsos (depois das chapadas ao Simão por três jogadores e nenhuma expulsão tenho um trauma com este género de coisas), mas em termos de incidentes prefiro uma chegada ou recepção "quentinha" ao estádio.
Escolho o derby de alvalade deste ano. O que se passou fica para quem lá esteve.

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Já agora, os meus momentos de 2005:

Pior:

- Golo do Miguel Garcia ao AZ Alkmaar. Admito que pensei para mim mesmo que uma coisa tão boa não podia acontecer aos verdes. Mas depois percebi que era tudo uma partida divina.
- Derrota com os lagartos à terceira jornada.
- Perder a Taça.
- A derrota em Penafiel (o dia mais doloroso do ano desportivo, para mim.)


Melhor:

- 18 de Maio.
- A vitória no dragão.
- O derby da Taça, um jogo que teve quase todos os pontos apontados por Nick Hornby
- 14 de Maio.
- 22 de Maio.

(por ordem crescente)


Os desejos para 2006... Os óbvios e outros que são só meus!
Bom ano! (em termos clubísticos isto só para os meus, em termos pessoais é que é para todos.)

Monday, December 12, 2005

Benfica - Manchester United: Fez-se Luz

Em primeiro lugar desculpem a demora. Estou sem net e é na minha faculdade, já uns dias depois, sem o calor do jogo que vos escrevo.
Em segundo lugar: esqueçam a crónica do jogo com o Marítimo porque nem lá fui e não me apetece escrever sobre o mesmo e quando tiver tempo escrevo a do Boavista.

Em terceiro lugar: a crónica. Espero que gostem.

Há noites mágicas, daquelas para contar aos netos. "Eu estive lá nesse jogo..." , diremos, com lágrumas ou não. Se a memória não nos atraiçoar vamos lembrar-nos dos golos, e mesmo que não nos lembremos de pormenores específicos, vamos sentir sempre um calafrio na espinha e, como se fossemos de repente transportados para o Estádio da Luz, para o mesmíssimo local onde vimos o jogo, vamos sentir o arrepio daquele:
"BEN FI CA! BEN FI CA! BEN FI CA!" ensurdecedor, enlouquecedor e imenso. E aí, quando um dos nossos netos estranhar o nosso silêncio, vamos largar um suspiro e dizer que somos do Benfica e que isso nos envaidece...

Eu sou demasiado pessimista. A culpa é de ser tão doente e de ficar tão mal disposto quando não ganhamos e, pior, de quando eu acho mesmo que vamos ganhar. Aprendi, à custa de muitas lágrimas e noites sem dormir, que me vai doer menos não ganhar se eu não sonhar com isso.
Acontece que sou pessimista porque sou doente, mas que sou ainda mais doente que pessimista e a doença ganhou. Na manhã de quarta feira acordei com um grande feeling.
"Até os comemos." - pensei. Mas depois retirei logo a expressão porque normalmente é dita por outro grupo que eu não gosto. E numa expressão bem mais Benfiquista disse, sozinho no quarto, "Vamos a eles, Rapazes!" a alto e bom som. E comecei a acreditar.

Quando cheguei à Catedral, a malta do costume (um e outro abraço para eles) até estranhou o meu sorriso. Afinal, eu, treinador de bancada, pessimista de profissão e ave de mau agoiro eterna, estava confiante para um jogo com o Man Utd estando o Benfica sem 5 titulares.

Ainda fetsejei o empate como normalmente festejo: um esticar de braços, um "Golo!" seco, de raiva e sofrimento, mas deixei escapar outra vez para mim mesmo: "Vamos ganhar esta merda...". Algo em mim tinha mudado e aí, percebi. Era a Luz. E fez-se Luz.

É-me dificíl explicar isto a quem não é Benfiquista, porque há algo de genético nos clubes. Há clubes que nasceram para falhar nas alturas decisivas, há clubes com uma sorte crónica, há clubes cujos árbitros os vão sempre ajudar.
O Benfica é o clube do "Ninguém Pára o Benfica!" quando a equipa é seriamente limitada.
O Benfica é o clube das massas, do povo, do "BEN FI CA! BEN FI CA! BEN FI CA!", gritado sem parar para respirar, até se perder o folêgo.
O Benfica é o clube onde quando se olha para os adeptos fora do estádio, encontra-se sempre alguém que tem todo o ar de quem lá vai sempre e alguém com o ar de quem nunca lá foi.
O Benfica é o clube em que os adeptos são capazes de ser maus jogos a fio para um jogador, mas de lhe perdoar tudo por 90 minutos.
O Benfica é o clube cujo estádio é capaz de, às quartas à noite, fazer viagens no tempo até aos anos 80.
O Benfica é a histeria quando o Mantorras entra.
O Benfica é Mágico.
O Benfica é (a) Luz.

E o que se passou a partir foi magia. Foi eu não conseguir falar com o D., que estava mesmo ao meu lado, porque o Manchester tinha a bola e a Luz toda assobiava. Foi cada passe falhado deles ser comemorado como um golo.
E depois foi o golo do Beto. Não foi aquele "GOOOOOOOOOLLLLLLOOOOOOOO!!" clássico, foi um grito brutal, que era ao mesmo tempo a festa para os nossos e um grito de aterrorização para eles.
E, por feitiço ou por Luz, libertei-me. Festejei um golo que tinha sonhado (o da vitória, o de uma reviravolta impossível) e soltei-me como já não me soltava há muito. Permiti-me sonhar e sonhei à vontade. Naquele momento, sem tirar nem por, fiquei com a nítida sensação que tinha levantado vôo. E à minha volta só havia Luz.

Seguiram-se 45 minutos com um estádio em delírio e nós nem da toca saímos. Cantámos o "Ninguém pára o Benfica!" quando só queríamos a bola longe da área, aplaudimos cada pontapé de alívio, assobiámos cada respirar do Cristiano Ronaldo (permitam-me parar para dizer que DELIRO quando se assobiam ídolos dos parolos da selecção.) e os ataques do United tinham-nos tambéma nós como defesas. E às tímidas tentativas de apoio das hostes inglesas, o estádio respondia com o: "BEN FI CA! BEN FI CA! BEN FI CA!" e os nossos pareciam correr mais.

Foi eterno. E quando os meus netos me perguntarem como foi o jogo, talvez só me lembre do apito final e de estar abraçado ao D., com os punhos no ar, cheio de Luz à minha volta.
E acho que lhes vou dizer um "Sim..." tão arrepiado que eles não ver perceber que os meus olhos ausentes só vêm uma Luz vermelha à volta deles.