Sunday, July 11, 2010

Hoje queria ser espanhol

Ao fim de anos de vida, que nem são muitos, ainda não encontrei coisa que desperte tantas emoções como a bola. Metáfora máxima da vida, a bola é única. Dia 11 de Julho será sempre recordado com um arrepio pelos espanhóis. Para os holandeses, resta manter a camisola vestida, pedir um whisky e acender um cigarro que lhes apague a dor. Chorarão anos e anos a bola de Robben. Vão sonhar mil vezes que o pé de Casillas não está ali.



Não há alegria como a que o futebol nos dá. Hoje, 11 de Julho, não importa se alguém é pai ou mãe, se conquistou o amor da sua vida, só é verdadeiramente feliz quem é espanhol, como só formos felizes nós, os Benfiquistas, quando o 32º Campeonato Nacional foi conquistado.
Hoje, confesso-vos, queria ser espanhol. Para ter gritado o golo de Iniesta como se não houvesse amanhã, para sentir o coração aos saltos como senti quando o Cardozo marcou o golo que assinava o título. Porque a alegria que o futebol nos dá é imensa, é maior que o mundo inteiro.

Thursday, April 08, 2010

Prenda de anos!


Obrigado, do fundo do coração. É a melhor prenda do mundo.
Gosto mesmo muito de ti.

Tuesday, April 06, 2010

Messi

Num mundo justo, quem ousasse comparar Messi a Cristiano Ronaldo era imediatamente preso e ficava a pão e água durante meses. Messi fez, depois do Barça - Valência, do Zaragoza - Barça e do Barça - Stuttgart, a quarta exibição maradoniana dos últimos tempos (estamo a falar de quê, dois meses?).
Messi é futebol puro. É o drible, é o pequeno que finta o grande, é aquela anca que mente, mente, mente. É aquele toque maravilhoso antes do segundo golo (quantos supostos craques não chutariam de primeira?), é aquele toque no livre para Pedro, é a raiva do primeiro golo, é a sublime pausa para deixar Eboué "pousar" antes de virar para outro lado.
Messi é um génio. Porra, um génio. Messi está a subir degraus para um Olimpo onde moram poucos (Maradona, Di Stefano, Eusébio, gente dessa estirpe). Messi já não é de agora, deste tempo, é para sempre. Messi é o pós - Zidane, é o jogador mais genial dos últimos anos.
Vê-lo emociona-me. Vê-lo põe-me arrepiado. Eu vi o Inglaterra - Alemanha do Itália 90, o Barça do Cruyff, o 3-6 em Alvalade, aquele golo do Ronaldo em Compostela (e os outros que ele marcou nesse jogo, que acabou 1-4), vi o Savicevic a desfazer o Barcelona em Atenas e vi a França de Deschamps e Zidane. Lembro-me perfeitamente de Romário e Bebeto na frente, dos pontapés de bicicleta de Rivaldo, da reviravolta de filme no Manchester - Bayern em Barcelona. O golo do Gascoigne à Escócia, o de Poborsky a Baía, o renascer do Real Madrid, naquela noite em Old Trafford, quando Redondo e Raul pareciam possuídos. O Euro 2000, tão, mas tão bem jogado.
E depois vi Iniesta e Xavi a trocarem a bola na final do Euro 2008, ao que se seguiu algo que só o tempo nos pode dar a distância suficiente para avaliarmos bem, o Barça de Pep Guardiola.
Neste, Leo Messi. O que hoje vimos, estes 4 golos, num desvario de quem só se quer divertir, de quem só quer brilhar, como se tivesse acabado de se apaixonar, caramba, é história a acontecer à frente dos nossos olhos. Vejo Messi a desfazer o Arsenal e - porque sinto o futebol como a metáfora máxima da vida, da emoção humana - é como se visse o nascer da primeira música, como se lesse o meu primeiro livro.
Messi não é comparável a ninguém. A alegria com que joga transpira em cada jogada. É impossível ficar indiferente. Qualquer um, perceba ou não de futebol, tem de olhar e perceber que  está ali a acontecer algo.
Eu vi Messi.

Wednesday, March 10, 2010

Companheira

Cresci a ver futebol com o meu Pai. Desde pequenino que foi ele o meu companheiro de bola, e é dele que herdo o meu pessimismo, o meu defensivismo. Foi ele que me explicou os sistemas tácticos básicos, foi ele que me mostrou o Valdo, o Paneira, o Rui Costa. O futebol no rádio velhinho, ligado a altos berros na sala e as equipas de Subbuteo que faziam campeonatos com vencedor antecipado.
Depois veio o TP. Farense convicto, torcia pelo Benfica na questão do vencedor do campeonato. Jogámos à bola juntos a infância inteira e foi com ele que partilhei a facada no coração que foi aquele Verão de 1993. Foi meu colega de carteira durante 9 anos seguidos e "jogávamos de olhos fechados". Hoje, quando o encontro, mesmo separados durante anos, falamos como se não nos víssemos há 5 minutos. E falamos, sobretudo, de futebol. E ainda hoje, talvez fruto de termos feito a formação futebolística juntos, temos opiniões similares. E e muito por ele, pela quantidade de vezes que fomos juntos ao S. Luís, que ainda hoje sigo os resultados do SC Farense.
Seguiram-se o D. e o F. O D. partilhou comigo as viagens a Sevilha para ver o Betis. 3 anos de viagens a falar, sem parar, de futebol. Foi a primeira pessoa com quem falei depois da saída do JVP e temos um Benfiquismo já de tal maneira telepático que, no passado domingo, deu-se o seguinte episódio: o D. foi ver o Paços para uma bancada acima da minha, mas com a possibilidade de nos vermos (percebemo-lo na 2ª parte). Trocámos uma ou duas mensagens, mas houve dois episódios em que sorri por dentro: primeiro, quando o Saviola saiu, olhei para cima e vi aquilo que já adivinhara: o D. foi o primeiro da bancada a levantar-se. Se nunca pudemos gostar do Simão pelo seu passado, se desconfiámos do Miccoli por tantas lesões, com Saviola concordámos imediatamente e partilhamos a veneração por aquele 1,68m de inteligência futebolística. E assim que vi o "30" no marcador sabia que o D. se ia levantar. O segundo foi no terceiro golo. No meio de tanta gente aos saltos, dos cachecóis no ar, olhámos ao mesmo tempo um para o outro, com uma bancada de distância com um ar: "Já está!".
Com o F. falo quase todos os dias do Benfica. Sempre falei, sempre troquei mensagens, e apesar de tantas diferenças que temos (desde o facto de ele ser gordo e eu magro, ele de direita e eu de esquerda), partilhamos de tal forma o amor pelo Benfica que precisamos, quase doentiamente, de falar sobre isso, de saber o que o outro pensa, de respeitar superstições, de querer saber que onze o outro punha a jogar. Estivemos a noite de 13 de Maio de 2005 inteira a conversar. Um dia depois, com o Benfica com o Campeonato no bolso, nem me lembro se falámos ou não. Mas sei que ele estava tão feliz como eu.
Tive vários companheiros de bola. Desde a malta da bancada, até ao R., o Benfiquista silencioso. Até que chego a ti, Catarina.
És a primeira companheira de bola que não é do Glorioso. Mais estranho, odeias o Glorioso. O que às vezes me faz olhar para ti como uma ET. Pedes falta quando claramente não é, não vês os penalties mais óbvios e refilas com árbitros, que era uma coisa que eu não acreditava ser possível, sendo tu do teu clube.
Mas, além de todas as coisas que partilhamos, és a minha nova companheira de bola. É engraçado que apesar do mundo que nos separa - eu defendo o Bem, tu o Mal - temos éne parecenças. A maneira como és a primeira a criticar os teus, o olhar perdido com que ficas quando perdes. A maneira como pedes para os adversários do Benfica não jogarem abertos (não é preciso pedires, isso nunca aconteceu) e como estás sempre a chorar das exibições de um tosco qualquer contra o teu clube (que, nos meus olhos, é o tipo que, ao contrário dos outros, não está a tentar marcar golos na própria).
Eu sempre fui um snob a ver bola. Recuso-me a discutir futebol com quem não sabe (e sim, quem estabele esses critérios sou eu). E contigo isso não acontece. Quero saber o que achas (foste tu que me mostraste que cada bola que vai à baliza do fóculporto é golo), o que é que pensas, o que é que dizes. E, por muito surreal que pareça, não é só para "conhecer o inimigo". Tens mais estádios no bolso do que eu, tens mais bola ao vivo do que eu e se nunca partilhámos o clube - excepto quando ceportém joga - partilhamos, e muito, a paixão pelo jogo.
Não tenho escrito neste blog e acho difícil vir a reabilitá-lo. Não sei se esta é a última página no diário, mas se é, que seja para ti.

Monday, December 07, 2009

Benfica - Académica: obrigado, Saviola (e dois apontamentos)

Sou doente. Assumida e orgulhosamente doente. Antes da bola, do espectáculo,antes de ver sequer dois passes rasteiros seguidos de pé para pé ao primeiro toque, eu quero que o Benfica ganhe. Um a zero, com a mão, fora de jogo depois de empurrar violentamente o defesa adversário contra o guarda redes, fazendo com que o segundo tenha uma hemorragia interna. Portanto, como já expliquei várias vezes, ver o Benfica é um sofrimento atroz, mesmo que esteja 4-0 a dois minutos do fim com três jogadores a mais. Porque eu só quero que aquilo acabe e que o Benfica ganhe.
Daí que ontem, no meio daquele diluvio, quando Javier Saviola picou a bola e se fez um silêncio sepulcral na Luz, senti que algo tinha mudado em mim. É que, normalmente, assim que ele inclinasse o corpo para trás e metesse o pé debaixo da bola, eu ia insultá-lo. Porque aquela não é a solução mais eficaz, a que mais vezes dá golo. E eu, dali, quero golo. Não quero rodriguinhos nem bonitos. Quero golo, porra. Quero golo e que o Jesus comece logo a pensar em tirar o Aimar porque a época é muito longa. Mas não. Fiquei feliz. E quando a bola entrou mais feliz fiquei. Porra, que coisa linda, que classe, que arrepio. Ainda hoje, a trabalhar, arrepiei-me sozinho a ver a bola entrar outra vez. Que coisa genial.
E isto é errado, porra. Eu, louco convicto, não posso embarcar nestas euforias desmedidas, nestas parvoices de festejar chapéus como se valessem mais que um golo de ressalto. Tenho de manter o criticismo e a obsessão, porque sinto que se me deixo levar me posso vir a sentir culpado se as coisas não correrem bem. Acho que acredito mesmo nisto: que sou a voz da razão do Benfica e que, por isso, não posso descansar e tenho que estar sempre atento.
Agradeço muito ao Saviola pela honra de ter visto um jogador do Benfica fazer aquilo. E ainda me arrepio ao pensar. Mas ontem foram só mais três pontos e a viagem é longa.


1º apontamento: adoro ver os verdes assim, a afogarem-se num oceano de esterco. Como muito bem foi escrito no Tertúlia Benfiquista, os lagartos têm uma existência relativa. Existem em relação a nós. Paulo Bento verbalizou aquilo que toda a gente sabe e que toda a gente soube. E o que me dá gozo é que esta crise deles tem um só culpado: nós. Quando Saviola ontem fez aquele chapéu, milhares e milhares de verde que torciam pela AAC na esperança da 5ª ou 6ª alegria da época ficaram com um nó no estômago. Como lidar com aquilo? Não há fora de jogo para pedir, não há culpa do guarda redes, não há ressalto, só classe. E 41 mil pessoas no estádio no meio de um diluvio porque jogava o Benfica, o maior de Portugal. Como lidar com isso? A crise dos verdes é o nosso bem estar, não é o facto da equipa de futebol deles ser deprimente.

2º apontamento: tenho uma nova casa. O blog será um choque para os leitores do costume (excepto para os que me são próximos e que já sabiam o que casa gasta). Espero que gostem.

Tuesday, August 04, 2009

O traidor

Estava um calor do caraças, como hoje. Um tempo seco, eu tinha 9 anos e nem tinha força para jogar à bola. A notícia tinha-nos caído que nem uma bomba no ATL: "Paulo Sousa e Pacheco no sporting". Caiu-me tudo, parei de almoçar, nem sabia o que havia de dizer.
O TP, farense com uma simpatia pelo Benfica, tentava animar-me, mas nem ele acreditava. Até ele sentia a traição. Uma das imagens da minha infância é estar sentado com ele, nos bancos cor de tijolo, em silêncio, e ter-me saído inconscientemente, para surpresa da nossa educadora de infância (pouco habituada a ouvir-me dizer palavrões) um duro e seco: "Que cabrão". Parece-me que aquele momento foi a primeira vez na minha vida em que saí da infância.
O singular era propositado, a mim o que me doía era a saída do Paulo Sousa. Pacheco nem tinha sido titular na soalheira tarde em que vencemos o Boavista por 5-2 e em que aquela equipa atingiu um pico futebolístico inacreditável. Agora, o Paulo Sousa...lagarto? O TP, que odiava o sporting furiosamente (nunca compreendi muito bem porquê, mas talvez o facto de termos partilhado a mesma mesa na escola 9 anos tenha ajudado ao facto) e que nunca lhes dava tréguas, também soltou um desesperado "Que vai ser do nosso meio campo?". (Caraças, já percebíamos de bola à brava)
O resto da história é conhecida e talvez o final feliz de 1994 tenha apagado o ódio que Paulo Sousa merece.
Há uns tempos estava a sair da praia com amigos e namorada. Tudo com aquele ar estoirado de estar horas ao sol. Olhei para trás e vi... o Paulo Sousa. E disse-o. O F., um benfiquista à antiga, deu meia volta, sem perceber que eu o tinha visto no carro atrás de nós (agora que penso nisso, talvez a ideia do F. tenha sido mesmo atropelá-lo). Quando ele percebeu que tínhamos acabado de deixar o carro do Judas passar-nos à frente, foi como se lhe tivesse caído tudo. Tínhamos desperdiçado uma oportunidade de ouro.
E quando já todo o carro se ria a imaginar um excerto de porrada ao Paulo Sousa, ali estava ele. Na berma da estrada, a ir buscar qualquer coisa à bagageira. Ali, à nossa espera. O F. gritou-lhe um
traidor! que se deve ter ouvido no país inteiro. Obrigado, F. Por teres vingado aquela minha tarde de Verão de 1993, por teres feito com que esse cabrão saiba que o que fez não tem preço nem desculpa.
Porque o que esses animais fazem quando nos trocam por rivais é fazer com que miúdos de 9 anos fiquem tristes, como se o Mundo fosse uma miséria. O que esses atrasados mentais fazem é baixo, não tem classificação e só merece que, para toda a vida, sempre que pararem o carro, passem outros com gente lá dentro a fazer-lhes um sinal com os dedos e com nojo no olhar.

F. : Obrigado.

Este blog fez, no passado dia 31 de Julho, 5 anos. Cinco. Estou a ficar velho.

Thursday, July 16, 2009

Memórias de um Betico (II): Denilson

Foi logo no primeiro jogo em casa. Betis - Depor 1999/2000. Um daqueles zero a zero que não se vai desatar se algo de mágico não acontecer. E aconteceu.
Denilson era, já o escrevi antes, um daqueles tipos perfeitos para se ver numa equipa com a qual se simpatiza. Louco, craque, muitas vezes inconsequente. O tipo de jogador exasperante que, às vezes, nos leva ao céu e a ter que lhe agradacer, envergonhados pela quantidade de vezes que lhe gritámos para passar a bola.
Foi a primeira vez que foi aquele estádio, ainda me ambientava a tanto verde. Chegámos muito tempo antes e o estádio já devia ter umas 15 mil pessoas. Tudo em silêncio, concentrado em não sei o quê, enquanto eu via com estes olhos que a terra há-de comer o Djalminha (lembram-se?) dar dez toques de seguida...com a canela.
As viagens a Sevilha deram-me isto: três anos de imagens de futebol. Do jogo. Tenho a sorte da minha memória as ter guardado todas, como um caderno velho que posso visitar quando quiser. Desse dia tenho várias. Tenho aquele GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLL! vindo do nada, gritado pelos 15 mil, só com jogadores a aquecer, que o senhor atrás de mim me disse ser do Celta contra o Sevilla.
Mas mais que isso, lembro-me de Deni. Da bola a ir ter com ele, dele a pisá-la e deixar um por terra. E depois meter a bola de um lado, ir para o outro e fintar o guarda redes. Penalty.
Fiquei parvo. Que coisa linda, partiu tudo. O meu pai com as mãos na cabeça, eu com um sorriso. Caraças, que coisa tão linda. Aquilo emocionou-me, mexeu com a minha adolescência. Denilson, o brinca na areia, eterno fora da lei, em acção. Os defesas, como que baleados, pelo chão. O estádio rendido.
Depois, porque así es el futbol (toda una frase, tive eu que aprender), Finidi falhou. Zero a zero.
A quantidade de metáforas que eu podia tirar daquele dia. Foi encantador, a todos os níveis. A primeira vez que eu via bola no estrangeiro, a primeira vez que fui betico. Foi o dia em que conheci Denilson, em que me pude render à irreverência e que me pude (quase) borrifar para se o penalty dava golo ou não.
Lembro-me de, no regresso, o meu pai dizer, quase para si: só aquela jogada fez render estes Km todos.

Tenho saudades de ir à bola.