A cruz de John Terry
Terry vê o filme outra vez. Van der Sar já caiu para o lado errado, é só meter no outro. Enquanto pensa, o pé esquerdo dói-lhe. Escorrega-lhe. Pára de pensar, pensa a meia dúzia de banalidades que o treinador e colegas lhe disseram. Tudo está bem. E depois volta a pensar e o pé esquerdo dói-lhe. Olha para o pé. Pisa o chão com força com o pé esquerdo e não escorrega. Pensa porque é que não foi assim, porque é que não pensei nisto antes? e volta a olhar para o vazio. Van der Sar já se levanta a festejar.
Sempre gostei do drama dos penalties, não tivesse sido o Itália 90 o meu primeiro Mundial. Sou demasiado novo para me lembrar da alarvice do Veloso e do estúpido do Silvino que não adivinhou um lado.
Há no momento dos penalties todo um fado que se desenrola. Quem se lembra de quais foram os italianos que marcaram contra o Brasil em 94? E quem não sabe que Baresi, Massaro e - claro - Robby Baggio falharam?
Como dormem Aldo Serena e Donadoni quando pensam em Goycochea?
A Terry espera-lhe um pesadelo que dificilmente apagará. Stuart Pearce, depois de mandar a bola para as nuvens em 1990 contra a Alemanha nas meias finais teve que esperar 6 longos anos até marcar não um, mas dois penalties no Euro. Se no primeiro, contra a Espanha, sorriu e venceu o fantasma, no segundo, contra a mesmíssima Alemanha, chutou-o para a rede e devolveu-o a Southgate.
Mas para Terry, só outra final com o Man Utd, consigo a poder marcar o decisivo é que apaga o que se passou. A queda deve-lhe aparecer no pensamento como uma metralhadora. O pé escorrega e volta para trás, o pé escorrega outra vez e a mesma imagem repetida até à eternidade, o golpe seco da anca no chão e a explosão de alegria dos adeptos rivais a emplodirem-lhe o cérebro.
Raúl foi tri-campeão europeu pelo Madrid, mas ninguém lhe perdoa o penalty que falhou contra os franceses, aos 90`, com 1-2 no marcador, nos quartos de final do Euro 2000. (Aliás, até na sempre parcial imprensa de Madrid apareceu um cartoon venenoso, com o avião da selecção espanhola a regressar a casa e a ver a bola de Raúl a passar ao lado...)
Porquê eu? deve massacrar-se Terry. A cruz vai ficar sempre consigo. E Terry perde o seu olhar outra vez, tenta pensar na vida, que há coisas piores, que aquilo era só um penalty, mas dói-lhe o pé, dói-lhe a anca de ter caído e quando dá por si, teve outro arrepio na espinha.
Sempre gostei do drama dos penalties, não tivesse sido o Itália 90 o meu primeiro Mundial. Sou demasiado novo para me lembrar da alarvice do Veloso e do estúpido do Silvino que não adivinhou um lado.
Há no momento dos penalties todo um fado que se desenrola. Quem se lembra de quais foram os italianos que marcaram contra o Brasil em 94? E quem não sabe que Baresi, Massaro e - claro - Robby Baggio falharam?
Como dormem Aldo Serena e Donadoni quando pensam em Goycochea?
A Terry espera-lhe um pesadelo que dificilmente apagará. Stuart Pearce, depois de mandar a bola para as nuvens em 1990 contra a Alemanha nas meias finais teve que esperar 6 longos anos até marcar não um, mas dois penalties no Euro. Se no primeiro, contra a Espanha, sorriu e venceu o fantasma, no segundo, contra a mesmíssima Alemanha, chutou-o para a rede e devolveu-o a Southgate.
Mas para Terry, só outra final com o Man Utd, consigo a poder marcar o decisivo é que apaga o que se passou. A queda deve-lhe aparecer no pensamento como uma metralhadora. O pé escorrega e volta para trás, o pé escorrega outra vez e a mesma imagem repetida até à eternidade, o golpe seco da anca no chão e a explosão de alegria dos adeptos rivais a emplodirem-lhe o cérebro.
Raúl foi tri-campeão europeu pelo Madrid, mas ninguém lhe perdoa o penalty que falhou contra os franceses, aos 90`, com 1-2 no marcador, nos quartos de final do Euro 2000. (Aliás, até na sempre parcial imprensa de Madrid apareceu um cartoon venenoso, com o avião da selecção espanhola a regressar a casa e a ver a bola de Raúl a passar ao lado...)
Porquê eu? deve massacrar-se Terry. A cruz vai ficar sempre consigo. E Terry perde o seu olhar outra vez, tenta pensar na vida, que há coisas piores, que aquilo era só um penalty, mas dói-lhe o pé, dói-lhe a anca de ter caído e quando dá por si, teve outro arrepio na espinha.
2 Comments:
M. eu, infelizmente lembro-me bem de 1988. E ainda hoje digo "Oh veloso, chuta para a direita".
Quanto a este penalty, sabes a nossa conversa sobre o doloroso penalty do Paneira em 1994 que tu dizes (e eu acho que com razão) que o Paneira se desconcentrou ao ir pedir o 2o amarelo para o Asprilla em vez de se ir concentrar na marcação do penalty ?
Eu fiquei com o feeling que o Terry falhava, nao quando ele apareceu, mas quando já perto da marca começou a arranjar a braçadeira de capitão, como alguém que queria ficar bem na foto a festejar o penalty decisivo. E se há alguem que não merecia....
Excelente post, como sempre.
Eu acho que a razão para esta final ter caído para o Man Utd, não esteve no Terry (um grande capitão que merecia ser símbolo de outro clube), está sim no Chelsea.
Eu odeio o Chelsea, é uma empresa, repara que não há um único jogador que possa dizer que está lá pelo orgulho de estar num grande clube.
E a taça das orelhas grandes tem um significado histórico e mítico demasiado grande para poder ser "comprada".
Poucos segundos antes dos penaltys começarem, a transmissão mostrou o Abramovich e o comentador inglês da ITV disse algo como isto:
"What do you get to the man who has everything?
This. You can't buy this"
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