Saturday, June 04, 2005

Alemanha - Portugal: Valsa Quase Antidepressiva

A RTP Memória tem trazido de volta clássicos do futebol português. Foi com deleite que já revi o 3-6 em Alvalade, o 2-3 no Bessa com o Paulo Sousa à baliza e foi também com horror que desliguei a TV sempre que aparecia um jogo que o SL Benfica não ganhou.
Mas na quinta à noite assisti a um jogo também ele mítico e que me fez ir dormir a pensar muito: Alemanha - Portugal, 1997, em Berlim, o célebre jogo da expulsão do Mago Rui Costa. Já disse mil vezes que não sofro com a selecção. Aliás, o que eu mais gosto das quinas é vê-las na camisola do Benfica, portanto estão a ver o meu tipo...
Mas, pela paixão ao jogo, envolvo-me quando me apercebo que estou perante um jogo que vai ser sempre lembrado. E se assim foi no Portugal - Inglaterra, mais foi nesse Alemanha - Portugal. O jogo foi incrível. Se com a Inglaterra o que valeu foi a emoção, os golos, o pontapé do Rui Costa, ali foi a Valsa, uma Valsa Quase Antidepressiva (um doce para quem souber a banda que toca esta música...) com que a "geração de ouro" nos brindou a todos.
Esse jogo foi o paradigma da vida daquela selecção. Como se o futebol fosse (e na maior parte das vezes é...) uma metáfora da vida. Naqueles 90 minutos há um sentimento trágico, quase de"Romeu e Julieta", da história que está a ser linda e que acaba mal por injustiças do destino. E até eu, Clubista cego que gostava que os jogadores da minha equipa nunca fossem à selecção para não se poderem lesionar, acabei o jogo (não em 97, mas agora!!) a perguntar: "Como é possível?".
Portugal jogou, como era costume naquela altura, sem ponta de lança. Do meio campo para a frente jogaram Paulo Sousa, Rui Costa, Figo, Pedro Barbosa e JVP. Tudo artistas. Abriram o livro nesse dia. Quase me apeteceu por uma valsa a tocar enquanto via o jogo, para acompanhar cada vez que o Rui Costa metia a bola entre as pernas de um alemão e dava aqueles saltos para evitar as pancadas. 80 minutos do futebol mais rendilhado possível. Parecia que jogavam "à rabia". Uma verdadeira delícia. Mas sentia-se, em todo aquele jogo (mesmo nesse recital), a nuvem negra do destino. Toda a gente sabe que o Romeu e Julieta acaba mal, mas não deixamos de torcer por eles. Ali foi exactamente igual. Mesmo em 97, sem conhecer o fim do jogo, e de boca aberta com a fluidez de jogo, o facto de não entrarmos na área deles, e toda a inconsequência daquilo, antevia a tragédia de Batta.
Eis que chega o golo de Portugal. Um jogadão. Brincam com os alemães no meio campo, trocam-lhes as voltas, Barbosa e Figo tabelam e o primeiro remata com o peito do pé. Nesta altura, em Maio de 2005, interrogo-me se Portugal se deixou mesmo empatar. E, estupida e infantilmente, como uma adolescente de 13 anos que acha que é a Julieta, acreditei que Portugal até se ia aguentar.
Mas a coisa passou-me logo a seguir, porque a nuvem trágica que vos falava deu o seu maior sinal: nova "rabia" aos alemães, duas tabelinhas de livro, e o Rui, o meu Rui, o nosso Rui, falha à frente do Koepke o que seria o 0-2. No fim dessa jogada é expulso. Depois vem o 1-1. E só mesmo para chatear, com 10 jogadores, Portugal faz 5 minutos finais com 3 golos falhados. A tragédia finaliza-se. A valsa acaba. Quase, quase antidepressiva.
Este jogo foi o fim da "geração de ouro". Daqueles 11 que começaram o jogo, só Figo jogou a final do Europeu do ano passado. O fim da geração que foi o maior bluff de sempre da história do futebol português.
E esse jogo é uma brincadeira cruel dos Deuses do Futebol, a mostrar aos meninos que mandaram coisas da janela do hotel ao Nuno Luz, aos meninos do caso Paula, etc, o quão grandes podiam ter sido. O quanto eles sabiam jogar à bola e como eram inconsequentes. Em 90 minutos, a história dessa geração ficou evidenciada. Prometer muito e morrer de forma inglória, com uma suposta "vitória moral".
Quando o jogo acabou, desliguei a TV e fiquei a pensar no quanto o futebol tem mesmo a ver com a vida, seja dos jogadores ou dos adeptos. É incrível como alguns jogos nos marcam por serem tão depressivos, outros por serem tão bonitos e gloriosos e por aí adiante. E mais ainda, como é que a história de uma geração nacional (que gostemos ou não, é uma geração que marca as nossas vivências futebolísticas) se resume em 90 minutos. O futebol às vezes é isto: uma Valsa Quase Antidepressiva.



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Hoje a selecção joga o apuramento para o Mundial e acho que nem vou ver o jogo. Li no jornal que o sr. Batta é o chefe da arbitragem do futebol francês. É incrível como, 8 anos depois, é evidente que os "maus" ganharam nesse dia, e não há nada que se possa fazer para que isso se altere.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

«Quinteto Tati», ex-«Belle Chase Hotel». Venha de lá esse doce (tb aceito o valor em jolas)!

7:34 PM  
Blogger Manuel Neves said...

Trifasinevic: é eu acabar a merda dos exames e temos jolas!
Grande JP Simões... Mítico, mesmo. OS Belle Chase ainda existem, até acho que lançaram um albúm novo, mas tal como o de Quinteto, tarda em chegar à FNAC...

Abraços!

6:37 AM  

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