Rep. Checa - Turquia: porque é que eu não perco estes torneios
Porque é que uma pessoa que não acha especial piada à selecção e que só se enerva com a possibilidade de lesões dos jogadores do seu clube vê o Europeu?
Porque nunca nos perdoaríamos perder um jogo histórico.
Há uma altura, a meio de um jogo de duas equipas que nos são indiferentes, em que percebemos a magia. Percebemos que, naqueles minutos que faltam, se está a passar uma coisa que daqui a 50 anos ainda será falada. Eu lembro-me, como se fosse hoje, de como empolguei no Inglaterra - Alemanha de 1990, e tinha 6 anos e não estava a torcer por ninguém. As bolas ao poste, o ritmo frenético, o choro do Gascoigne.
Há uma altura, mesmo não sendo adeptos de nenhuma , em que o jogo passa a ser um bocado nosso. Porque o vivemos, porque nos empolgamos, porque apreciamos a paixão. É difícil de explicar a quem está de fora, mas é uma coisa tão intrínseca, tão visceral.
O facto dos jogos serem importantes é culpa nossa, dado que este é um torneio de 6 jogos e é bem possível ganhar o menos regular. Mas a importância que os adeptos lhe atribuem faz do torneio uma coisa transcendente, passível de uma recordação imortal.
Um grande jogo em jogos desta importância faz-me sinceramente feliz. Um daqueles jogos diabólicos, em que os jogadores percebem - como nós - que é daquele que se vai falar. Sente-se no ar. Sente-se em cada lance, em cada cruzamento, em cada remate. Lembro-me de outro Inglaterra - Alemanha, o de 1996 - o único grandíssimo jogo desse Europeu - em que os ingleses falham bolas de baliza aberta, onde sentem os eternos inimigos alemães vulneráveis ali mesmo, em Wembley. Parecia que toda a gente queria entrar em campo e jogar. Parecia que, se a Inglaterra marcasse, o mundo seria eternamente fantástico.
É isso. É como se todo o Mundo ficasse suspenso no jogo. A sensação é essa. Adoro esse estado de espírito. O de estar a ver um jogo que sei que ficará para a história e que - naquele momento, em que me apercebo disso - estou a vivê-lo. Estou a fazer parte dele. Daqui a uns anos poderei dizer eu vi esse jogo com a pessoal tal e até adivinhámos o golo... O Mundo está ali. Não há coisa mais importante, mais decisiva, do que sabermos quem vai ganhar, quem vai ser o herói, quem vai ser o vilão.
Portugal - Inglaterra de 2004? O arranque de Rui Costa, a abnegação dos ingleses, o estádio num grito constante, numa montanha russa vertiginosa e deliciosa. E o mundo ali, a ver. Parado naquel rectângulo, mesmo que se estivesse a borrifar para quem ganhava.
É por isso que me é impossível perder um destes torneios. Nunca me perdoaria. O Turquia - República Checa já ninguém me tira.
O futebol é a nossa desculpa para sermos felizes. Jorge Valdano
Porque nunca nos perdoaríamos perder um jogo histórico.
Há uma altura, a meio de um jogo de duas equipas que nos são indiferentes, em que percebemos a magia. Percebemos que, naqueles minutos que faltam, se está a passar uma coisa que daqui a 50 anos ainda será falada. Eu lembro-me, como se fosse hoje, de como empolguei no Inglaterra - Alemanha de 1990, e tinha 6 anos e não estava a torcer por ninguém. As bolas ao poste, o ritmo frenético, o choro do Gascoigne.
Há uma altura, mesmo não sendo adeptos de nenhuma , em que o jogo passa a ser um bocado nosso. Porque o vivemos, porque nos empolgamos, porque apreciamos a paixão. É difícil de explicar a quem está de fora, mas é uma coisa tão intrínseca, tão visceral.
O facto dos jogos serem importantes é culpa nossa, dado que este é um torneio de 6 jogos e é bem possível ganhar o menos regular. Mas a importância que os adeptos lhe atribuem faz do torneio uma coisa transcendente, passível de uma recordação imortal.
Um grande jogo em jogos desta importância faz-me sinceramente feliz. Um daqueles jogos diabólicos, em que os jogadores percebem - como nós - que é daquele que se vai falar. Sente-se no ar. Sente-se em cada lance, em cada cruzamento, em cada remate. Lembro-me de outro Inglaterra - Alemanha, o de 1996 - o único grandíssimo jogo desse Europeu - em que os ingleses falham bolas de baliza aberta, onde sentem os eternos inimigos alemães vulneráveis ali mesmo, em Wembley. Parecia que toda a gente queria entrar em campo e jogar. Parecia que, se a Inglaterra marcasse, o mundo seria eternamente fantástico.
É isso. É como se todo o Mundo ficasse suspenso no jogo. A sensação é essa. Adoro esse estado de espírito. O de estar a ver um jogo que sei que ficará para a história e que - naquele momento, em que me apercebo disso - estou a vivê-lo. Estou a fazer parte dele. Daqui a uns anos poderei dizer eu vi esse jogo com a pessoal tal e até adivinhámos o golo... O Mundo está ali. Não há coisa mais importante, mais decisiva, do que sabermos quem vai ganhar, quem vai ser o herói, quem vai ser o vilão.
Portugal - Inglaterra de 2004? O arranque de Rui Costa, a abnegação dos ingleses, o estádio num grito constante, numa montanha russa vertiginosa e deliciosa. E o mundo ali, a ver. Parado naquel rectângulo, mesmo que se estivesse a borrifar para quem ganhava.
É por isso que me é impossível perder um destes torneios. Nunca me perdoaria. O Turquia - República Checa já ninguém me tira.
O futebol é a nossa desculpa para sermos felizes. Jorge Valdano
1 Comments:
Prezado M.
Estou fazendo uma pesquisa sobre o jornal "A Bola". Moro no Brasil e tenho na Internet a minha melhor ferramenta para tal.
Pesquisando cheguei até o seu blog e achei informações relevantes no que você escreveu em maio de 2005.
Você poderia me ajudar me dando informações sobre o jornal "A Bola"? Como o que você escreveu sobre as mudanças no formato do jornal.
É pouca coisa que não consigo achar na Internet.
Pode ser?
Abraço.
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