Thursday, June 22, 2006

Mundialices II. Tenho saudades tuas, Itália 90

Porque gostas tu, um trappatonista, do Brasil?
Não consegui responder. Fiquei a pensar mesmo muito. E depois, o Lupin IV respondeu-me nos comentários do post anterior.
O que acontece é que o Itália 90 marcou-me. Acho que são as minhas primeiras memórias futebolísticas. E aí, gostava do Brasil por causa dos jogadores do Benfica. Valdo, Ricardo Gomes, Mozer... E a coisa ficou. E depois a Itália. A do "Totto", do Baggio divino a fazer aquele golão à Checoslováquia e do Maldini puto.
Aquele Mundial foi mítico e não me interessa o que dizem os críticos. As meias finais épicas, com aquele toque de ironia de Maradona a bater a selecção no seu estádio e a dividir os napolitanos. Havia um louro de cabelos longos, rápido e venenoso que se riu quando o Brasil foi eliminado (e quando fez Walter Zenga sofrer o primeiro golo daquele Mundial). E o Lineker (que o meu pai me disse nunca ter levado um amarelo) e as meias finais com a Alemanha, num jogo honesto, físico, com uma bola em cada poste em pleno prolongamento e aquela imagem do Gazza a chorar por levar o amarelo que o impediria de jogar a hipotética final.
Tudo foi genial e fiquei a amar futebol desde aí. O meu pai a rir com o penalty falhado pelo tripeiríssimo Timofte, a alegria dos Camarões e o Higuita a perder aquela bola para o Milla. Lembro-me de quase tudo. E tinha seis anos. Lembro-me do hattrick do Michel à Coreia, de um senhor chamado Michel Preud`Homme defender tudo e mais alguma coisa e das cuspidelas do Inter - Milan, versão selecções (nesse dia, aprendi que uma falta na linha da área era penalty. Marcou o Koeman! - e já agora, quem é que quando se lembra dos saltos do Brehme a festejar o golão nesse jogo não repara no Andreas Moller novíssimo?)
O guarda redes argentino (Goikotchea!) que defendia montes de penalties e que ficava com as mãos nos joelhos e quietíssimo antes dos adversários rematarem, o Ivkovic a defender o penalty do El Pibe e o Brolin a marcar um golo e a dar aquele salto a rodar.
Esse Mundial marcou-me tanto que hoje me faz confusão que Portugal participe mesmo num torneio daquela envergadura, que já não haja equipas tão míticas como aquelas e que o futebol tenha mudado tanto. Acho que é por isso que simpatizo com o Brasil (dos jogadores do Benfica), Itália (de Baggio, Giannini, Zenga, Bergamo, Maldini, Serena...) e Argentina (Caniggia e Maradona). Eu sei que é estúpido, mas era miúdo e gostava dos que jogavam bem.
No fim ganharam aqueles rapazes a quem não liguei desde o início do torneio e que puseram um defesa esquerdo a marcar o penalty decisivo da final com o pé direito. Aí, o meu pai citou Lineker e explicou-me que o futebol são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha.

E mesmo assim, eu fiquei a adorar o jogo.

Saturday, June 10, 2006

Mundialices 1. Jogo Inaugural

Escrito para outro blog, cá vai um texto de quem tem muito que estudar (e pouco tempo para escrever)=e que acha que nós, os doentes, sacrificávamos de bom grado a praia e fazíamos os exames em Agosto para podermos ver o Mundial à vontade.



Itália`90: Argentina - Camarões. O meu pai, sempre preocupado com a minha educação, explica-me o que se vai passar. Isto acontece de quatro em quatro anos e é o torneio de futebol mais importante do mundo. O primeiro jogo é sempre o Campeão do Mundo contra alguém. A ocasião prometia e eu até parei de brincar com os subbuteos. Eu nem sabia - aos 6 anos - que havia um país chamado Camarões e imaginei-os com um equipamento da cor dos animais seus homónimos. Mas sabia que havia um tal de Maradona do outro lado. E o meu pai, do alto da sua sapiência, disse-me que a Argentina devia meter três ou quatro nas calmas. Um zero para o país que jogava de camisolas verdes e calções vermelhos (e não da cor dos camarões) e a autoridade paternal posta em causa.

EUA`94: Alemanha - Bolívia. Não achei muita piada ao facto do Mundial ser nos States. Não, ainda não tinha consciência política, mas os jogos davam tarde. Apesar das responsabilidades académicas serem bastante reduzidas aos 10 anos, a autoridade da minha mãe foi uma barreira chata que me impediu de ver alguns jogos na fase de grupos (felizmente fiquei de férias cedo). Avanços diplomáticos do meu pai interecederam a meu favor conseguindo autorização para ver o primeiro jogo. Houve um estúpido de um boliviano (Etcheverria, se não me falha a memória) que conseguiu levar um cartão vermelho aos 2 minutos. O meu pai explicou-me que não gostava da Alemanha porque antigamente eles tinham tido um regime político mau. E foi a ver a Alemanha ganhar 3-1 (se não me falha novamente a memória...Já lá vão 12 anos, malta) que o meu pai me explicou o que foi o regime nazi.

França`98: Brasil - Escócia. O meu tio não percebe nada de futebol e torceu pela Escócia. Fiquei triste porque o meu Brasil - por quem torço todos os Mundiais - tinha uma equipa tão estranha que precisou de um golo marcado meio com a cabeça meio com o ombro e de um penalty duvidoso para ganhar aos cepos dos escoceses. O meu tio anunciou logo a tragédia que viria a acontecer na final e disse que o Brasil não ia ganhar.

Coreia/Japão 2002: França - Senegal. Mais um Mundial num país esquisito com jogos a horas esquisitas. Sexta feira, 12.30: "Senhora Professora, está aqui a minha auto-avaliação e quero-lhe dizer que não venho a esta nem às duas próximas e últimas aulas porque há jogos do Mundial. Prometo estudar muito para os exames e tentar entrar na faculdade." A pobre senhora ficou demasiado espantada para conseguir contra-argumentar. Eu avisei-a o ano todo que não ia faltar porque sabia que em Junho ia ter montes de jogos a ocupar-me a agenda. Ela achou que eu estava a gozar. É quase uma impossibilidade física explicar a alguém que é possível vibrar com os poemas de Pessoa e dar gargalhadas com o golo que o Senegal marcou aos franceses sem ser considerado doente psiquiátrico.

Alemanha 2006: A minha empregada fez qualquer coisa esquisita à box da T_ _ _ _o (não à publicidade!) e perdi o Alemanha - Costa Rica. Confesso que ainda não recuperei do choque