Benfica - Setúbal : Analogias de um regresso

Há nos regressos à época todo um poço de sonhos a matar. Sejamos sérios: é muito raro o adepto que encontra a equipa que estava à espera no príncipio da época.
Sabendo de nós de trás para a frente todos os defeitos da equipa do ano passado, ansiamos por um regresso sempre pleno de força, com tudo corrigido e sem falhas. No fundo, somos uns românticos incorrigíveis. Aliás, há neste amor ao clube analogias múltiplas com o amor a um filho ou a uma esposa.
Por exemplo, há coisas pequenas que nos irritam nas pessoas com quem convivemos muito tempo. Acabamos por nos irritar com a maneira como comem ou como querem sempre ter o comando da televisão (coisas sobejamente importantes, realce-se). No futebol é igual. No fim da última época doiam-me os ossos quando o Karadas ao receber a bola conseguia que ela fosse ter ao Quim. Já não suportava a forma como o Nuno Gomes estava sempre de costas para a baliza.
E da mesma maneira como antes do ano lectivo todos os estudantes juram a pés juntos estudar todos os dias do ano, também eu achei que o meu Benfica seria diferente e menos sofredor (e não teria que fazer noitadas na vespera dos exames....). Mas não. As coisas estão mais ou menos iguais. O Nuno Gomes continua sem se virar para a baliza. A defesa continua a estar longe do ataque.
Mas da mesma maneira como repreendemos um filho por uma traquinice e nas costas nos rimos (porque lá no fundo o miúdo até teve piada e imaginação), também eu acabei a sorrir com o meu Benfica. O facto de já ter passado tanto com esta equipa dá-me uma afinidade especial com tudo e até uma relação amor-ódio com as pequenas coisas que supostamente são insuportáveis. Acabamos a elogiar as tabelinhas do Nuno Gomes e a nossa defesa. Acabamos sempre por não nos conseguir separar deste vício e do "desejo absurdo de sofrer".
E ainda para mais ganhando títulos, tudo desculpamos, quase sem juízo crítico. O que as saudades de bola nos fazem...

Todos a Coimbra!

(desculpem a falta de crónicas.....! )