Friday, April 18, 2008

O dia em que o meu clube tentou divorciar-se de mim

Tschc, tschc. O isqueiro falha. Nem um cigarro consigo acender. Quando levanto os olhos, a visão que antecipei quando o jogo acabou: o olhar paternalista dos meus amigos assim que chegasse a casa. Tens que largar isso.
E aí percebi. Foi como se um grupo de amigos me dissesse que tinha que ser, que eu tinha que aceitar o divórcio. Que aquela não era a mulher para mim. O paralelismo fazia todo o sentido: imaginem o cenário da chuva lá fora a bater na janela, eu com um cigarro que não acendia e amigos a dizerem-me que eu não podia sofrer tanto. Parecia um divórcio.
E no fundo, foi como se fosse. Um quero o divórcio, assim a seco. Como se fosse possível deitar estes anos todos de relação profunda fora. 24 anos depois, o meu clube quis deixar-me. Tudo bem, já tínhamos tido discussões e arrufos, mas nada assim tão grave.
Foi terrível. Não consigo descrever a sensação. Foi muito pior do que tudo o que já senti na vida. Foi orgânico, visceral, doentio. Às tantas, uma sensação de calma, como se esperasse morrer no segundo a seguir. E depois, as recordações. Como numa relação, depois de levarmos o adeus tão repentino, tão lancinante, ficamos a ver os momentos bons a passar em repetição. Foi igual. Vi o meu Benfica, o Benfica que eu amei desde pequenino, em imagens, como se fossem fotografias a serem rasgadas pela gentinha que usava as camisolas que eu aprendi a amar. A amar. É de amor que se trata. Com as letrinhas todas.
Tens que deixar isso. Mas como é que se deixa o amor? Há um botão? Dá para desligar? É só dizer: ok, então cada um segue a sua vida, ficamos só amigos ?
Como é possível? Como é possível a vida poder ser tão má? Imaginei-me aquele amante desesperado que se humilha mas eu amo-te, eu perdoo-te, podemos ser felizes e a seguir se enraivece vai-te embora! nunca mais voltes! que grande estúpido fui! e que, por fim, se desfaz em lágrimas, de joelhos, no chão. O degredo absoluto. Não chorar, apenas. Soluçar, de tanta raiva, de tanto desespero, de tanta mágoa.
Vá lá, há coisas piores. E por muito chocante que isto pareça, não consegui nomear uma - só uma - no meu cérebro.
Foi horrível. Foi demasiado mau. Perceber que o meu Benfica, o das camisolas vermelhas, o do Paneira e do Mozer, foi substituído por...isto, foi uma coisa demasiado dura para vos conseguir descrever. Foi uma revelação - apesar de tudo o que se passou nestes últimos 15 anos, porque isto é o mais fundo que me lembro de bater.
Quando o cigarro finalmente se acendeu, fiquei parado a olhar para o vazio. O meu Benfica, lá ao fundo, olhava para mim. E percebi, cabal e fatalmente, que nunca nos vamos poder divorciar, e que estou sujeito a todos estes maus tratos. Até que a morte nos separe.

Thursday, April 10, 2008

Trágico e belo

Getafe 3 Bayern 3.
Que coisa tão tremenda. O futebol, nestas ocasiões, parece maior que a vida. Quantos anos chorarão este jogo os adeptos do pequeno Getafe? É impossível um adepto verdadeiro não ficar tocado. Foi como um grande filme, com um final trágico.
É assim a vida, Getafe. É assim o futebol.

Ha sido injusto, pero por eso el fútbol es tan bonito

Cosmin Contra

Wednesday, April 09, 2008

20 anos de roubo. De A a Z.

O post que representa o meu estado de alma acerca dos 6 pontos. Porque eu me estou a cagar para o Beira Mar - Porto e Porto - Estrela. Mas lembro-me de 92/93, do Amaral e do Kandaurov.
Porque até no futebol, não há povo que resista sem memória.
Com a devida vénia ao blog Benfiquista Vedeta da Bola, que juntou momentos fantásticos do futebol português, dos 100 metros de José Pratas aos quinhetinhos, passando pelo mitíco Guarda Abel.
Eu, da minha parte, mostro este lance, que é a coisa mais surreal do mundo: http://www.youtube.com/watch?v=QXu7kU-BHFY
E deixo a pergunta: alguém se lembra de um Benfica - Porto com os azuis prejudicados?