Saturday, October 30, 2004

Vergonha...




Não há descrição possível para esta fotografia. Estive tentado a por só: NO COMMENTS. Mas há comments. Têm que haver. Mesmo que o Rui tivesse mandado bigornas e pianos para cima do cortejo azul - facto que já agora, não aconteceu - isto não pode acontecer. Chama-se abuso policial. Deixemo-nos também de hipocrisias: os grupos não são feitos de "anjinhos". Não somos propriamente meninos de coro e quem cá está sabe com o que contar. Mas daí a isto... Vai um bom bocado. Não somos animais nem atrasados. Só temos uma coisa de (muito) diferente: amamos o nosso clube. Mas sejamos francos: a nossa fama na opinião pública é bastante má. O que faz com que - veja-se quão baixo descemos na opinião pública - há ainda quem desculpe o que se passou, quem não dê importância, etc. Pela primeira vez, é a altura de os Ultras de grupos rivais se juntarem e começarem a lutar pelos seus ideais e direitos. O que se passou com o Rui pode passar-se em qualquer estádio do país. A repressão, como já viram, está ao rubro e em grande forma. Uma acção conjunta seria um passo decisivo para o mundo começar a ver que também temos direitos e que estes não são respeitados. Em Itália, onde o ódio (e o respeito...) entre os grupos tem proporções inimagináveis por cá, isso foi possível. Terão os Ultras portugueses maturidade para tal? Outra questão é que para existir moral para criticar a fotografia (obviamente que há - isto só se justifica se... Esperem! Isto não se justifica!!!) também temos que por a mão na consciência e começar a pensar se apedrejar autocarros não é ser tão estúpido como os animais que fizeram isto. Para finalizar deixo um grande abraço ao Rui e a todos os outros que já foram vítimas de actos tão cobardes e nojentos como este.

Benfica - Oriental: Garra

Num jogo quase sem interesse que pouco tinha a discutir a não ser o evitar de uma surpresa, a garra com que cantámos na segunda parte foi, no mínimo, educativa. Aquele "Amar Perdidamente" com a cachecolada de umas meras dezenas de gato-pingado foi sentida e forte. Veio mesmo lá do fundo, de todos nós que amamos o nosso Mágico emblema.
Detesto analisar a fundo coisas de que gosto. Acho que aquele momento, assim como certas músicas, livros, poemas, não se disseca nem se analisa como uma equação matemática. Simplesmente vive-se. Sente-se e ama-se. Como o Benfica.

Benfica - Nacional: Repressão

Imaginem que estão a segurar uma tarja que diz "Repressão autorizada, liberdade ameaçada" e vem um polícia retirar a frase. O que é que pensam? Recuámos além do 25 de Abril de 1974?
A partir do momento em que: gritar "Filhos da puta" dá uma multa de 200 contos ao meu clube, frases com palavrões são retiradas, tochas são consideradas "objectos de arremesso" e o bastão sai com uma facilidade perigosa, poderei dizer dizer que eu, enquanto Ultra, sou livre?
Quando a televisão, os jornais, os filmes de cinema, etc, podem dizer o que lhes apetecer - bem ou mal - porque é que o meu grupo não pode gozar com a polícia? Porque é que não podemos gozar com uma gaja qualquer que graças à sua subida-social-via-vaginal pode gozar com o meu clube?
Será que este blog será também vítima de censura? Será que daqui a uns dias um grupo Ultra não pode cantar contra a direcção do clbe adversário ou contra a $AD do seu próprio clube? Com que direito?
Mas nós, os "marginais", "vândalos", "atrasados mentais", "mentecaptos", afinal somos assim tão incómodos e perigosos que a polícia possa censurar frases que falam de censura?


Liberdade para os Ultras!



PS - Suspeito que nos próximos jogos a própria equipa de arbitragem pode marcar golos ao Benfica. Pelo menos era original. Ou não.

Sunday, October 24, 2004

Benfica - Heerenveen: Profissionalismo e pormenores

No 2-2 irritei-me. Como todos os adeptos, às vezes perco a paciência. Porque é que o Petit faz um passe a queimar ao Paulo Almeida, que por sua vez também estava a dormir e como é que aquele holandês chega à área a tempo de rematar quando estavam 4 jogadores à volta dele?
Ok, eles depois remediaram a situação, mas para quê tirar-me mais anos de vida? O Trap tem o coração forte, mas acho que por este andar eu é que não chego à idade dele...
Irritam-me as faltas de profissionalismo. Se já me chateio porque determinada pessoa é incompetente, imagine-se com o meu clube. Fico mesmo fodido. Tenho vontade de lhes gritar na cara que faço muitos Km e gasto dinheiro a mais para ver aquele emblema e que estava a começar a ver cada gesto de falta de atitude como um gozo a tudo o que dedico ao Benfica. Pior, aquilo era um gozo ao Benfica.
Fico pior que estragado quando os jogadores não correm, quando adormecem e se esquecem que têm ao peito um símbolo com mais de 100 anos. Irritam-me aquelas corridas sem fé, aqueles lances em que parece que não se querem aleijar.
Ser do Benfica é, para mim, um privilégio, um feito magnífico que às vezes me parece uma cto heróico, tal o orgulho que tenho nisso. E detesto que gozem com isso, como gozaram os jogadores naqueles minutos em que se esqueceram que tinham 15 mil resistentes e que são jogadores do maior clube do Mundo.
Valeu o acordar e o salvar a honra. Mas se por milagre algum desses meninos ler isto: não repitam a gracinha de se esquecerem do que vestem ao peito.


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Às vezes, dada a quantidade de jogos a que vamos, esquecemo-nos de pormenores mágicos do jogo, já que a coisa se torna "banal". Vieram algumas dezenas de holandeses apoiar o seu clube. Numa quinta - feira à noite teriam provavelmente mil coisas para fazer, mas fizeram Kms e Kms para apoiar o clube do seu coração, e cantaram com fé e força. Honra a essas dezenas de holandeses e a todos os outros que fazem o mesmo e que, como eu, às vezes se esquecem de como isso é grande.

Tuesday, October 19, 2004

Se o campeonato fosse de fórmula 1 era porreiro, porque não havia árbitros.

Sunday, October 17, 2004

Benfica - tripeiros: a piada

Antes de todos os Benfica - porto / porto - Benfica repito a mesma piada: "Quero ganhar a roubar. Um penalty escandaloso ou um fora de jogo claríssimo. Melhor: estar a ganhar 1-0 e no último minuto um defesa nosso tira a bola com a mão." Respondem-me sempre que é melhor ganhar limpinho, etc. Contra-respondo que era só para eles verem como elas mordem. Como é duro sentir a impotência de ser uma e outra vez melhor do que eles e depois ser roubado. Todos os anos desejo o mesmo.
E todos os anos há uma outra piada que se repete.

Saturday, October 16, 2004

Véspera

Na véspera, o clássico arde. Já se lançou toda a lenha para uma fogueira que nunca precisou de muito para ser atiçada e agora resta-nos esperar só mais um bocadinho...
Sonhar os golos no último minuto, rezar para o árbitro não nos roubar (como naquele ano e naquele e naquele....) e cumprir os últimos rituais para disfarçar o nervosismo. Tudo como se a nossa vida se decidisse amanhã...

"O Futebol não é um jogo de vida ou morte. É muito mais do que isso." Bobby Robson

Wednesday, October 13, 2004

Itália VI: Fotos (parte II)

Bem, depois de alguns problemas técnicos devido à minha azelhice com o programa para por fotos no blog, finalmente estão disponíveis algumas fotos da viagem e desta vez se carregarem nas mesmas...elas aumentam.
Desculpem qualquer coisinha, mas isto não é um blog profissional... (lol).
Tifo dos Fedayn
Cachecolada viola
Sede dos AS Roma Ultras
Curva Maratona

Monday, October 11, 2004

Primeira foto!


Só agora aprendi a por fotos, portanto cá está a primeira imagem do nosso pano (ao canto direito) no Delle Alpi. Posted by Hello

O Athletic Bilbao e Francesco Totti

Na viagem para Itália, eu e o RC concordámos que o Athletic de Bilbao era a última equipa contra o futebol moderno. Resistindo a Franco, os bascos recusaram-se a mudar o seu nome de Ahtletic para Atlético, facto que aconteceu a todas as equipas que tinham esse nome - como por exemplo, os colchoneros de Madrid, antes Athletic, hoje Atlético. Logo nesta preserverança pela identidade - aliada a motivos políticos, é certo - se vê toda uma garra e uma nobreza incomuns.
Numa altura em que a Lei Bo$man torna o futebol quase impraticável para os clubes médios ou pequenos, os leões de Bilbao investem na cantera e só apostam em jogadores da região. Recusam-se a sujar a sua "camiseta" com patrocínios e fazem com que os seus sócios se orgulhem do seu clube não só pelo seu belíssimo historial, mas também pelos seus valores, que fazem questão de perpetuar.
Fossem todas as equipas assim, e o Futebol era um espectáculo cultural ainda mais imenso.

Na Curva Sud, no meios de vários estandartes imaginativos, é bastante comum ver-se a cara do número 10, Francesco Totti. Não estando sequer no meu top 10 de jogadores favoritos enquanto futebolistas, não posso deixar de lamentar a falta de um Totti no meu Benfica. Totti é dos últimos guerreiros que ainda sente a camisola. Jogar dos 16 aos 26 (salvo erro) na mesma equipa é algo bastante incomum nos dias que correm. Mostrar a mítica striscione "Lixei-vos outra vez!" na camisola à Curva laziale num derby é de dar arrepios a qualquer amante de uma equipa de futebol. Quem não sonha com um capitão, número dez, que mostra uma camisola a gozar com a claque dos nossos maiores rivais?
"C`est solo un capittano!..." canta a Sud. E bem.

Honra ao Athletic de Bilbao e a Francesco Totti, dois dos últimos baluartes contra o futebol moderno.


Saturday, October 09, 2004

Guimarães - Benfica: Miki e o Futebol Moderno

Como já devem ter percebido, uso este blog para escrever sobre o que me der na real gana, tendo sempre o jogo como pano de fundo. Nenhum prazer tiraria de escrever que estiveram presentes "x" Diabos e "y" No Name.
Aproveito então o jogo Guimarães - Benfica, em que tal como o ano passado vencemos ao cair do pano, para falar do caso Fehér e da minha perspectiva sobre o mesmo:
A queda do número 29 no dia 25 de Janeiro foi um momento que poucos esquecerão. Pela forma como vimos como é ténue a linha entre a vida e a morte, e pelo facto de ter sido para a maioria das pessoas (incluo-me no grupo) a primeira vez a que se assiste a uma morte. De repente, todos os clubismos, insultos ao árbitro e demais alienações deixaram de fazer sentido. O choque começa a ser maior se atendermos ao misticismo que tem a profissão de jogador de futebol, já que não há criança saudável neste Mundo que nunca quisesse ter sido jogador da bola. Mas provavelmente, uma ou duas desistiram do sonho, porque viram que os seus heróis também são mortais.
Nestes últimos dias tive o prazer de assistir a aulas de Medicina do Exercício Físico, onde se falou, claro, de Medicina Desportiva (não, não é a mesma coisa) e claro está, do caso Fehér. Acontece que o caso nunca foi muito conclusivo a nível de causa de morte e segundo o médico que nos deu as aulas, a causa não estava - segundo o relatório - no grupo de causas às quais se atribuem uma grandíssima maioria dos casos de morte súbita. Pergunta-se: doping? Quero acreditar que não.
Da negligência que matou Pavão - o jogador tinha uma estenose aórtica, o que, para quem não sabe, hoje daria um linchamento público ao médico de então - podemos ter chegado a um ponto em que os jogadores são obrigados a níveis sobre-humanos. E jogadores que sabem que têm no máximo 10, 15 anos de carreira podem ser levados a cometer loucuras. Mesmo que não se tenha dopado quimicamente (e sublinho de novo que não há provas que tal tenha acontecido, logo tal afirmação não pode ser feita.), Féher e todos os jogadores são sujeitos a esforços físicos que se sabe serem prejudiciais ao corpo humano. O de Féher não aguentou. O Futebol Moderno, na sua industrialização que já fez desabar praticamente todos os valores puros do Verdadeiro Futebol, pode estar a chegar a um ponto criminoso em que até os seus próprios praticantes estão em risco. E assim, cada vez menos miúdos hão-de querer jogar à bola.

Friday, October 08, 2004

Esclarecimento

Peço aos meus fiéis leitores as mais humildes desculpas pelo atraso. A minha net teve um problema que ainda não foi resolvido e para escrever tenho que ir a outros computadores. Em baixo encontram a quinta crónica de Itália e brevemente sairá a do Guimarães - Benfica.

(Com esclarecimentos destes - à la ultras12 - qualquer dia ainda vêm dizer que ganho dinheiro com isto.)

Um abraço e obrigado por aparecerem!

Itália V: Roma - Dínamo Kiev

Depois do jogo de domingo, tivémos os dias turísticos de segunda, terça e quarta. Coliseu, Museu Vaticano, Fórum Romano... Quilómetros atrás de quilómetros nas pernas para quem já tinha muitos feitos de carro. Enchemo-nos de cultura e entretanto visitámos as lojas/sedes de grupos da cidade. As diferenças são gritantes: desde a comercializção obscena dos Irri, com fatos de banho do Mr.Einrich, roupões, roupas para bebé... Enfim... MERCANTI! De outro lado, a tentativa de ser Irri, por parte dos Boys Roma: dois bustos do Mussolini à entrada (sem comentários), e um aspecto muito "Zara", com uma organização para venda. Por fim, a dos ASR Ultras: uma sede "clássica": muita desarrumação, cachecóis e autocolantes na parede, uma maglia do Aldair emoldurada, em honra aos 13 anos romanisti do ex-Benfiquista e muitos, muitos desenhos relacionados com o emblema da AS Roma.
Fomos recebidos nesta última sede fantasticamente. Ficaram com um sorriso quando referimos o nosso clube (que grande é o teu nome, Benfica!) e foram de uma cordialidade extrema, oferecendo-nos gorros´, bandeiras e...um só cachecol, que saíu ao amigo RC. Fiquei a arder nesse aspecto. Tirámos fotos "para mais tarde recordar", e combinámos que nos veríamos na quarta, para lhes podermos dar material do nosso grupo.
Antes do jogo, nas imediações do estádio, encontrámo-los. Oferecemos cachecóis do nosso grupo e a sua felicidade foi imensa. Foi com orgulho, que vi um cachecol do meu grupo a ser empunhado pelo Ultra que liderava a Curva (não era o capo, mas o "homem do megafone").
A Sud é mágica, mesmo num dia mau, como foi o desse dia.
Apesar de não se sentir uma força estrondosa persistente nos cânticos, sentia-se aqui e ali qualquer coisa de fenomenal. Desde a cachecolada no hino da Roma, ao fumo mesmo aberto ao meu lado, tuo tinha um toque...de fantástico. É de facto uma curva "Fantástica, super fantástica!...", como diz o cântico. Mas no meio de uma primeira parte de fotografias e de captação de pormenores fabulosos (apesar de escondidos, aqui e ali) veio um momento que ainda hoje me arrepia: ao intervalo, o marcador electrónico ia passando os resultados da jornada da Champions: Bayer Leverkusen 3 - R.Madrid - 0... e de repente Ajax - 0 Juventus -1. O efeito é fenomenal: um coro imenso de assobios e o cântico mais que mítico: "Il Lunedì che umiliazione andare in fabbrica a servire il tuo padrone, oh juventino ciuccia piselli di tutta quanta la famiglia Agnelli... e JUVE MERDA, e JUVE MERDA". O pessoal todo a levantar a voz, montes de gente a bater no acrílico... Todos com um ódio eterno à Vecchia Ladrona. Cá está uma das maravilhas desta viagem: eu conhecia o cântico do que me contavam, o RC do "Ultra, assalto ao estádio", mas ali, vivemo-lo. Cantámo-lo. E foi demais.
Fomos então ao sector dos ASR Ultras falar com os Ultras que conheceramos na sede. Oferecemos a vários elementos dos ASRU a revista "ADEPTOS" - que já agora sugiro que compreme colaborem - e tomámos contacto com uma realidade algo surpeendente: os ASRU são só e apenas 40 e têm à sua frente um rapaz de 22 anos. Afastados os elementos que envenenaram o grupo, estão a tentar dar uma volta ao grupo líder edsta Curva mítica. Nisto, enquanto dávamos as revistas, eles reparam no nosso pano embrulhado na mochila do RC. Tiram-no e vão pô-lo em cima da faixa deles. Nós ainda tentamos dizer que não mas eles, bem ao modo italiano, respondem-nos: "É uma honra para nós." Palavras para quê?
Seguiu-se um fabuloso jantar com os nossos amigos, onde rimos, oferecemos prendas e nos despedimos. Que dia fabuloso...

Na manhã seguinte partimos para Barcelona, onde estivémos com um Ultra do RCDE e com "um dos nossos", o grandíssimo D., que nos deu alojamento. Depois de algumas horas de sono, o regresso a Portugal, onde finalizaríamos a viagem de 5100 km a assistir a um aparatoso acidente mesmo à nossa frente, depois da ponte 25 de Abril. Estávamos de volta e já tínhamos saudades de Itália.

Friday, October 01, 2004

Benfica - Braga: uma analogia

Uma grande amiga minha, sempre curiosa com o meu fanatismo,perguntou-me dois dias antes do jogo: - "Agora com o Benfica em primeiro estás muito mais calmo, não?"
A pergunta é obviamente inocente e de quem não vive Futebol. Fiz-lhe então uma analogia:
- "É mais ou menos assim: imagina que estás apaixonada por alguém. Vamos agora por duas hipóteses: na primeira essa pessoa nem sequer te conhece e tem uma namorada que sabes que nunca vai largar. Na segunda hipótese dás-te bem com esse rapaz, esse rapaz é livre e há alguma química com ele. Pedes-lhe namoro.... e ele pede-te tempo. Que hipótese preferes?"
- "Obviamente a segunda."
- "Tens noção que podes sofrer um grande revés..."
- "Claro, mas tenho que saber."
- "Mas vais estar mais calma?"
- "Claro que não!"
- "A questão é mesmo essa... Nós estamos há 10 ou 11 anos a levar tampas da rapariga que queremos. E pela primeira vez em muito tempo ela pisca-nos o olho. É óbvio que estou mais nervoso. Mas mais feliz."

No Benfica - Braga o que aconteceu é que a rapariga não nos atendeu o telefone ou saíu com outro, ou outra qualquer analogia do género. Resta-nos continuar a lutar, porque afinal, se na semana passada nada estava ganho, não é nesta que está tudo perdido.