Cresci a ver futebol com o meu Pai. Desde pequenino que foi ele o meu companheiro de bola, e é dele que herdo o meu pessimismo, o meu defensivismo. Foi ele que me explicou os sistemas tácticos básicos, foi ele que me mostrou o Valdo, o Paneira, o Rui Costa. O futebol no rádio velhinho, ligado a altos berros na sala e as equipas de Subbuteo que faziam campeonatos com vencedor antecipado.
Depois veio o TP. Farense convicto, torcia pelo Benfica na questão do vencedor do campeonato. Jogámos à bola juntos a infância inteira e foi com ele que partilhei a facada no coração que foi aquele Verão de 1993. Foi meu colega de carteira durante 9 anos seguidos e "jogávamos de olhos fechados". Hoje, quando o encontro, mesmo separados durante anos, falamos como se não nos víssemos há 5 minutos. E falamos, sobretudo, de futebol. E ainda hoje, talvez fruto de termos feito a formação futebolística juntos, temos opiniões similares. E e muito por ele, pela quantidade de vezes que fomos juntos ao S. Luís, que ainda hoje sigo os resultados do SC Farense.
Seguiram-se o D. e o F. O D. partilhou comigo as viagens a Sevilha para ver o Betis. 3 anos de viagens a falar, sem parar, de futebol. Foi a primeira pessoa com quem falei depois da saída do JVP e temos um Benfiquismo já de tal maneira telepático que, no passado domingo, deu-se o seguinte episódio: o D. foi ver o Paços para uma bancada acima da minha, mas com a possibilidade de nos vermos (percebemo-lo na 2ª parte). Trocámos uma ou duas mensagens, mas houve dois episódios em que sorri por dentro: primeiro, quando o Saviola saiu, olhei para cima e vi aquilo que já adivinhara: o D. foi o primeiro da bancada a levantar-se. Se nunca pudemos gostar do Simão pelo seu passado, se desconfiámos do Miccoli por tantas lesões, com Saviola concordámos imediatamente e partilhamos a veneração por aquele 1,68m de inteligência futebolística. E assim que vi o "30" no marcador sabia que o D. se ia levantar. O segundo foi no terceiro golo. No meio de tanta gente aos saltos, dos cachecóis no ar, olhámos ao mesmo tempo um para o outro, com uma bancada de distância com um ar: "Já está!".
Com o F. falo quase todos os dias do Benfica. Sempre falei, sempre troquei mensagens, e apesar de tantas diferenças que temos (desde o facto de ele ser gordo e eu magro, ele de direita e eu de esquerda), partilhamos de tal forma o amor pelo Benfica que precisamos, quase doentiamente, de falar sobre isso, de saber o que o outro pensa, de respeitar superstições, de querer saber que onze o outro punha a jogar. Estivemos a noite de 13 de Maio de 2005 inteira a conversar. Um dia depois, com o Benfica com o Campeonato no bolso, nem me lembro se falámos ou não. Mas sei que ele estava tão feliz como eu.
Tive vários companheiros de bola. Desde a malta da bancada, até ao R., o Benfiquista silencioso. Até que chego a ti, Catarina.
És a primeira companheira de bola que não é do Glorioso. Mais estranho, odeias o Glorioso. O que às vezes me faz olhar para ti como uma ET. Pedes falta quando claramente não é, não vês os penalties mais óbvios e refilas com árbitros, que era uma coisa que eu não acreditava ser possível, sendo tu do teu clube.
Mas, além de todas as coisas que partilhamos, és a minha nova companheira de bola. É engraçado que apesar do mundo que nos separa - eu defendo o Bem, tu o Mal - temos éne parecenças. A maneira como és a primeira a criticar os teus, o olhar perdido com que ficas quando perdes. A maneira como pedes para os adversários do Benfica não jogarem abertos (não é preciso pedires, isso nunca aconteceu) e como estás sempre a chorar das exibições de um tosco qualquer contra o teu clube (que, nos meus olhos, é o tipo que, ao contrário dos outros, não está a tentar marcar golos na própria).
Eu sempre fui um snob a ver bola. Recuso-me a discutir futebol com quem não sabe (e sim, quem estabele esses critérios sou eu). E contigo isso não acontece. Quero saber o que achas (foste tu que me mostraste que cada bola que vai à baliza do fóculporto é golo), o que é que pensas, o que é que dizes. E, por muito surreal que pareça, não é só para "conhecer o inimigo". Tens mais estádios no bolso do que eu, tens mais bola ao vivo do que eu e se nunca partilhámos o clube - excepto quando ceportém joga - partilhamos, e muito, a paixão pelo jogo.
Não tenho escrito neste blog e acho difícil vir a reabilitá-lo. Não sei se esta é a última página no diário, mas se é, que seja para ti.