Saturday, January 10, 2009

Messi (porque ainda não me apetece escrever sobre o Benfica)

Estou a escrever no dia 10 de Janeiro de 2009 e ficaria espantado que a jogada do ano não estivesse já decidida, com concurso encerrado. Messi, no Vivente Calderón, fez uma coisa tão linda que só um morto não se emocionaria a ver.
A primeira finta é demais. É genial, é monumental. É um flash de um iluminado. Um para um, sem balanço, só com simulações de corpo, Messi humilhou o defesa. Humilhou, gozou. Foi como se lhe cuspisse. A primeira vez que vi a jogada, virei a cara. Por pudor. Sabem quando têm vergonha por alguém? Eu tive vergonha por aquele defesa. Fiz um ar enojado. Aquilo é demais, é criminoso, é desumano. E quando voltei a olhar, Messi tinha passado mais dois. Mas esses foram mesmo ignorados. Como se Messi não lhes passasse cartão. Vais para aí, eu vou para aqui. Sempre com a bola colada ao pé e com o corpo a mentir, sempre a fingir que vai para um sítio errado. Tem 21 anos, é baixo e fraco. E goza.
E quando o mundo inteiro ainda não acredita que aquilo não foi golo, Iniesta encontra-o sozinho na área. Como escreveu o jornalista do As, Messi toureou Coupet. A última dança (mas com a simplicidade de quem podia passar o dia naquilo). E, golpe final, de volta ao primeiro defesa que num último gesto de humanidade, tenta guardar a baliza, redimir-se. Mas se Casillas, no último Barça - Madrid, quando viu Messi pela frente, aguentou-se em pé como um mordomo (palavras de Jorge Valdano) e o astro argentino teve que meter a bola no único sítio onde ela cabia, o defesa atlético foi novamente humilhado. Com o seu pior pé, Messi picou-lhe a bola sobre a coxa. O defesa cai, humano e desamparado. Se não virarem a cara por pudor, vêm que o pobre rapaz cai. Rebola. Indefeso.
Messi, esse, voa. Quando acabei de ver esse lance senti um arrepio. O futebol tem uma capacidade incrível de me fazer feliz.

(A jogada, aqui)