Friday, December 14, 2007

Do Benfica - Porto de 92/93 até aos dias cinzentos de hoje. Reflexões de um fanático racional.

(para o Isso me envaidece..., pelas milhares de conversas Benfiquistas que já trocámos)

Tinha 9 anos e estava na cozinha, a ouvir o jogo na rádio. A tensão do jogo sentia-se. Lembro-me que estava sozinho e que me mexia de um lado para o outro, sempre nervoso quando não tínhamos a bola. Sentia-me o corpo todo também a jogar, enquanto olhava para cima do frigorífico, à espera que o rádio me desse boas novas. Sentia-me mal, como se também eu sentisse a pressão do antigo tribunal das antas.
Timofte marcou de livre para meu desespero. O Benfica, com 10, empatou por Mostovoi mesmo à beira do fim. Os 30 minutos de prolongamento foram um massacre azul e branco como escrevia o Record (penso eu) no dia a seguir e acabei o jogo a suar, cansado, tanto que nem consegui logo contar o jogo ao meu Pai quando chegou a casa.
Uns dias depois, o Benfica, numa doce exibição (penso que no jogo de apresentação do Futre) ganhava 2-0, com um golaço do Profeta Isaías e um penalty de Yuran.
Vi os dois jogos na RTP memória, há uns dias, e foi como percorrer 14 longos e dolorosos anos.
O futebol era diferente e, para mim, bem melhor. É certo que os 14 anos a perder ajudam, certamente, a tal avaliação. Mas mesmo para os azuis, há ali uma mística, um jogar "à Porto" que nem os de Mourinho tiveram. O futebol era diferente. O português então, nem se fala. Sem a lei Bosman, os três grandes portugueses e mesmo o Boavista, eram temidos na Europa. Os Benfica - Porto e Porto - Benfica eram escaldantes, era uma coisa demasiado séria para poder ser recordada sem a tensão daquela tarde nas Antas e na minha cozinha.
O Benfica alinhou nas Antas com Neno, José Carlos, Mozer, Hélder, Veloso, Schwartz, Kulkov, Isaías, Paneira, JVP e Rui Águas. Chega a doer, mas a doer mesmo, que ainda restavam no banco apenas e só Paulo Sousa, Rui Costa, Yuran, Mostovoi e ainda nessa época Futre. Pensar que José Carlos era o elo mais fraco da equipa, dado que nos enterrou em Camp Nou, é uma brincadeira de mau gosto. Nos anos negros e até hoje, só um rapaz que hoje joga num clube espanhol talvez tenha feito tão bem o lugar. Quanto ao resto, estamos a falar de craques.
Aqueles que levam gente ao estádio, que fazem do futebol um desporto mágico.
Mas o meu respeito por aquele jogo engloba uns rivais que - apesar de toda a "fruta" que os fez subir na vida - eram gente que jogava com uma garra deles, para defender os deles. O Porto daquela altura era uma equipa cínica, com uma defesa dura e com a dupla Kostadinov/Domingos, que tanto ódio me deu.
Vi aqueles jogos e senti uma coisa diferente. Um Benfica - Porto era um jogo que os jogadores sentiam, que era jogado nos limites, com entradas inacreditáveis, com ódios pessoais entre os jogadores. O nervosismo do jogo era pessoal, era como se não gostassem mesmo uns dos outros. Como dizem os espanhóis, havia morbo. E isso dava prazer, era único. Os golos não se festejavam para a televisão, festejavam-se porque marcar-lhes é a melhor coisa do mundo.
O futebol mudou. Muito. Muitíssimo. As equipas portuguesas deixaram de ser os colossos que eram, a globalização chegou aos estádios e um Benfica - porto (agora já com minúscula) como o que perdemos já não é o mesmo. A rivalidade existe, mas não é tão romântica. Quaresma também é odiável, mas ao contrário de Kostadinov, não jogou nos verdes. Rui Costa e Baía ainda continua nas fileiras, mas já velho. Baía ainda começava a carreira naqueles jogos e foi a última recordação desses tempos. Mas mais que isso, com a lei Bosman acentuou-se uma diferença grande entre eles e nós. E em 92/93, isso já se via.
Por incrível que pareça, esse Benfica de craques estava em crise. A época foi marcada por expulsões e indisciplina, ganhou-se a Taça, mas a crise financeira era tão gritante que Pacheco e Sousa fugiram no Verão. Eles não tinham tantas estrelas, mas eram organizados, tinham um estilo. Com esse filtro de selecção que foi a Lei Bosman, nós caímos e eles subiram.
Aqueles tempos não vão voltar. Paneira, Semedo, Couto e Mozer são personagens do nosso imaginário, para recordar nos jantares de revivalistas. Mas é possível, num futebol vendido ao capital, que o Benfica possa voltar a ser forte e consistente como os azuis são. Basta gestão e organização. Quando o futebol passa a viver de dinheiro, o facto do Benfica ser uma marca forte é um bónus que bem aproveitado, fará que com que o Benfica, darwinisticamente, se chegue outra vez à frente. E para isso é preciso calma e organização. É preciso deitar fora o populismo do "melhor plantel dos últimos dez anos", é preciso agarrar todo aquele que possa ser um símbolo, é preciso um director desportivo, é preciso um novo contrato televisivo. É precisa a disciplina que já em 93 não havia e eles tinham, é preciso calma quando os reforços chegam (a propósito da contestação inicial a Cardozo, alguém se lembra da primeira temporada de Liedson?), é preciso não trocar de treinador todos os anos.
Estes 14 anos passaram dolorosamente. Hoje continuo a ser um doente do Benfica. Continuo a sofrer, a ficar lixado com tudo. Mas a racionalidade tem disto, faz-nos ver coisas clarinhas, que aos 9 anos não se percebem. O Benfica é uma paixão. É uma cegueira. De besta a bestial, aqui, é em segundos. Feitos em cacos, com uma equipa de miúdos e com o único jogador verdadeiramente desequilibrador com 35 anos, acreditamos. Porque somos o Benfica.
Não quero que o Benfica perca a sua mística. Não quero deixar de ser o clube do povo. Adoro isso. Mas quero que o Benfica seja bem gerido. Quero que nos adaptemos definitivamente aos tempos e voltemos a ser o Benfica que marca golos, que mete medo. O Benfica que ganha.

Monday, December 03, 2007

Benfica - andrades: Luís Filipe vs. Bidon, estudo comparativo

Depois do banho de bola (sim, banho de bola, não há outro nome) de sábado e de ter passado todo o caminho para casa a falar mal do número 2 do Benfica com todos os sócios que encontrei, resolvi fazer o seguinte estudo comparativo: quem teria jogado melhor no Benfica - porto, Luís Filipe ou um bidon (é assim que se escreve?)?
Vou tentar ser o mais imparcial possível e lembrar-me de todos os lances marcantes de Luís Filipe no jogo:
- 1º minuto de jogo: centro de Luís Filipe para falhanço de Nuno Gomes (5 golos numa época que está a ser excepional, tendo conseguido falhar uma oportunidade claríssima com o ceportém e duas com os andrades, oportunidades decisivas para o decorrer - arrisco-me - do campeonato). O bidon não conseguiria um cruzamento tão bom, admito. Luís Filipe 1 Bidon 0.
- Os três ou quatro cruzamentos que Tarik sacou facilmente do seu lado. Arrisco-me a dizer que Tarik conseguiu semrpe cruzar sem oposição do Luís Filipe. Com um bidon, havia a hipótese de ele bater lá uma vez. Vantagem para o bidon. LF 1 Bidon 1.
- Tentativa de passe fácil na linha, na primeira parte, para um contra ataque. LF, sozinho, conseguiu mandar a bola fora. Um Bidon conseguia, no mínimo, dar a bola ao central ao lado. Mais uma vantagem do Bidon, que vira assim o resultado. LF 1 Bidon 2.
- 2ª parte: lance clássico que mede a inteligência de um defesa direito: contra ataque adversário pela esquerda com centro para o segundo poste. Quaresma falhou o golo com LF a milhas. Um Bidon teria percebido melhor o lance. LF 1 Bidon 3.
- Tentativa de drible de Luís Filipe a Fucile, um lance que merecia todo um estudo psiquiátrico desta personagem. Fucile foi abalroado, na medida em que achou inocentemente que LF podia ser perigoso se estivesse sozinho com a bola. O drible do Bidon seria meigo e teria maiores probabilidades de perigo. LF 1 Bidon 4.

Por último: um Bidon com a camisola do Benfica era uma coisa previsível. Sabíamos que podia ser perigoso para o fora de jogo, mas sabíamos que era preciso compensar aquele lado. E não havia o risco de alguém lhe dar a bola na esperança que algo de bom pudesse acontecer. Grande vantagem para o Bidon: 1-5.
Proponho então, que se não pudermos ter mais nenhum jogador naquela posição, que a defesa do Benfica tenha além de Leo, David Luíz e Luisão, um Bidon. Penso que saímos a ganhar tanto em consistência defensiva como na capacidade ofensiva.
Luís Filipe é o responsável por aquelas teorias em que se acredita que é possível jogar melhor com 10 do que com 11.