Sunday, April 22, 2007

A morte melancólica do Benfica e outras histórias

Tudo o que se passou nestas semanas em que não escrevi - do "jogo do título" até à vitória de ontem na Madeira passando por uma eliminação estúpida da Taça Uefa e dois empates demasiado estúpidos para serem verdade - lembrou-me um dos meus livros favoritos: A morte melancólica do Rapaz Ostra e outras histórias do brilhante Tim Burton.
A morte melancólica do Rapaz Ostra e outras histórias é um conjunto de histórias em poema acerca de crianças estranhas e diferentes e dos seus destinos bizarros e de rejeição. Desde a história de amor falhada entre o Stick Boy e a Match Girl (ou Rapaz - Palito e Rapariga -Fósforoa na tradução portuguesa que não é, supreendentemente, má, mas a versão original é demasiado boa para ser comparada.) até ao Toxic Boy passando pela morte melancólica do Rapaz Ostra.
A história deste Benfica não anda longe das bizarrias burtonianas e era prevísivel. Os tons quase dramáticos foram pintados com a pontinha de sorte que nos permitiu chegar até aquela fase da temporada, mas, sejamos sinceros, a coisa tinha demasiado mau prognóstico à partida.
Tudo começa com uma má preparação da época. Escolher um treinador cujo currículo é ser um bom rapaz e que já passou nos dois rivais é mais de meio caminho andado para os adeptos não darem o mínimo de espaço. Permitir uma novela tão longa e desgastante como a de Simão para o Valência / Liverpool/ whatever, dá cabo do planeamento da equipa. Se a isto somarmos a teimosia em jogar derbies na pré - época (para existir logo pressão na única fase do ano em que supostamente há tempo e espaço para experimentar) temos um resultado esperado: o Benfica 2006/2007 nasceu torto, sem táctica definida, com um treinador em xeque, a principal estrela da equipa contrariada e os adeptos com o humor bestial com que se fica depois de se levar três secos dos rivais. A morte estava anunciada.
A derrota no Bessa e o empate com o Paços foram o prenúncio de tudo aquilo que se viria a suceder. Em três jogos do Campeonato, o Benfica partia logo atrás. E ao 5º jogo fora, uma vitória, um empate, três derrotas.
N` A Morte Melancólica... o Rapaz Ostra também é gozado pelos vizinhos e tem pais que vivem infelizes (inclusive chamam-lhe Sam / or "that thing that looks like a clam"). O Benfica, também ele estranho e fora do comum para um candidato ao título, dava-se ao gozo dos rivais e, mais do que isso, separava-se dos seus adeptos.
Seguiu-se uma fase de milagre. As vitórias começaram a aparecer e começámos a jogar uma competição europeia para equipas do nosso nível. Os adeptos começaram a acreditar. Mas a armadilha do Benfica está também nas suas massas, também elas bizarras. Rapidamente se perdeu o norte e o sentido crítico. A criança que nasceu estranha e desigual era já o aluno brilhante de quem se contam feitos que ainda não foram alcançados. O erro foi crasso.
O erro foi crasso e estrondoso porque dentro da Ostra - Benfica havia mais Rapazes Estranhos. Desde Quim, o guarda redes que não segura uma única bola e que treme de medo dos cruzamentos. A Nélson, o rapaz a quem disseram que parecia o Miguel ou o Roberto Carlos e que acha que deixar o extremo esquerdo cruzar não é mau (vide dois golos com o Beira - Mar, o 3º do RCDE... Enfim.). Anderson, o central que vivia com medo. E, last but not least, Nuno Gomes. Nuno Gomes chega a ser estranho demais até para uma história de Tim Burton.

Nuno Gomes tem, segundo o site do SL Benfica 6 golos em 22 jogos. Nem 1 em cada 3 jogos. Nuno Gomes conseguiu, ontem na Madeira, nem sequer atirar à baliza uma assistência perfeita de Miccoli à entrada da área, zona frontal, sem nenhum defesa à frente. Nuno Gomes falhou contra o RCDE, na Luz, o golo que daria o acesso às meias finais. Não foi uma "extraordinária defesa" do guarda redes adversário. A baliza estava escancarada, era só encostar, mas Nuno Gomes conseguiu atirar a bola para o únco sítio onde o guarda redes podia falhar. A arte e o engenho de falhar golos, é o que esse lance representa. Nuno Gomes cultiva há muito a imagem do goleador sentimental, do avançado "que não é bem ponta de lança", do jogador que faz muitas (?!) assistências. Durante anos, jornalistas e joralistas esfarraparam a desculpa de que "Nuno Gomes precisa é de alguém que jogue ao seu lado". E agora, que Nuno Gomes deixou de jogar fixo entre os centrais, em que também Miccoli é alvo de marcação, chegámos a isto (vou repetir, para ficar bem clarinho): um avançado centro do Benfica - que joga teoricamente para ganhar todos os jogos do campeonato marcou 6 golos em 22 jogos. Mas o mais grave é Nuno Gomes ser a criancinha estranha e claramente diferente que continua a ser acarinhada como se fosse o Drogba.

Depois é baralhar e voltar a dar. O treinador insiste em não rodar a equipa e em fazer substituições só aos 92` quando vence 3-1 o Paços de Ferreira em casa. Os 11 estranhos rapazes são espremidos até não terem forças e os seus defeitos saltarem mais à vista do que nunca.

O resultado final foi esta semana que não escrevi. A morte melancólica recheada de bolas ao poste, de jogadores que não correm, de jogadas exasperantes.

Para o ano há mais. Foi mais uma no de merda, cheio de erros de gestão, erros tácticos e erros de jogadores. Um desastre.

Custa-me escrever isto. Custa-me rever todo este ano, todos os sonhos que cheguei a alimentar e ter a percepção claríssima que assim não vamos lá.



(deixo-vos com uma das perturbantes e estranhíssimas short stories de Tim Burton)
The Boy with Nails in his Eyes
put up his aliminium tree.
It looked pretty strange
because he couldn`t really see.

Thursday, April 05, 2007

Telegrama

Época de exames STOP Pouco tempo para escrever STOP Preparação física zero STOP Primeiras partes miseráveis STOP Resultados males menores STOP Há esperança STOP Estou pessimista STOP