Thursday, September 21, 2006

Liverpool

O Tomás nasceu de madrugada. Eu e o D. dormíamos na sala de espera (o D. com uma bebedeira descomunal) e o F. (nosso amigo NN que tão bem nos recebeu e de quem já tínhamos saudades) entrou na sala de espera aos saltos. O Tomás nasceu e o Benfica tem mais um adepto.
Correu tudo bem, inclusive, o facto de só termos encontrado dois bilhetes no mercado negro para o jogo foi bom, porque o F. não poderia ir. Dia 26 de Agosto de 2006, o Benfica ganhou mais um fanático (com um pai daqueles, tudo o que sair a menos é grave) e eu fui a Anfield Road.



Na cidade onde toda a gente tem a camisola nova do clube (sem exagero, um em cada três miúdos tem a camisola nova e com nome e número de jogador atrás), não há grande ambiente à volta do estádio. Tudo calmo e pacífico com a cultura da camisola (mesmo as do West Ham misturadas) a prevalecer. Nem parecia que era o primeiro jogo do LFC em casa da época. Tudo extraordinariamente calmo. Só aquelas camisolas todas é que me faziam confusão. E havia muitas amarelas, que como podem ver pela foto...estavam à venda há dois dias!



Lá dentro, cada um sentado no lugar que o bilhete atribui e este cartaz que qualquer dia aparece em Portugal. Tudo parece ser pacífico e calmo. Mas quando o jogo começa, as coisas são diferentes e muito.
A You`ll Never Walk Alone é uma coisa do outro mundo. Faz-nos mesmo acreditar que o futebol pode ser diferente, que é possível voltar a um mundo de magia não mercantilizado. Os cachecóis no ar, o mosaico, os cânticos honestos (lá cantar é uma coisa boa, para toda a gente. Não é para maluquinhos, não tem divisões sociais, não é para os que estão de pé. Canta-se porque é futebol.) e a bancada rival cheia de sentido de humor.
"Two - onde...and you`re still afraid!" Cantavam os hammers, enquanto o LFC trocava a bola na defesa com 2-1 no marcador a seu favor.

É difícil explicar o que sente num estádio assim. Para quem passa o tempo a ver futebol em estádios degradantes, num ambiente de suspeição, com curvas de merda, bancadas vazias e mesquinhez em toda a linha, Anfield Road é um paraíso. Por um lado anima uma pessoa, dado que, afinal, há mesmo coisas melhores a acontecer. Mas por outro, como o Sr. Virgílio e este Benfica, a coisa é deprimente.
Num país onde as bancadas são supostamente contra o "futebol moderno" e vendem material como mercearias, quando se festeja a carga da polícia numa claque adversária...Como chegar até aqui?
Quando as pessoas não lutam contra a corrupção porque isso pode prejudicar o seu clube, quando cantar o hino do clube é difícil até para pessoas ditas "ultras" do seu clube... Como chegar aqui?

Quase um mÊs depois de Anfield Road, tenho saudades daquilo. Como um "País das Maravilhas". Viajar é fantástico porque nos mostra outras coisas, outras culturas e gente nova. O que dói é olhar para dentro e ver que cá a coisa não vai dar.

Quanto ao F. e à A.: obrigado por tudo. Com o Tom+as, é mais que certo que não caminhrão sozinhos.

Wednesday, September 20, 2006

Liverpool - West Ham: The Kop is 100





Depois de muita luta, o primeiro video do blog. Num estádio mítico, onde toda a gente veste a camisola do clube, um mosaico para celebrar a bancada que merece documentários. Enjoy.

Monday, September 18, 2006

Benfica - Nacional: 347!

No domingo, na fila para o bilhete para a Champions, eu e o D. conhecemos o sr. Virgílio, sócio número 347 do Sport Lisboa e Benfica.
O Sr. Virgílio estava atrás de nós e quando olhei para ele, estranhei ver tão poucos dígitos no cartão de sócio. Descaradamente, olhei com atenção e perguntei qual era o número de sócio do senhor.
347, meus caros. 347.
O Sr. Virgílio é sócio do Benfica desde 1942. A primeira quota que pagou foram 3$.
O Sr. Virgílio é sócio vitalício do Benfica, tendo pago 12 500$ (quando ganhava, já casado, 900$ por mês), valor que na altura dava para as quotas (que nunca mais teve que pagar) e para bilhetes de borla só nos dias do clube (hoje, o Sr. Virgílio tem bilhetes de borla para todos os jogos). Segundo a matemática do D., o que o Sr. Virgílio fez foi como se alguém que hoje ganhasse 600 euros por mês (120 contos) pagasse 8000 euros (1.600 contos) para ser sócio.

Mais que a lição de Benfiquismo (apesar de isto me parecer mais perto da loucura do que outra coisa), pergunto-me quão grande será o sofrimento do Sr. Virgílio - que viu Eusébio, Coluna, Simões, Nené, Humberto Coelho, Chalana e outros - quando vê este Benfica.

347. Até dói.

Friday, September 01, 2006

Metáfora

Era uma vez uma turma. Uma turma com meninos que gostavam de jogar futebol. Certa vez, a propósito de um problema de matemática, dois meninos começaram a discutir. Um diz que o outro copiou. Esse diz que não.
O delegado de turma (que parte da classe diz ser amigo de um, a outra parte do outro), diz que o menino que supostamente copiou fica de castigo. Esse menino acha que não é justo e diz que quer falar com a professora (que é imparcial) sobre o caso. O delegado de turma, por acaso dono da bola, diz que se é assim, ninguém joga, porque não está para perder tempo do intervalo com discussões que metem a professora. E pronto, diz que ninguém joga. Resultado: a turma, em alvoroço, pede aqueles dois que se entendam e, alguns, apercebendo-se que o miúdo que copiou até é mais franzino, começam a ameaçá-lo para que aceite o castigo.

Mas afinal - tendo ou não copiado o problema - quem é o culpado: o menino que pode ou não ter copiado ou o delegado dono e ditador da bola?